quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Histórias e causus da região ôncôtô








Já traduzindo pra quem não é conhecedor do vocabulário mineiro, "ôncôtô " quer dizer, "onde que eu estou".

Estou na região de Savoie-Alpes Franceses, leste da França.

Região de estações de esqui, perto de Megève, Chamonix, Flumet, Albertville, Mont Blanc... de uma beleza sem fim, tanto no inverno quanto no verão.

Quando se vem pra essas bandas por pouco tempo, tipo um ou duas semanas pra esquiar ou passear no verão, não dá tempo de conhecer as histórias e viver realmente o dia-a-dia do povo, como eu tenho a sorte de viver há muitos anos. Venho e planto por 1 ou 2 meses sem a menor cerimônia; e ainda me convidam pra voltar. Povo mais hospitaleiro, impossível, e mineira mais folgada também!

Então, estando aqui agora, me lembrei de uma história, um causu interessante ouvido de outras pequenas visitas...rs. E contarei outros. Tem um monte.

Quando andamos pelas ótimas estradas francesas, mesmo as secundárias, com todo o conforto e segurança possíveis, não imaginamos que, há pouco mais de 60 anos, isso aqui era uma região bem diferente, com todas as dificuldades como qualquer interiorzão do nosso país.

Sem estradas, só caminhos, muita região sem luz elétrica, sem calefação decente no inverno, sem socorro imediato em caso de avalanche ou mesmo de um problema de saúde.

Pensamos que tudo sempre foi lindo como uma figura de folhinha de antigamente, com a neve branquinha e vaquinhas procurando um verdinho no meio de tanta neve e com sineta no pescoço.

As vacas continuam ... e com as sinetas.

É uma região de criação de vacas leiteiras, região do queijo Reblochon que é uma delícia das delícias derretido no forno, com batatas. Especialidade do lugar.

Então, o povo que morava nas montanhas, nos cafundós mais altos, de acesso mais difícil impossivel, quando ia chegando o inverno, armazenava o mais que podia, tudo, tudo que ia precisar pra se alimentar e viver durante os longos meses por vir.

E ficavam durante meses todos juntos, um aproveitando o calor do outro, bichos e homens, dentro de casa, literalmente.

Aí é que entra a história que, pra mim, quer dizer, pra nós que não sabemos o que vem a ser 2 metros de neve cobrindo a porta por meses seguidos, jamais poderíamos imaginar.

Se, por um azar do destino, os caminhos estivessem totalmente tomados pela neve, não tinha santo que levasse um médico a estes lugares, então, quando alguém dava o azar de ter um problema sério, era rezar pra não morrer, porque, se viesse a morrer, sabe o que faziam com o corpo? Colocavam no teto da casa. Imagine um familiar no teto? Mortinho da Silva esperando o inverno passar?

E lá ficava a vítima esperando a poeira baixar, quer dizer, a neve derreter pra ter um enterro decente.
E quem quiser que conte outra...

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