sábado, 5 de junho de 2010

Como fazer amigos e arrebanhar pessoas - final

Bom, resolver que seria uma feijoada, foi a parte mais fácil. Quem não gosta? E, afinal, a festa seria pra brasileiros. Poucos franceses (pensou ele).

Começou convidando os amigos do trabalho e, aí, já ficou engraçado porque, quando os franceses foram convidados (ele só soube disso depois), ninguém entendia como ia ter uma festa, se ele não conhecia quase ninguém. Pra eles, uma pessoa que morava em um país, há somente 6 meses, como poderia arranjar quorum pra festejar o que fosse ! Ia ficar muito sem graça, festa com meia dúzia de gatos pingados.
E foi convidando amigo, e convidado convida amigo (como todo bom brasileiro) e nós organizamos as compras, arrumamos a casa e foi, aí, que alguém se lembrou da vizinhança.
Mesmo sendo durante o dia, francês não gosta de ser incomodado, nem de barulho e festa brasileira sem barulho, sem música e sem riso alto, não existe.

Foi, então, que meu amigo teve uma grande idéia : fez um pequeno cartaz e colocou do lado do portão, bem na entrada da cour.
E, no cartaz, ele convidava todo mundo pra festa. Se não podemos com eles, juntemo-nos a eles. Seria difícil alguém ter coragem de implicar com a festa porque, afinal, todos foram convidados.
E foi muito interessante, porque começaram a chegar as pessoas amigas e, junto, foram chegando os moradores do prédio. Francês é um bicho muito engraçado; como a festa era "em casa", o povo não se deu ao trabalho de se "arrumar"; vieram, simplesmente, como estavam em casa. Tinha gente de chinelos e até descalça, porque a maioria anda assim em casa e trouxeram, de presentes, coisas que já tinham. Rimos muito ! Tinha saco de nozes que tinha sobrado do Natal, cerveja que tava na geladeira, saco de passas, batata-frita... e virou uma massaroca. E todos foram se apresentando e conversando ; vizinho que só dizia bonjour pro outro vizinho, passou a saber o nome, onde trabalhava, e dá-lhe caipirinha, e neguinho ficando tonto e dançando samba, no maior desengonçamento do mundo... e come feijão preto e come rabinho e orelha de porco e come mais arroz e mais laranja, e bebe mais caipirinha e, eu, assustada, disse "esse povo vai passar mal" e ninguém nem aí.

Só sei que a coisa varou dia, varou parte da noite e que, a partir desta data, não mais existiu somente bonjour ou bonsoir entre estas pessoas. Era um tal de bate-papo, sempre que sobrava um tempinho, venha tomar um café, aceita um pedaço de bolo? Um começou a regar as plantas do outro quando ele viajava, no aniversário sempre estavam juntos, e o bar do meu amigo virou um ponto de encontro.

E, essa amizade, dura até hoje, muitos se mudaram, compraram casas em outros bairros, mas continuam mantendo contato.
E nós somos assim mesmo. Essa facilidade de fazer amigos e arrebanhar pessoas vem no sangue.

Até hoje, quando tô indo pra lá e alguém me pergunta onde vou ficar, sempre respondo: "minha tralha vai ficar na casa de fulano" e, com minha mochila, vou indo e ficando onde der. O que não falta é casa de amigos, Dieu merci.
Como dizem os franceses : eu e minha baise-en-ville. Não sabe o que venha a ser? Eu explico (não devia, mas conto pra você que é meu chegado).
É uma mochila com o necessário "pra se passar a noite fora" digamos assim. As colegas todas usam... e eu também... hehehe...

Me esqueci de um detalhe ! Só um morador do prédio não foi à festa : um cara, por sinal gato, que tinha um cachorro e cara de nenhum amigo. Este nunca se integrou com o resto do povo.

16 comentários:

  1. Hhheeeee, finalmente o final.
    Belas e reais histórias da vida.
    Valeu a espera, mas não faça mais isso.
    Bjs.

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  2. pois é Eidia, oi realente muito bom esse e outros que vieram, isso aconteceu ha uns 18 anos atraz e tenho contato até hoje com a Narrymane (lembra-se ?) o Patrick, e alguns daqueles moradores.
    deviam ter umas 30 pessoas na tal festa
    bjs

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  3. Tá aí o dono da festa pra certificar o fato...bjos meu amigo e estamos te esperando de volta pra casa....passa já pra casa!!!!!!!!!
    rs
    bjos

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  4. Chérie, muito bom o dono da festa se manifestar, mas você não precisa usar este comentário como a confirmar a verdade do que postou.
    Seus relatos são quase palpáveis de tão verdadeiros.
    Bjs.

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  5. Isso pra vc meu bem, que nem me conhece, me ama e crê em mim... tem pessoas que já viveram tão pouco na vida, que não acreditam que o outro (no caso, dio) tenha tanta coisa pra contar. E olha, que ainda não to nem na metade...rs...
    bjos

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  6. Ufa, contou tudo! Que isso nao se repita, suspense nunca mais!!! kkkkkkk
    Esse medo dos franceses em errar é que é o bicho, qdo eles veem que com a gente nao tem disso, é só alegria, eles se soltam e se apaixonam pelo nosso jeito.
    Ótimo causu.
    Bj
    Rejane

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  7. Vc disse tudo, Rejane, depois que eles se abrem, viram um chicletes no nosso pé. Com todo amor.
    bjos

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  8. Chérie, nem autor de novela conseguiria "inventar" tantos causus.
    Se alguém não acredita, é devido a um dos flagelos da humanidade, a inveja.
    Não fazem e criticam quem realizou.
    E ainda não tá nem na metade e já está partindo prá nova aventura.
    Venha de lá que estamos aguardando.
    Bjs.

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  9. E assim vcs quebraram o gelo e a fama dos franceses. Muito bem.
    bjim

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  10. Vou fazer diário de bordo, JC. Levo junto o lepitopi e câmera....vamo ver no que vai dar.
    bjos

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  11. Eles são façim, façim, Maga...só temos que ter um tico de calma. Somos um povo muito afoito. Assustamos os gringos.
    bjos

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  12. Eu falei que o prazer voltava com o final da história.
    Bidu!
    A-DO-REI!!!
    beijinho

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  13. Esse causu me fez lembrar outros. Contarei essa semana.
    bjos meu bem

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