Já vejo você dizendo:
- Até sendo assaltada ela encontra uma graça!
Mas é verdade. Quando vejo amigos da Regina Casé dizendo, que se ela vai na padaria logo volta com uma história mirabolante, não desacredito. Acho, que é porque a gente observa, fica de olho nos fatos e nas pessoas.
Ontem mesmo no supermercado fiquei pondo atenção num funcionário explicando pro outro o porque que a gente chora. Isso na visão da religião dele. Muito bom. Mas este caso eu conto depois. Voltemos ao assalto.
Saí de casa prontinha pra ser assaltada. Como manda o figurino. Cordão de ouro. Um? Não dois. Gosto de fartura. Um anel também de ouro em cada mão, um até com um brilhantinho caprichado. Relógio. Sem valor. Nem precisa, o povo aceita qualquer marca. Não me lembro se tinha alguma grana. Talvez não muito. Mas nunca ando zerada. Tava indo pro trabalho e era uma sexta-feira. E distraída. O assaltante tá sempre atento ao seu trabalho. A vitima sempre babando.
Cheguei na Empresa que era nossa cliente, e fui subindo tranquilamente a rampa pra pedestre onde tinha um portão pra passar à pé, ao lado do grande portão pra quem vai de carro.
Veio um rapaz pra abrir com uma pasta na mão, e me perguntou onde eu tava indo. Disse que ia trabalhar. Aí olhei pra dentro e tinha um outro zé descendo o cacete no porteiro. Dando murros, chutes e o porteiro caído na grama. A lesada aqui ainda não pegando o espírito da coisa, gritou com o que batia:
- Ô ....páre com isso, você vai machucar o cara. Ficou maluco?
Nisso, "o meu" ( a partir daí ficou sendo o meu) abriu a pasta e tirou um revolver e me me mandou entrar. Tinha mais um outro em pé assistindo a pancadaria no porteiro.
O mané me conduziu delicadamente com o braço em torno do meu ombro, falou alguma coisa pro que batia, que devia ser o chefe daquela trapalhada toda, e me disse:
- A senhora fique calma. Não queremos nada da senhora. Queremos a grana da Empresa ( sexta-feira dia de pagamento).
Ficar calma é ótimo! Pensei. Enfiei a mão no bolso e me livrei de um anel. Ah! Eu tinha pulseira também, mas o cara realmente não olhava pra mim. Só me abraçava forte. Acho que eu até ajudei pra ele se equilibrar. Imagino que foi o primeiro assalto deles. Estavam muito nervosos.
Nisso passou um carro, subiu, e nem perceberam a minha cara de: ô veja o que tá rolando!!!
Não sei por que cargas d'água, nem de onde me veio a idéia, mas virei pro meu assaltante e falei:
- Me solta, que vou vomitar!
No que o cara me soltou na hora. Ao invés deu dar meia volta e voltar pra casa, já que já tava bem de emoções pro dia, não! Começei a subir a rampa pra ir trabalhar. Pode? E nem vomitei, porque falei aquilo só Deus sabe porque. Não tava com vontade.
Fui subindo devagar e pensando. Porra! Nunca fui assaltada, e na primeira já vou morrer com um tiro pelas costas. Mas não parava. Continuava andando e esperando o tiro. Cheguei no final da estradinha e tinha outra portaria. Falei pro segundo porteiro:
- Seu colega tá apanhando lá embaixo e vão assaltar a sua Empresa. Ele me perguntou onde eu ia e me pediu identidade...Juro!!! Continuei andando sem dar importância pra ele (tem dó!) e entrei no primeiro prédio. Me escondi embaixo de uma escada, peguei o celular e liguei pra polícia. Falei o que tava acontecendo e como não sabia o nome da rua, dei as referências. O mané da polícia na maior calma:
- Mas a senhora não sabe o nome e número da rua?
Falei que tava fazendo a minha parte, não sabia, isso era probelma dele e desliguei com um vai tomar no centro...
Demais, né não?
Pra finalizar o causu, não sei quantos entraram, foram ao escritório, não conseguiram roubar a grana cobiçada, só poucas joias e celulares dos funcionários da secretaria e se mandaram. A polícia chegou muuuito tempo depois. Nunca fui interrogada.
Fui trabalhar e na hora do almoço só deu eu. Todo mundo querendo saber do causu e ainda me gozando:
Ô empata assalto! Vem cá contar pra gente!
Penso, que "o meu" deve ter ficado puto porque a coisa não rendeu nada e ainda não aproveitou do que eu tinha pra oferecer.
Bem feito!