Me lembro nitidamente de como recebi a notícia. Estava ajudando uma amiga com sua filhinha de poucos meses. Ela tinha voltado a trabalhar e eu fiquei com a pequetita esperando a vaga em uma creche. Estava em Paris.
Todos os dias eu saía com ela pra dar uma voltinha, tomar um sol, brincar. Naquela terça-feira, eu estava chegando em casa depois de um destes passeios, subindo pelas escadas cheia de peso - carrinho, embondinho, brinquedos - até o terceiro andar ( em se tratando de Paris, sem elevador, claro! ). Quando estava abrindo a porta, ouvi o telefone tocando e larguei a tralha toda, coloquei a pequena no berço e atendi. Escutei minha amiga com uma voz de desespero, misturando francês com português:
- Atingiram o Pentagone, acertaram o Pentagone!
- O que? Acertaram o que?
Eu não entendia o que ela dizia. A mistura das línguas já é uma peleja, ainda mais com ela falando super nervosa. Como eu podia entender "acertaram o pantagôni"- que é como se pronuncia Pentágono em francês. E ela:
- Liga a televisão que você vai ver.
E a televisão não foi mais desligada durante dias e dias. Parecia uma compulsão, uma hipnose. A gente não conseguia parár de ver as cenas repetidas à exaustão. Acho que foi uma forma de digerir aquela loucura toda.
Me lembro de estar assistindo um dia e apareceu um grande amigo meu, pedindo notícias de uma prima dele que trabalhava em um dos prédios e fiquei tão nervosa que não conseguia lembrar o nome do meu amigo. Eu conhecia a prima dele, que nunca foi encontrada.
Mas, vamos pro dia seguinte, quarta-feira. Era meu dia de folga, então fui até o centro da cidade resolver coisas minhas. Paris parecia uma cidade fantasma.
Assim como Londres, Madrid e outras grandes cidades que já sofreram com ataques terroristas, a cidade estava em alerta vermelho. Já não existia uma só lixeira pública, as ruas estavam cheias mas não de pessoas e turistas, tão comuns naquele vai e vem. Era um vai e vem de carros de polícia, sirenes e policiais cheios de armas e cães pelas ruas.
Ninguém tinha idéia do que tava acontecendo ou de qual seria a próxima vítima. Quanto a isso, todos estavam certos; outra cidade seria atacada - o quê felizmente não aconteceu (pelo menos nas mesmas proporções).
Eu tenho cá pra mim que, nem os próprios planejadores daquela coisa, tinham idéia que ia dar tão certo. E mais, imagino que tudo foi além do que eles imaginaram.
As poucas pessoas que estavam na rua, estavam assustadas e os olhares se cruzavam sempre como se qualquer um fosse suspeito.
Me lembro, também, que, dias depois, já em NY, estava em uma estação de metrô - daquelas estações de superfície - e passou um avião, logo depois outro, e todos olharam pra eles, e ficaram seguindo os dois com os olhos, até eles sumirem. Pânico total.
Presenciei também o tanto que as pessoas estavam tensas e com os nervos à flor da pele. Se uma pessoa chamasse a outra um pouco mais alto, era motivo pra todos olharem assustados. Qualquer grito - coisa mais comum do mundo em uma cidade grande - nem que fosse grito de "Cuidado! Atenção!" era motivo pra sobressalto.
Um horror !
Me preparando agora pra passar uns tempos, de novo, nas terras do tio Sam, me lembrei deste causu, nada alegre, nada engraçado, apenas mais uma experiência que tive pelos Caminhos por Onde Andei.