Como fiquei em Paris na casa de amigos que moram perto de Orly, comprei meu bilhete pra vir pra NY, saindo de lá.
Tudo bem, vôo diurno - ando preferindo - todo voo é uma canseira mas, pelo menos, você chega na hora de ir pra cama, pra uma verdadeira cama, que é o sonho de todos que não estão na primeira classe.
Os amigos da Regina Casé dizem que ela vai à padaria, embaixo da casa dela, e volta com histórias mirabolantes. Comigo não é muito diferente. Não acho que as histórias não aconteçam com todos, a diferença tá em prestar atenção aos fatos. De repente, uma besteira pra você, pra mim vira uma história -
como o meu voo ontem.
Meu querido amigo insistiu em me levar ao aeroporto e saimos de casa quase cinco da matina - só amigo mesmo pra insistir num programa de índio deste : levantar às 4 e meia da madruga pra levar o outro no aero, mas tudo bem. Meu vôo tava marcado pras 7 horas, saindo de Orly pra Barcelona e de lá pegava o outro pra NYC. Chegamos com o aeroporto ainda criando vida e se espreguiçando. Povo bocejando e abrindo as portas dos cafés, restaurantes, lojas.
Enfim, o aero se preparando prum novo dia..
Fomos pro balcão da Air France, todos muito gentis e a moça com meu eticket e passaporte em mãos, muito gentilmente me comunica que meu vôo foi cancelado. Meu amigo, brincando, ameaçou uma briga, dizendo que não me levava de volta pra casa nem fudendo; tava lá justamente pra ter certeza de que se livrava mesmo do encosto...rs.
E a moça continuou com uma cara de xícara, dizendo:
- Foi cancelado.
E eu continuei com minha cara de cliente dizendo:
- E o kiko? Minha parte foi feita : comprei o bilhete, paguei, tô aqui há tempo e a hora, então não tenho problema algum pra resolver, já vocês...
Numa hora dessa, nem esquento a cabeça. Juro! Tô nem aí! Quem tem que esquentar são eles.
Vai prali, vem pra cá, volta pra lá e, finalmente, fica aqui. Depois de alguns bons minutos, conseguiram me encaixar num voo que saia do Charles de Gaulle, à uma e meia da tarde. Tudo bem ! Tô de férias e aposentada; e cansada. Qualquer coisa que possa ficar sentada fazendo nada tá me agradando e já fui avisando ao meu amigo.
- Nada de me levar naquele c. de mundo - literalmente cortar Paris de sul a norte. A moça me informou o que eu já sabia : tem um ônibus da Air France que faz este trajeto. Falei pra ela.
- Tudo bem, pode me dar a passagem, que vou pra lá.
- Vou ver se consigo.
E eu brinquei, séria.
- Você vai conseguir. Eu não tenho grana pra ir.
Não só conseguiu, como me deu um outro vale pra tomar meu café da manhã lá.
A gente nestas horas, não pode dar uma de "deixa que eu resolvo"; deixa que eu resolvo, se fui eu a causadora da cagada. Nesse caso, resolvam vocês. Ninguém me mandou imeio avisando do cancelamento.
Ok. Fui pro CDG, tomei meu café e esperei a minha revoada. Contei e postei as fotos ontem.
Caindo já pra dentro do avião.
Sempre gosto de me sentar no corredor. Não gosto de janela, me sinto sem ar, espremida entre meus companheiros de viagem. Como conseguiram meu assento, de última hora, fiquei torcendo pra não ser a "do meio" entre 4 pessoas.
Era um assento de corredor. Chic.
Aí entra outro causu.
Fileira de 3 cadeiras. O moço do meio - um americano ( imagino) - de uns 2 metros ou quase e nem vi o colega do canto, tão espremido que tava. Ele parecia um ogro, um caubói, só que sem chapéu; aqueles matutões imensos. A perna direita dele ocupava, sem exagero, a metade da minha cadeira. Me sentei e quase me deu crise de riso. Fiquei parecendo uma minininha muito comportada com as perninhas juntinhas, completamente espremida. Me levantei e chamei uma colega aeromoço. Impressionante como esta profissão atrai as amigas.
Falei pra ele na maior calma:
- Por favor se, por acaso - o avião tinha gente saindo pelo ladrão - tiver um outro assento, gostaria de trocar. Não tem espaço pra mim e nem pro moço que tá do meu lado. Olhe como ele não pode se mexer; as pernas dele são muito longas.
A amiga, com cara de songa vira e me diz:
- Madame, todos tem direito a viajar, mesmo os de pernas longas.
Demorei uns 3 segundos pra rodar minha baiana, que já começou com umas 4 anáguas engomadas.
Disse pra ele:
- Vou repetir, porque acho que você não entendeu o que eu disse:
- Ele tem as pernas longas, tem direito de viajar, eu também tenho, porque compramos nosso bilhete da mesma forma - só que eu comprei um bilhete pra vir sentada com a bunda toda, não comprei pra meia bunda.
Ele olhou pra mim, com cara de "não acredito o que acabei de ouvir" e disse que o avião estava lotado.
Eu disse, obrigada e imediatamente chamei uma outra aeromoça.
Vendo esta foto aqui no Google, pensei: eu poderia ter tirado uma foto das pernas do moço. Enviaria pra Air France. Mas, até fazer o joão grandão entender o porquê, acho que as coisas iriam piorar.
Já comecei dizendo:
- Por favor, assim que entrar o último passageiro, olhe se pode me trocar de lugar. Falo por mim e pelo moço que não abriu a boca até agora, talvez pela total falta de conforto e mal estar que deve estar sentindo. Olhe onde está a perna direita dele.
Ela olhou, fez uma cara de "meu Deus!" e disse : "Fique tranquila, que eu volto já".
E voltou daí a uns minutos dizendo:
- Me acompanhe, por favor.
Me deu um outro assento, no corredor e com uma cadeira vaga do lado.
Virei pro moço e falei em inglês.
- Consegui um outro lugar, se você quiser, pode passar pro meu e ficará melhor.
Ele fez uma carinha mais fôfa e disse sem sair som - tipo mímica.
-Tenkiu, tenkiu verimati.
Repetiu duas vezes.
Como eu tinha deixado meu casaco naquele lugar, voltei mais tarde pra pegar e o ogro dormia um sono dos justos; com as pernas esticadas ao longo do corredor.
Me ajeitando pra sair, quando chegamos, não acredita que a amiga veio e me perguntou como se fosse ela que tivesse resolvido o problema:
- Fez uma boa viagem, madame?
- Oui messieur, merci.
Não tava com força pra mais nada... mas que deu vontade de dizer "e não foi graças a sua boa vontade", lá isso deu.
Mas, pra quê?
Tudo bem, vôo diurno - ando preferindo - todo voo é uma canseira mas, pelo menos, você chega na hora de ir pra cama, pra uma verdadeira cama, que é o sonho de todos que não estão na primeira classe.
Os amigos da Regina Casé dizem que ela vai à padaria, embaixo da casa dela, e volta com histórias mirabolantes. Comigo não é muito diferente. Não acho que as histórias não aconteçam com todos, a diferença tá em prestar atenção aos fatos. De repente, uma besteira pra você, pra mim vira uma história -
como o meu voo ontem.
Meu querido amigo insistiu em me levar ao aeroporto e saimos de casa quase cinco da matina - só amigo mesmo pra insistir num programa de índio deste : levantar às 4 e meia da madruga pra levar o outro no aero, mas tudo bem. Meu vôo tava marcado pras 7 horas, saindo de Orly pra Barcelona e de lá pegava o outro pra NYC. Chegamos com o aeroporto ainda criando vida e se espreguiçando. Povo bocejando e abrindo as portas dos cafés, restaurantes, lojas.
Enfim, o aero se preparando prum novo dia..
Fomos pro balcão da Air France, todos muito gentis e a moça com meu eticket e passaporte em mãos, muito gentilmente me comunica que meu vôo foi cancelado. Meu amigo, brincando, ameaçou uma briga, dizendo que não me levava de volta pra casa nem fudendo; tava lá justamente pra ter certeza de que se livrava mesmo do encosto...rs.
E a moça continuou com uma cara de xícara, dizendo:
- Foi cancelado.
E eu continuei com minha cara de cliente dizendo:
- E o kiko? Minha parte foi feita : comprei o bilhete, paguei, tô aqui há tempo e a hora, então não tenho problema algum pra resolver, já vocês...
Numa hora dessa, nem esquento a cabeça. Juro! Tô nem aí! Quem tem que esquentar são eles.
Vai prali, vem pra cá, volta pra lá e, finalmente, fica aqui. Depois de alguns bons minutos, conseguiram me encaixar num voo que saia do Charles de Gaulle, à uma e meia da tarde. Tudo bem ! Tô de férias e aposentada; e cansada. Qualquer coisa que possa ficar sentada fazendo nada tá me agradando e já fui avisando ao meu amigo.
- Nada de me levar naquele c. de mundo - literalmente cortar Paris de sul a norte. A moça me informou o que eu já sabia : tem um ônibus da Air France que faz este trajeto. Falei pra ela.
- Tudo bem, pode me dar a passagem, que vou pra lá.
- Vou ver se consigo.
E eu brinquei, séria.
- Você vai conseguir. Eu não tenho grana pra ir.
Não só conseguiu, como me deu um outro vale pra tomar meu café da manhã lá.
A gente nestas horas, não pode dar uma de "deixa que eu resolvo"; deixa que eu resolvo, se fui eu a causadora da cagada. Nesse caso, resolvam vocês. Ninguém me mandou imeio avisando do cancelamento.
Ok. Fui pro CDG, tomei meu café e esperei a minha revoada. Contei e postei as fotos ontem.
Caindo já pra dentro do avião.
Sempre gosto de me sentar no corredor. Não gosto de janela, me sinto sem ar, espremida entre meus companheiros de viagem. Como conseguiram meu assento, de última hora, fiquei torcendo pra não ser a "do meio" entre 4 pessoas.
Era um assento de corredor. Chic.
Aí entra outro causu.
Fileira de 3 cadeiras. O moço do meio - um americano ( imagino) - de uns 2 metros ou quase e nem vi o colega do canto, tão espremido que tava. Ele parecia um ogro, um caubói, só que sem chapéu; aqueles matutões imensos. A perna direita dele ocupava, sem exagero, a metade da minha cadeira. Me sentei e quase me deu crise de riso. Fiquei parecendo uma minininha muito comportada com as perninhas juntinhas, completamente espremida. Me levantei e chamei uma colega aeromoço. Impressionante como esta profissão atrai as amigas.
Falei pra ele na maior calma:
- Por favor se, por acaso - o avião tinha gente saindo pelo ladrão - tiver um outro assento, gostaria de trocar. Não tem espaço pra mim e nem pro moço que tá do meu lado. Olhe como ele não pode se mexer; as pernas dele são muito longas.
A amiga, com cara de songa vira e me diz:
- Madame, todos tem direito a viajar, mesmo os de pernas longas.
Demorei uns 3 segundos pra rodar minha baiana, que já começou com umas 4 anáguas engomadas.
Disse pra ele:
- Vou repetir, porque acho que você não entendeu o que eu disse:
- Ele tem as pernas longas, tem direito de viajar, eu também tenho, porque compramos nosso bilhete da mesma forma - só que eu comprei um bilhete pra vir sentada com a bunda toda, não comprei pra meia bunda.
Ele olhou pra mim, com cara de "não acredito o que acabei de ouvir" e disse que o avião estava lotado.
Eu disse, obrigada e imediatamente chamei uma outra aeromoça.
Vendo esta foto aqui no Google, pensei: eu poderia ter tirado uma foto das pernas do moço. Enviaria pra Air France. Mas, até fazer o joão grandão entender o porquê, acho que as coisas iriam piorar.
Já comecei dizendo:
- Por favor, assim que entrar o último passageiro, olhe se pode me trocar de lugar. Falo por mim e pelo moço que não abriu a boca até agora, talvez pela total falta de conforto e mal estar que deve estar sentindo. Olhe onde está a perna direita dele.
Ela olhou, fez uma cara de "meu Deus!" e disse : "Fique tranquila, que eu volto já".
E voltou daí a uns minutos dizendo:
- Me acompanhe, por favor.
Me deu um outro assento, no corredor e com uma cadeira vaga do lado.
Virei pro moço e falei em inglês.
- Consegui um outro lugar, se você quiser, pode passar pro meu e ficará melhor.
Ele fez uma carinha mais fôfa e disse sem sair som - tipo mímica.
-Tenkiu, tenkiu verimati.
Repetiu duas vezes.
Como eu tinha deixado meu casaco naquele lugar, voltei mais tarde pra pegar e o ogro dormia um sono dos justos; com as pernas esticadas ao longo do corredor.
Me ajeitando pra sair, quando chegamos, não acredita que a amiga veio e me perguntou como se fosse ela que tivesse resolvido o problema:
- Fez uma boa viagem, madame?
- Oui messieur, merci.
Não tava com força pra mais nada... mas que deu vontade de dizer "e não foi graças a sua boa vontade", lá isso deu.
Mas, pra quê?