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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Apresento a você o filho que não tive - TUNICO

Amo o nome Antônio. Acho sonoro, gostoso de falar. E mais que Antônio sou apaixonada pelo apelido Tunico. Com u mesmo. E sempre brinquei que ia adotar um filho e colocar o nome de Tunico.
Mas no vai e vem da minha vida não tive tempo de assumir esse grande compromisso que é ter um filho.
Foi fondo, foi fondo agora passou do tempo.
Mas como sou libriana e segundo os astrólogos, "librianos não precisam de atravessar a rua pra conseguir alguma coisa, porque a coisa pula pro lado que eles estão", não é que meu sonho se realizou aqui na Índia?
A avó dessa broinha mais fofa do mundo me pediu pra dar um nome pra ele. Um nome ocidental. E já respondi chamando ele pelo nome escolhido. 
TUNICO
E como Deus é muito bom pra mim, este embondinho foi com a minha cara. Desde que nos conhecemos viramos amigos. Vou sempre na casa dele e quando venho embora tem que me levar até na rua, quando não abre o bocão querendo vir comigo. 
A mãe não fala uma só palavra de inglês, mas fala Ieda direitinho. Vai me vendo e grita:
Tunico, Ieda, Ieda, e ele vem correndo. Vem correndo e empaca. Criança indiana não se atira nos braços da gente. Temos que ir com muita calma. Adulto é pior. Quando abraço alguem a pessoa só falta morrer. Não sabe o que fazer. Este contato entre adultos não existe.
Na escola já consigo abraçar, apertar bochechas, beliscar, enfim, encher o saco de criança que é o que mais amo fazer.
E o meu Tunico, devagarinho, tá correndo pros meus braços.




Tunico e sua mamãe

A mãe tava fazendo pão e ele vendo se o fogo continuava aceso...rs






Difícil fazer uma foto legal, nítida. Ele não para um minuto!

Na porta pra dar adeus, com a mamãe, vovó e titia
Carinha triste...
Difícil deixar ele pra trás

Quem pode resistir a um olhar assim meu Deus do céu!

Aí eu faço uma palhaçada e ele volta a sorrir.
Muito fofo!

E não é que há mais ou menos um mês atrás essa pestinha caiu de cima da casa de cabeça. Não teve um arranhão, mas o coco fraturou em 3 lugares. Quase matou a gente do coração. Foi uma correria pra levar pro Hospital mais próximo que fica há uns 20km. Foi de moto com o pai e o tio.
Ficou uma semana internado em observação e sendo medicado. Quando fui visitar não sabia o que fazer. Dava vontade de pegar ele no colo, abraçar, fazer carinho, mas não podia tocar na cabeça. Foi muito difícil. Os pais grudados nele dia e noite. O Hospital, melhor nem dizer.
Comprei carrinhos pra ele brincar, helicoptero, moto, um saco de porcaria chinesa que criança adora, mas, o que ele mais gostou e comeu que até fiquei preocupada, foram as bananas. Levei biscoitos, banans e maçãs. Deve ter comido umas quatro.

 O Hospital, particular e caro, consiste em um salão grande, cheio de camas sem nem lençol, um banheiro só com privada sem chuveiro nem nada. Um médico atende todo mundo. Tem uma sala separada, mas só pelas paredes, porque dois funcionários entravam e saiam o tempo todo de lá sem nenhuma roupa ou aparato especial. Uma espécie de CTI, onde ficam bebês em estado mais grave. Realmente, os Deuses aqui trabalham sem parar!

 Tunico devorando bananas...

 O tio conseguiu distrair ele dando moedas. Adora moedas e chocolate


E como a Índia é um planeta à parte, o tio pegou ele no colo, desceu as escadas tranquilamente e foram dar uma voltinha na rua. Ele descalço, rua imunda, enfim...não é à toa que eles tem mais de 20.000 Deuses. Tem serviço demais pra turma toda!
Enquanto isso eu arrumava uma confusão com um funcionário da casa, porque fotografei tudo que pude. Radiografias, receitas, prontuário, tudo, e mandei pra uma amiga que é pediatra no Hospital das Clínicas de São Paulo. Queria saber se podia confiar nos serviços.
Só sei, que felizmente ele tá bem, feliz, brincando e aparentemente sem sequela alguma.
Bendito Anjo da Guarda de criança, e bendito seja um corpo novo pra se recuperar rápido de um tombo tão perigoso!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Uma mistura de Carandiru com Auschwitz

 Conforme escrevi no post anterior, hoje fui conhecer o Hospital do governo em Gaya.
Queria ver como posso levar pacientes que precisam de um grande Hospital, como é o atendimento,  se realmente é de graça, porque as pessoas não tem dinheiro nem pra pagar o carro.
Ontem fiquei brava, porque sempre ouvi que Hospital de graça não existe e que o que existe é muito ruim. Pensei comigo, muito ruim, mas melhor do que ficar com a perna quebrada e sentindo dor por semanas inteiras.
Você vai ver as fotos e concordar com os meus amigos. 
E pergunto.
Você colocaria neste Hospital um amigo, parente, uma pessoa que você ama?

 
 Fiquei até animada quando cheguei. Entrada normal de lugar simples
Os alunos da escola que fica no mesmo campus fazem estágio aqui

 Saguão de recepção

 Primeira visão de uma enfermaria

 Cena mais triste, mais solitária! E eu tava só no começo da visita!
Me lembrei muito de fotos dos antigos hospícios!


 
 Confesso que fiz algumas fotos cheia de constrangimento...mas sentia que precisava mostrar isso pras pessoas

 Quem vi cuidando dos pacientes foram seus familiares e amigos...vi mulheres dando banho de pano molhado, fazendo exercício com as pernas do seu doente, e não vi enfermeiras dentro dos quartos. Muitas do lado de fora, em corredores ou nas recepções de cada andar. O Hospital é bem grande. Já deve ter sido um bom Hospital há uns 60 anos atrás.
Segundo informação recebida, tem um quadro de 200 médicos

 Tinha uma senhora embaixo dessa montoeira de pano. Seus parentes trouxeram ela de algum lugar numa cama de rodinhas

Não pense que este quarto tava abandonado. Só não tinha pacientes deste lado. Do outro tava cheio
 
 Passando de uma ala pra outra e vendo prédios assim, pensei que tivessem abandonados. 
Tavam não.

 Sem esquecer de dizer que o cheiro de sujeira era muito forte.

 Isto funciona

 As pessoas trazem uma mudança pra cá...trouxas e mais trouxas,  comida pra todo lado, fogareiros, fogões nos corredores e nos quartos e todos comem em qualquer lugar, principalmente no chão

 Não sei se era dia ou hora de visita, mas é difícil saber quem é paciente ou não..um amontoado de pessoas!


 Esta senhora cuidava do seu doente com todo carinho...parecia filha e pai

 Pessoas comendo em um dos corredores e lavando os pratos em uma água mais suja impossível!
Olhe o botijão de gás com a trempe. Vi vários iguais a esse e fogareiros pequenos também,
O Hospital não oferece comida. Não sei como fazem as pessoas que precisam de regime alimentar...morrem, né? Deve ser.

 E lavam as roupas não sei onde. Pra todo lado tem roupa secando.

 Fiz quantas fotos quis e ninguém me perguntou absolutamente nada. E a procissão atrás de mim...em cada lugar que ia passando sempre juntava mais um.



 Muito resto de comida pra todo lado que olhava...posso contar nos dedos de uma mão quantas vezes já vi barata aqui na Índia. Por que será que não tem aos montes?




 Este foi o único banheiro que vi. Alagado com um lodo horroroso.  Até que pensei em entrar pra fotografar, mas teria que jogar meu sapato fora. Desisti.

 Aqui foi o pior cheiro que senti

 Me deu vontade de trazer esse senhor pra casa e cuidar dele...que desolação meu Deus do céu!


 Aqui é uma espécie de sala de espera. O povo deita enquanto não é atendido

 E a família cuida!

 Outro alagado horroroso

 Perguntei a um dos que me seguiam em procissão porque este senhor tava ali
TÁ MORTO

 Morreu e foi colocado ali até resolverem o que vão fazer. Não existe crematório elétrico em Gaya e  não tem dinheiro pra comprar madeira pra queimar então vai ser cremado com bambu. 
Em Varanasi fiquei sabendo que um corpo demora de 4 a 6 horas pra ser consumido no fogo brabo. No bambu deve demorar uns três dias.
O que pode ter feito uma pessoa que viveu uma vida fudida, pra merecer ter os seus últimos momentos nessa terra jogado em um corredor cheio de lixo depois de morto!
Quase terminei minha caminhada aí, mas ainda queria falar com o diretor do Hospital.

 Maquinário que deve estar abandonado ali há anos, pela sujeira e marcas no chão.

 Isso aí parece um almoxarifado

 Outra fiação em pleno uso

 Carro do diretor na porta do Hospital
Você pode ver o carro melhor, na primeira foto

Carneiros e cabras pastando e dormindo solenes...

Continuo amanhã pra contar a conversa com o diretor do hospital.
 Por hoje já tá de bom tamanho! 
Pelo menos pra mim.


E LÁ VAI O DIMDIM!

E o dindin que você doou vai virar Q uero ver se até segunda-feira mando o dindim dos presentes dos tiukinhos. Ainda não mandei porque tem u...