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sábado, 13 de maio de 2023

SE É QUE EXISTE O LADO DE LÁ...

Gonzaguinha, Cássia Eller, Erasmo Carlos, Paulo Gustavo, Rita Lee, Elis Regina, Betinho, Henfil, Millôr Fernandes, Jô Soares, Danuza Leão, Nara Leão, Claudia Jimenez, Glória Maria, Rolando Boldrin, Amy Winehouse, Cazuza, Mamomas, Ayrton Senna, Arnaldo Jabor, Elza Soares, Marília Pera, Cyril Collard.

Estas são apenas algumas das perdas que me fizeram e ainda fazem sofrer ao longo da minha vida.

E só citei pessoas conhecidas de quase todos nós. Sem falar os queridos amigos, parentes, meus pais.

Fico pensando.

O lado de lá tá ficando cada vez mais interessante.

Quem você acrescentaria nesta lista?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

TEMOS QUE AGIR, PRECISAMOS TOMAR AS RÉDEAS DA NOSSA TERRA


Imagine um Mineirão lotado

Agora imagine dois
Dois estádios
Lotados
De pessoas mortas
 
              Pense sobre o que este governo tá fazendo com a gente.
 


domingo, 16 de fevereiro de 2020

A GENTE NÃO APRENDE!

Só hoje as lágrimas brotaram com vontade. Vieram pra limpar a tristeza que tenho sentido desde que você se foi. Nossa escola vai sentir falta do carinho que você sentia por ela e da ajuda sempre. O filme e documentário sobre nós fica pra próxima vez. A gente não devia ter deixado pra mais depois, caralho da porra!!!!
Você vai fazer muita falta
Pepe querido!
Fizemos planos de você vir aqui conhecer meus tiutiukinhos e fazer um trabalho legal como só você sabia fazer.
Grande gênio da criação e publicidade.
E mais uma vez a gente não acreditou e/ou não se lembrou da efemeridade dessa porra de vida.
Então ficamos assim.
Perdemos sua alegria constante, mas os nossos amigos que também partiram antes do combinado, estão pulando de alegria com sua chegada.
Tenho certeza disso Pepe Quintero!


segunda-feira, 26 de agosto de 2019

E SE...

A morte super prematura da querida Fernanda Young foi como um soco no estomago pra mim.

Escrevi ontem no Facebook
"QUE TRISTEZA MEU DEUS!
MUITO MUITO TRISTE. UM SOCO NO MEU ESTÔMAGO
49 ANOS!!!!!!!
Ao mesmo tempo minha tristeza dá esperança pra muita gente acordar.
a Fernanda tem 4 filhos, 2 ainda crianças, tava fazendo teatro, escrevendo livro, uma vida cheia de planos e fazendo tudo com muito amor junto com o marido.
Quem sabe não é mais uma oportunidade de reflexão a respeito dessa vida fumaça que temos.
Pensar em sermos mais generosos, menos babacas, mais gentis, menos sovinas...a vida é muito curta.
Vamos aproveitar o lado bom. O nosso lado bom. Curtir esse lado e dar uma parte dele em prol dos outros".
Felizmente de ontem pra hoje li várias pessoas que escreveram sobre este mesmo tema.
Vida fumaça
Vida efêmera
Vida fugaz
Vida passageira
Vida curta
Vida que é um sopro
Vida sem controle

... e se eu não tivesse visto todos os shows, todas as peças de teatro que quis?
hoje praticamente nada me tira de casa, não me sinto animada em ver shows e peças de teatro. Que bom que aproveitei tudo. Vi 1, 2, 3 vezes tudo que amei.

... e se eu não tivesse seguido meus impulsos de mudança?
não teria saído de casa e atravessado continentes pra viver em  países totalmente desconhecidos que me abriram  portas pro mundo. Hoje não tenho medo de ir a lugar algum.

....e se eu não tivesse mudado de emprego, de cidade, de amigos?
tudo isso me deu possibilidade de conhecer novas pessoas, novos pensamentos, novas culturas me mostrando caminhos muito lindos
... e se eu não tivesse comido aquele pote enorme de sorvete sozinha?
teria ficado com desejo eterno e jamais iria entender que não é a quantidade que iria me saciar. Ele me deu enjoo e fiquei meses sem poder ver um pote de sorvete pela frente. Só voltei a comer e comer moderadamente muito tempo depois. Hoje não faz falta na minha vida.

São vários "se" que felizmente não deixei de fazer

O melhor de tudo realmente é não se arrepender do que fez.
Arrepender porque não fez dói muito.

Ainda tá doendo a partida da Fernanda. Só mesmo o tempo vai fazer melhorar esta dor.
Nem posso pensar na dor do marido dela, filhos, família!


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A morte é um dia que vale a pena viver - Ana Claudia Quintana Arantes


Quando eu assisto ou leio alguma coisa que acho legal, penso logo em passar pra frente.  As vezes o assunto tem destino certo. A gente sempre conhece alguem que tá precisando de alguma coisa e quando encaixa é muito bom.
Hoje fiquei conhecendo a dra. Ana e me encantei com o trabalho dela. Não sabia que existia este tipo de medicina.
Se você estiver sem tempo agora, com pressa, não comece e ler.  Guarde pra ler depois com calma, e assistir a palestra dela também com calma e com vontade.

Já falei aqui no blog sobre o meu Gurufim. Acho que agora ficou completo.

Morrer com a dra Ana, poesia da Elisa Lucinda, músicas da trilha da minha vida e no telão passando Uma Linda Mulher.
Ninguem vai querer que acabe de tão bom...hhheeeee
Se tiver pão de queijo e jaboticaba,  aí até eu vou querer participar!

“Se você pretende morrer, o Brasil não é um lugar legal”

"A médica Ana Claudia Quintana Arantes olha nos olhos enquanto fala. Não envia mensagens pelo Whatsapp nem olha o Facebook no celular enquanto conversa com alguém. Especialista em medicina paliativa, seu trabalho é estar presente e essa é a postura dela mesmo quando não está exercendo o ofício.
Formada em medicina pela USP, fez um curso do Instituto Palio após a faculdade e fundou a Casa do Cuidar, o primeiro curso aqui no Brasil de cuidados paliativos, de acordo com ela. Trabalha em São Paulo, no setor de geriatria do Hospital Israelita Albert Einstein e no Recanto São Camilo, onde cuida de pacientes em estado terminal, que chegam encaminhados pelo Hospital das Clínicas. É lá que ela pratica os cuidados paliativos. “Trato ali de pacientes que já foram avaliados pelas equipes médicas e já foi dito a eles que não há nada que a medicina possa fazer para modificar o curso da doença. Não há cura e não há controle”, explica ela. Todos são financiados pelo Sistema Único de Saúde.
O Recanto São Camilo fica no bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo, em frente a uma escola pública. A área de cuidados paliativos recebe pacientes em estágio avançado de diversas doenças, não só de câncer. E, embora sejam maioria, os idosos não são os únicos a receber os cuidados que, nas palavras de Ana Claudia, “agem sobre o sofrimento” dos pacientes. Adolescentes a partir dos 16 anos também chegam, embora em uma frequência menor. “A morte chega para qualquer idade”, diz ela. Ali, eles não são entubados, não passam por cirurgias invasivas, não recebem nenhuma medicação para tentar curar a doença que têm. Apenas para atenuar a dor. Chegam, muitas vezes, sem andar e sem falar. E não são raros os casos de pacientes que voltam a falar, a comer e até mesmo a andar.
Em sua sala no Einstein, ela conversou com EL PAÍS por mais de uma hora. Depois, a reportagem acompanhou o trabalho dela por alguns dias no hospital de cuidados paliativos. O resultado está nessa reportagem.


Os pacientes que estão morrendo não têm tempo para desperdiçar com a minha distração
Pergunta. Como funciona o hospital de cuidados paliativos?
Resposta. É um hospital comum. Mas tem uma forma de cuidados diferente da dos hospitais. O tratamento passa por algo muito mais amplo que só medir pressão, ver a frequência cardíaca ou medir a temperatura dos pacientes. As pessoas pensam que cuidados paliativos significa tirar ou suspender o tratamento, mas na verdade você amplia. O processo de adoecimento, desde o diagnóstico até que a morte aconteça, esse período é recheado por muito sofrimento. O cuidado paliativo vai agir sobre o sofrimento. Eu trabalho com essa questão do conforto físico do paciente: tirar a dor, fazer o intestino funcionar direito, fazer ele dormir direito, buscar tirar o cansaço... Só que a brincadeira começa quando você controla os sintomas. Porque é quando eu tiro a sua dor, que você começa a experimentar a finitude.
P. A maioria das doenças que esses pacientes têm é câncer?
R. Cerca de 60% dos pacientes que chegam têm câncer. Há uma visão um pouco viciada de que os cuidados paliativos são feitos só com pessoas com câncer. Mas as pessoas morrem de outras coisas também. Anualmente, mais de um milhão de brasileiros morrem todos os anos. Desses, 800.000 morrem de morte anunciada, ou seja, de alguma doença.
P. Como é lidar diariamente com o fim da vida?
R. Eu digo muito para os estudantes: não tem problema você estudar para cuidar de doenças, mas é preciso ter consciência disso, você é um cara que curte doenças. Eu curto pessoas. É outra coisa. As doenças fazem parte, são ossos do meu ofício ter doenças para que eu possa descobrir quem é a pessoa que está por trás dessa doença. Esse trabalho de você retirar o sofrimento, para mim, é um trabalho magnífico. Não porque eu tenha um gosto mórbido pela morte ou pelo sofrimento. É exatamente o contrário.

P. Você não se apega aos pacientes? Como lida com isso?
R. Eu me vinculo. Não tem como não me vincular.
P. E você não sofre quando ele morre?
R. Claro que tem um sofrimento, mas eu penso que isso deveria ser um exercício de todos. Porque não sou só eu que me vinculo. Você se vincula aos seus colegas de trabalho, aos seus amigos, à sua família. O que a gente não entende é que esses vínculos não são definitivos. Por exemplo, eu te encontrei hoje, minha vida pode mudar muito depois que eu te encontrei, eu posso ser uma outra pessoa depois disso, mas eu não sei se vou te encontrar de novo. Então quando eu estou com você, eu estou com você. Eu posso favorecer com que este encontro seja transformador para nós duas,  mas eu não sei se te encontro de novo, então esse momento é o momento que precisa existir. Quando você trata com uma pessoa que está morrendo, você não disfarça. Ela olha pra você, e ela tem o poder de te deixar nua, ela sabe direitinho se você está falando a verdade, se você está falando mentira, se você está com medo, se sentindo insegura. Ela identifica isso. Claro que talvez não identifique numa porção de consciência que a gente quer ter acesso. Por isso, não importa quanto tempo eu tenha com você. Supondo que eu tenha apenas 15 minutos pra olhar pra você, eu estarei prestando a atenção no que você está dizendo durante esses 15 minutos. A grande dificuldade de todo mundo é ficar mais do que 15 segundos prestando atenção. Os pacientes que estão morrendo não têm tempo para desperdiçar com a minha distração.
P. Existem peculiaridades culturais que se revelam no hora da morte?


O processo cultural da morte é muito peculiar
R. Tive uma paciente muito amada, a dona Almira, que não podia morrer de cabelo trançado. Na cultura dela, ali no meio do nada na Bahia, as pessoas não podiam morrer de cabelo trançado. E aí, como faz? Deixa o cabelo solto direto? Se você deixar o cabelo dela solto o tempo todo, você estará dizendo a ela que ela está pronta pra morrer.
P. E ai?
R. Foi uma história linda, porque ela não queria falar sobre a morte, ela tinha medo da morte. Mas ela foi vendo ao longo do tempo de fim da vida dela as oportunidades de despedida, as emoções, a coisas boas que aconteciam, as realizações, as demonstrações de afeto, os pedidos de perdão. Nos últimos fins de vida, ela pediu pra me chamar, segurou a minha mão e falou bem baixinho no meu ouvido: “Destrança o meu cabelo?”. E foi resolvido. Ela não precisou fazer terapia por 50 anos para resolver as questões dela, nem precisou de recursos de enfrentamento para a morte. A morte ensinou como ela deveria fazer ao longo dos últimos meses de vida dela. Agora, imagina se essa senhora fosse morrer nos Estados Unidos? Quem ia entender de trançar ou não o cabelo dela? O processo cultural da morte é muito peculiar e vai fazer com que a sua família se sinta mais ou menos confortável com a sua partida se isso for respeitado.
P. E como vem avançando no Brasil os trabalhos de cuidados paliativos?
R. Principalmente na medicina, quando você carrega a bandeira da morte natural, você está na contramão do resto dos médicos, que são umas crianças infantilóides que acham que a morte pode ser vencida. Não existe ninguém que tenha se curado do câncer até hoje e que não tenha morrido ou que não vá morrer. Essa percepção de que a morte faz parte da vida humana está muito distante da faculdade de medicina. Em 2010 foi feito um estudo pela Economist sobre a qualidade da morte no mundo, que está relacionado a conversas nesse processo, número de leitos, de hospitais de cuidados paliativos no país, a formação dos profissionais em relação a isso, e aí se estabeleceu um ranking com 40 países. O Brasil ficou em 38º lugar. Então se você pretende morrer, aqui não é um lugar legal.


Pegar uma mulher de 60 anos que é contra o aborto, tudo bem, ela nunca mais vai abortar. Ela pode ser contra o aborto dela, mas ela não pode dar palpite no dos outros. É uma tendência do ser desumano, de tratar de assuntos sobre os quais não os dizem respeito. Mas a morte diz respeito a todos
P. Tem algum paciente que pede para morrer?
R. Muita gente pede, quando não suporta o sofrimento. Se está impossível viver, você pede para morrer. Se eu cuido do seu sofrimento, sua vida fica gostosa, então você quer ficar mais um pouquinho. A maior parte das pessoas que chega lá [no hospital], não foi para lá porque queria. Mas uma vez que elas experimentam esses cuidados, elas não querem ir embora. Tá cheio de pacientes que chegam lá, passam um dia e dizem “não me dê alta”.
P. Mas existe alta?
R. Sim. As pessoas melhoram.
P. Mas elas não estavam em fase terminal?
R. Sim, mas nos cuidados paliativos elas voltam a comer, a falar, a andar, voltam a viver. Porque antes elas tinham sido enterradas vivas pela equipe médica e pela família. Ninguém olha mais pra a pessoa. Aí eu chego lá e digo: Você está com dor? Então vamos melhorar a sua dor. Vamos descer no Jardim? O que você quer comer hoje?” As pessoas comem pratos alucinantes [no cardápio do hospital tem pratos como feijoada, dobradinha e bife à milanesa]. Alguns dizem “eu quero champanhe para brindar”, e nós arrumamos um champanhe. Outros dizem “eu quero ver meu cachorro”, vamos buscar seu cachorro. “Ah, eu quero passar o fim de semana em casa, ver meus amigos e ir na igreja”, nós programamos tudo para conseguir com que a pessoa vá. Então eu escuto o que você quer e te ofereço o que eu posso fazer para realizar aquilo que você deseja.
P. Se a morte fosse encarada, culturalmente, de outra maneira, isso também contribuiria para que esse paciente chegasse antes ao hospital? Eles não chegam em um estágio já muito avançado?


A eutanásia ou o suicídio assistido é como você ver um bolo lindo na vitrine. É lindo, aquele confeito perfeito, morangos perfeitos, mas é feito de isopor. Não é vivo. A morte fabricada é uma morte fake
R. Sem dúvida. Essa demora é cultural. Se você tem uma pessoa que você ama muito e essa pessoa está gravemente doente, você a leva ao médico e ele diz "olha, infelizmente a medicina não tem mais como reverter o processo de doença da pessoa que você ama". O que você faz? Diz “ah, tá bom”, e marca outro médico. Até que você encontra um médico que diz “olha, tem um trabalho mostrando que, se a pessoa responder a um tipo de tratamento, há uma chance de 0,01% [de ser curada], aí você cai na roubada de dizer “nós temos esperança. E aí a gente vai lutar e vender a alma para pagar esse tratamento e vai salvar a alma dessa pessoa”.
P. As pessoas confundem o seu trabalho com um trabalho ligado à eutanásia?
R. Confundem, direto. Mas a eutanásia, dentro do cuidado paliativo, não tem espaço. A gente parte do princípio que a gente aceita a morte natural. Eu não pratico eutanásia. Não queria eutanásia pra mim e não faria eutanásia para ninguém. Há médicos que são especializados em suicídios assistidos. Na Europa tem. Eles acreditam que eles estão fazendo muito bem para os pacientes, porque existe quem queira e existe quem faça. Não sou contra ou a favor. Não é a minha prática.
P. Seu trabalho então é justamente o contrário da eutanásia?
R. Sim. Para que você tenha a possibilidade de viver até o último dia da sua vida, do jeito que ela veio para você. A eutanásia ou o suicídio assistido eu penso que é como você ver um bolo lindo na vitrine. É lindo, aquele confeito perfeito, morangos perfeitos, mas é feito de isopor. Não é vivo. A morte fabricada é uma morte fake. Acontece, de fato, tem aquela cena linda da despedida, do perdão e tal, todo mundo te beija e você morre. Que gosto tem isso? Como o processo da tua morte pode te fazer melhor? Como o processo da sua morte pode transformar as pessoas à sua volta? Que legado você deixa de aprendizado quando você decide enfrentar esse processo? É nesse momento em que você enfrenta a sua fragilidade, que você sabe o quão corajoso você é, o quão grande você é. A grandiosidade não é você não depender de ninguém, é você deixar alguém trocar a sua fralda. Isso é um ato de coragem.
P. Fala-se mais sobre o aborto do que sobre a eutanásia...
R. Como se todo mundo fosse abortar, né? Então falam mais sobre coisas que não servem para todo mundo. E você se mete a dar opinião sobre aquilo que você não vai vivenciar. Pegar uma mulher de 60 anos que é contra o aborto, tudo bem, ela nunca mais vai abortar. Ela pode ser contra o aborto dela, mas ela não pode dar palpite no dos outros. É uma tendência do ser desumano, de tratar de assuntos sobre os quais não os dizem respeito. Mas a morte diz respeito a todos.
P. E qual a diferença entre eutanásia, distanásia e ortotanásia?
R. Tudo isso gira em torno do processo de sofrimento. Eutanásia, o prefixo eu quer dizer bom, então significa uma "boa morte". Culturalmente, uma boa morte é uma morte rápida, que não tem dor nem sofrimento. Mas veja, a dengue está bombando aí. Você quer pegar dengue? É uma morte rápida! Mas, na verdade, ninguém está a fim de morrer. A ortotanásia, orto  significa "certo", então é a "morte certa", a morte no tempo certo. E a distanásia é a morte funcional, é um processo de morte prolongado. Por exemplo, você tem 95 anos, câncer no fígado, nos ossos, no cérebro, tem demência, desnutrição e a sua filha diz pra mim: "Dr. Ana, salve a minha mãe. Ponha ela na UTI, faça tudo". Aí entubamos ela, fazemos diálise, colocamos sonda, e, mesmo assim, você morre. E se, invés disso, eu virasse para essa filha e dissesse “olha, a sua mãe está muito doente, essa doença não tem cura e nem controle e ela está muito tranquila. Você topa que a gente cuide dela na sua casa? Você acha que ela vai gostar de ficar em casa?". A morte vai ocorrer nas duas situações. A diferença é o que preencherá o seu tempo até lá".

Copiei daqui:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/06/politica/1430942689_308908.html

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Réquiem a um cão




Cadê meu companheiro que apareceu em minha vida quando eu era, sem nenhum exagero, o mais solitário que já havia sido? 
Cadê meu amigo que entrou na minha vida como uma esperança, uma lição, um ensinamento e uma esperança de futuro?
Um cão aleijado. Ele nunca se deu bem com carros e motos. Nasceu em uma casa com todo o conforto. Foi posto para viver na rua quando a dona que o pegou filhote, morreu. E sobreviveu, com dois anos de vida, ao desafio de ser – agora – um cão de rua.
Duas vezes atropelado. Por um carro e por uma moto. Coberto de feridas foi “adotado” por seres humanos plenos de grandeza, donos de em mercadinho, que o acolheram (mesmo que do lado de fora) trataram e o alimentaram.
E eu o descobri por uma reportagem do Estado de Minas informando do infortúnio dele. Dezenas de adotantes apareceram no O Lobo Alfa.
Mas ele era meu. Ou melhor, eu era dele.
Ainda triste por mais um atropelamento e abandono, o conheci triste e cansado. Mas foi absolutamente passageiro! No mesmo dia em que convenci ao amigo Crispim que ele ERA MEU (sem saber que na verdade eu sempre fui dele), já estava alegre e pronto para reiniciar mais uma etapa da vida. Uma amiga me levou até lá (na época estava sem carro) e adotei o Pepê.
Foram quatro anos maravilhosos! O Pepê ainda no apartamento, me ensinando que a vida recomeça. Que a alegria vence o desânimo. Sendo o cara que me ouvia, entendia (mesmo em silêncio, mas observado cada palavra como se entendesse!) e me acarinhando!
Defendendo-me de assaltos. Quando vim para cá morar em uma mata, poucos sabem, mas Pepê foi fundamental para esta escolha.
E aqui, desde o primeiro dia (quando pulou na piscina sem saber que esta nova piscina era muito maior que a piscina do apartamento, que ele usava e abusava!), foi o dono da casa! (só voltou à piscina no meu colo, quando a Maya do Thiago mostrou que era bom! Mesmo assim, no colo!).
Quando estive em hospitais, estava o tempo todo à espera. Sempre o primeiro a me receber.
NUNCA se importou em dividir o espaço e carinho meu com outros lobos. Sejam os que vieram e ficaram, sejam os que me visitavam, como a Maya e os cães do condomínio que brincavam com ele aqui em casa.
Amado pelos jardineiros! Não sei por que, amava jardinagem. Acompanhava atentamente, pulando e fazendo carinho, nos jardineiros aqui de casa, da rua e até dos vizinhos.
Recebia visitas com a cara mais alegre e os carinhos mais explícitos possíveis. Adorava idosos. Os acompanhavam pelo condomínio em troca de um afago na cabeça.
Era especial.
Cadê o falso vigia que ficava no muro de minha casa, latindo para quem passava e indo correndo, abanando o rabo, se estes passantes dessem a menor chance de contato? E passavam a ser os amigos (mais uns) do vigia que não vigiava: tentava ser amigo!
Assim, aqui na rua, são muitos os que passavam e sabiam que um mestiço de cooker com sabe-se lá o que, iria acompanha-los, lamber as mãos, fazer “gracinhas” e JAMAIS ser agressivo.
Mancava. Por vezes, muito. A dor dos atropelamentos anteriores cobrava o preço. E tomava o comprimido sem precisar sequer estar “embrulhado” em qualquer coisa que o enganasse. Ele sabia o que era e já sabia que fazia bem!
Aceitava os novos companheiros (ou antigos, como o amigo das ruas, o Hulck) sem sentir ciúmes ou disputar espaços. Sabia-se o preferido e não rejeitava os outros: antes, o acolhiam.
Deixou de ser o cão que vivia dentro de casa – com a chegada do Boninho – sem demonstrar rancor ou dor. Aceitou e continuava feliz. (Bono é um spitz alemão muito pequeno e a convivência entre ambos poderia ser perigosa. Embora eu soubesse que jamais seria, tive que optar: ou Pepê seria mais um da matilha de 4 do lado de fora (com os companheiros de rua) ou seria um cão de companhia! Ela não havia nascido para isto).
Teve mais de 12 filhotes no condomínio (todos adotados) até ser castrado. E continuava namorador! Sempre foi.
Manco, corria mais que os outros! Uma vez me chamou para libertar o Hulck (que é o Lobo Alfa) de uma casa em um bairro ao lado do condomínio. Me levou até lá!
Quando eu ficava mais triste, soltava os cães à noite. Eles (os outros) saiam e voltavam. Pepe ficava com a cabeça no meu colo, no banquinho do jardim, até que eu melhorasse.
Cadê Pepê? Está ali, em frente a minha janela. NA terra, que sempre cavava para se refrescar.
Mas não late mais. Não coloca a cabeça na janela para receber o afago e ir brincar. Não irá mais pedir a carne do churrasco. Não irá mais latir para a rua, como se fosse o guardião que nunca quis guardar nada: só alegrar quem passava pela rua.
Cadê o lobo que tomou uma facada aqui no condomínio e sobreviveu? Que em uma semana já estava, de novo, nos jardins e pracinhas do pedaço? O caroneiro que pegava carona com o Thiago?
Este condomínio, para mim, está mais triste. Lua não para de ganir/chorar.
Hulck, em pleno dia, está por si mesmo no canil.
Lourinho está deitado no mesmo lugar onde Pepê ficava vigiando a rua.
E eu estou sem lugar como se fosse um cara sem rumo, criança de 55 anos, idiota para quem não sabe o que é amar estes peludos e com uma saudade que é maior – que se haja um Deus, que me desculpe! – do que senti de alguns humanos.
Pepê, não tava combinado! Eu iria antes. E você já tinha até com quem ficar! 


Um beijo pra você meu querido amigo Rey
bjos Pepê


Texto escrito pelo meu querido amigo Reynaldo, agora à tarde, depois de enterrar o seu cão, seu amigo, seu filho, seu companheiro de luta

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Olho por olho, dente por dente, em pleno deserto

Quando trabalhei no Iraque, morando no meio do deserto, a água que a gente usava vinha do Rio Eufrates. A empresa tinha um setor que se chamava ETA - Estação de Tratamento de Água.

Quando a gente saía do acampamento, topava várias vezes com a tubulação que conduzia a água pras nossas casas. Era aquela serpente cortando o deserto, e, de tempos em tempos, existia uma estação de tratamento, um poço, bombeamento ou sei lá o que. Só sei que, esta estação, tinha sempre alguém de plantão pra acompanhar o abastecimento e, também, pra vigiar pra que não houvesse roubo ou desvio de água. Roubo? Como assim, roubo ? Pois é, se não tomássemos conta, a água poderia ser desviada pra população local. Claro ! Em pleno deserto, uma água passando prontinha, pertinho, quem não quer, né? Era uma pequena peleja. Tinha uma equipe que fazia viagens dia e noite ao longo da tubulação pra ver se não tinha furos, desvios, enfim, pra ver se a água corria leve e solta.

Um belo dia - agora vem a bomba! - ou, melhor dizendo, uma bela noite, apareceu um nativo e tentou, digamos assim, "pegar água emprestada". Só que não era permitido, aliás, era proibido. O vigia da estação foi falar com ele e tentar impedir. Garraram numa discussão, bate-boca entre árabe e brasileiro, imaginem a cena ! Algumas palavras em árabe misturadas com gestos, o cara entendia, mas puto, não se conformava, só sei que se atracaram numa briga. Dá-lhe e toma soco pra lá e pra cá, até que o brasileiro conseguiu colocar o moço pra correr.

E continuou a sua guarda. Quando deu a hora da troca do plantão, esse mané foi embora e veio outro pra ocupar seu lugar.

Já tão vendo que vai dar merda, né? E deu.

O Zé chegou naquela escuridão do deserto, assim que viu a silhueta do nosso plantonista, descarregou a arma nele; no que ele caiu murtinho. Como dizemos na nossa turma: parou de fumar na hora.

Assim que chegou a notícia no acampamento, nosso diretor anunciou às autoridades competentes. O chefe de polícia local deu 24 horas pros seus subordinados encontrarem o assassino. Encontraram em 6 horas.

Parenteses : Tá faltando gente, que trabalhe assim, por aqui.

Continuando...

Acharam o cara e levaram pro nosso acampamento. Aí é que entra a parte mais interessante da história. A diferença cultural.
Me lembro que eram três caras, não me lembro porque três, só sei que ficaram sentados no chão, na sala da secretária do diretor da obra - minha amiga - que ficou apavorada com aquela cena. Três figuras algemadas e sentadas no chão esperando pra pagar pelo crime cometido. Talvez eles tivessem juntos, não me lembro, juntos com o que atirou.
E o Zé que era acusado do crime, negava, negava, nada fazia o moço confessar.
Foi aí que chamaram o "morto", pra identificar o nativo.
Nem precisou de confissão; no que ele entrou na sala, o mané, coitado, levou um susto tão grande, porque na briga ele viu o cara e não era aquele que tinha recebido o descarrego de balas.
Pensa que acabou? Não. Tem mais.

O delegado ou sei lá o que, então, falou pro nosso diretor: "Vamos pra fora, porque ele vai ser fuzilado aqui no "terreiro", pra vocês verem que a justiça foi feita."
Nessa, o diretor da nossa empresa quase cai pra trás. Pense bem ! Quiném na Idade Média, ou no Velho Oeste, nós todos reunidos e assistindo ao fuzilamento da vítima. Pode uma coisa dessa?

Caso comprido, né? Mas vou findar. Calma !

Nosso diretor confabulou, por longo tempo, com o delegado e conseguiu que a turma fosse embora, soldados, polícia, ladrão e cia. Vão resolver o problema de vocês longe daqui. Pelo amor de Deus !

O final da história não tem graça nenhuma.
Levaram o Zé pra estação de água e mataram ele no mesmo lugar onde ele tinha matado um dos nossos. E teve que ir alguém da nossa empresa pra testemunhar a cena. Fazia parte .

E quem quiser que conte outra.

Contei um outro causu, na mesma linha deste. Quem não leu e se interessar olhe no Índice. Chama: Da série "Acredite se quiser"... mais uma - em 24/09/2009

segunda-feira, 29 de março de 2010

Quem morre, só pensa nele mesmo! Turma egoista!

Até pra falar sobre a morte a gente precisa ter humor. Morrer é tão sem graça, tão sem propósito e tão fora de hora, sempre, que ninguém acha graça.

Hoje me lembrei de um jornalista brasileiro, que morreu de AIDS nos anos 90. Ele já tava bem fraco, quando vi uma entrevista dele na TV junto com o namorado, e nunca mais me esqueci. Muito boa.

Os dois falavam, o mais naturalmente possível, sobre a doença - que na época era fatal - sobre os planos do momento e os planos daquele que ia ficar. Muito interessante!

O que eu mais gostei, numa certa altura da entrevista, foi quando surgiu um assunto sobre carnaval e o que fazer naqueles quatro dias. Eles disseram que eram loucos pela festa, adoravam e não perdiam um só desfile das escolas do Rio. Só que viam pela TV, quiném eu. Também adoro ver os desfiles pela TV. Choro de emoção todos os anos quiném uma idiota.

Então, o que tava em primeiro lugar na fila pra morrer falou : "o que mais me deixa triste, é não poder mais ver os desfiles que tanto amo. Há anos a gente vê junto, convida os amigos, bebemos, comemos e nos divertimos tanto! Nessa época, por exemplo, já estamos com o CD e as letras dos sambas-enredos pra decorar".

Não me lembro de quem tava fazendo a entrevista, mas rolou aquele momento-emoção, que foi logo cortado pelo que ainda não tinha entrado (pelo menos oficialmente) na fila pra morrer. Ele disse: "pois eu acho muito egoísmo, da sua parte, ficar chorando porque não vai ver mais os desfiles. Você já parou pra pensar em mim? Pensou nos seus amigos, no próximo carnaval? Já imaginou a merda que vai ser assistir sozinho, sem você do meu lado, sem os seus comentários, sem a comida boa que você faz?" e foi descascando a moranga no futuro-defunto, até ele perder o rumo de vez. Quem vai morrer, se esquece que vai morrer e fim. Adeus viola, muito prazer, foi uma honra, obrigado e adeus. E quem quiser que conte outra!
O pobre quase pediu desculpas por ter sido tão egoísta, mas foi bom, porque caiu em si. Não tinha parado pra pensar no outro lado da moeda.
Não me lembro de como terminou essa conversa, porque a melhor parte eu já tinha registrado.

Estou convivendo há dois meses (e acompanhando a peleja da doença há 8 anos) com uma pessoa que tá no primeiro lugar da fila, prontim pra dar o último passo, mas empatando a fila porque não quer largar a liderança nem a poder de porrete. Cismou de ficar na pole-position forever. A última desculpa é que quer fazer 80 anos - o que vai rolar depois de amanhã.

No que ele faz muito bem, porque o tanto que temos nos divertido e rido, não tá no mapa. Tenho anotado coisas e causus pra contar mais pra frente, quando esses causus ficarem mais engraçados do que já são.

Quando a dor desaparecer e só ficar coisa boa pra eu me lembrar.

E LÁ VAI O DIMDIM!

E o dindin que você doou vai virar Q uero ver se até segunda-feira mando o dindim dos presentes dos tiukinhos. Ainda não mandei porque tem u...