" Dizem que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto, não, santo padre. O Brasil foi invadido e tomado dos indígenas. Esta é a verdadeira história do nosso povo."
Com essas palavras, Marçal Tupã-Y emocionou o Papa João Paulo II em sua primeira visita ao Brasil, em 1980. Era líder do povo guarani e porta-voz de toda a população indígena brasileira. Lutou pelos direitos dos índios e se tornou símbolo.
Tupã-Y nasceu Marçal de Souza em 24 de dezembro de 1920, no atual Mato Grosso do Sul. Ficou órfão aos oito anos. Foi educado numa missão presbiteriana e criado pela família de um oficial do Exército no Recife. Adulto, voltou para a região de Ponta Porã, no estado natal. Aceitou sua cultura, tornou-se enfermeiro da Funai, guia e intérprete de antropólogos como Darcy Ribeiro (meu ídolo).
Depois de anos de luta e discursos tocantes, inteligentes e esclarecedores, morreu como viveu: defendendo o respeito a seu povo. Foi assassinado com cinco tiros, na noite de 25 de novembro de 1983, em sua aldeia (menos de um mês antes, havia recusado oferta de 5 milhões de cruzeiros, feita por um fazendeiro, para que convencesse uma tribo do grupo Kayowá a sair de suas terras). Marçal Tupã-Y tinha 63 anos e a seu lado dormia a mulher, a índia Celina Vilhava, 27 anos, grávida de nove meses.
Obrigada ao Chico Mendes, à Irmã Doris, ao Tupã-Y e tantos outros. Peço desculpas pela animalidade do ser humano, que lhes tirou a vida.