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Impossível pra mim, conviver com gente tão diferente. Tudo bem, era só um trabalho mas acabava sendo uma convivência e, chega uma hora, que você pensa: "Peraí, eu trabalho pra ganhar uma grana e ser o mais feliz possível e aqui só tá rolando a grana".
Não ia começar a frequentar uma Igreja Evangélica só por falta de opção. Seria, não só injusto, como meu saco explodiria no segundo culto. Um, tudo bem, segurei a onda, mais que um, é pedir muito. Como diz minha amiga francesa: "Já vi horrores suficientes na guerra".
Não ia começar a frequentar uma Igreja Evangélica só por falta de opção. Seria, não só injusto, como meu saco explodiria no segundo culto. Um, tudo bem, segurei a onda, mais que um, é pedir muito. Como diz minha amiga francesa: "Já vi horrores suficientes na guerra".
E como falar com a dona patroa que tava cascando no serrado?
Porque, pro empregador, você tá pegando o boi com chifre e tudo.
Casa tranquila, ela na rua o tempo todo, não me enchia o saco, ar-refrigerado, podia comer o que quisesse e quanto quisesse, cama no meio do quarto, sem medo ou perigo de acionar o alarme... Mas, e eu? E a conversa que gosto tanto ? E os amigos? E sair na rua, ver pessoas, ajudar uma pessoa idosa a atravessar o sinal, fazer compras no supermercado, discutir com o cara que vende o peixe, se abrigar embaixo de uma marquise esperando a chuvar passar, reclamar que as verduras ou legumes esse ano tão pela hora da morte, parár na banca de jornais e ler todas as manchetes dos jornais e revistas e ficar sabendo, antes do autor, o final das novelas, parár pra ver crianças se divertindo num parque, brigar com o trocador do ônibus porque ele não te deu o troco certo, ser quase atropelada na rua por um filho da mãe que avançou o sinal, parár pra olhar uma vitrine cheia de coisas que não estou precisando em absoluto, encontrar casualmente com um amigo na rua e colocar os causus em dia, sair cedinho pra comprar um pão fresquinho pra tomar com café com leite e manteiga com sal, ao invés de manteiga de amendoim - Deus que me livre e guarde de tão ruim - que só não é pior do que mel? Enfim, viver, respirar e não ficar comprando tudo pelo telefone, com um mané que entrega, coloca tudo na despensa e, ainda, no lugar, pra você. Isso é vida? Pode ser que, pra muitos, seja, mas eu tô fora.
Conversei com a dona maria, disse que era tudo muito lindo naquele Shangrilá, naquela Ilha da Fantasia, mas ficar apagando e acendendo luz e endireitando vaso de planta não era meu sonho de vida. Nasci pra ralar, pra produzir, ver o fruto do que plantei, ajudar amigos, rir, aproveitar a vida.
Ela não achou graça nenhuma, não entendeu, ficou até meio brava, afinal, devia ter feito o seu máximo, até me buscar de Jaguar no aeroporto ela buscou e, eu, a ingrata, cuspindo no Jaguar que andei.
E, quase que me esqueço do melhor, sem maldade mas, que foi engraçado, lá isso foi! Tinha vários coqueiros no estacionamento e, ela, como entrava e saía toda hora, deixava o carro lá fora. Eu disse, eu avisei : "Uma hora vai cair um coco em cima desse felino". Dito e feito! Eita boca!
E não é que, tibum? Não caiu só um, caíram dois cocos, um deve ter empurrado o outro e fizeram um fundo interessante na cacunda da fera, parecia uma mulher com peito embutido. Mas não falei nada, tipo: "Bem que eu avisei!" Ela, nem aí. Aquele carro foi pra oficina e tirou um outro de, não sei onde - como eu disse, não cheguei a conhecer a propriedade toda. Além da falta de curiosidade, juntava com a falta de saco - e continuou o baile.
Peguei meu salário - que ela me entregou com a cara emburrada - a minha amiga dominicana me deu uma carona e fui, linda, loira e feliz pro aeroporto; não de Jaguar, mas numa daquelas banheiras americanas, enormes, rabo de peixe, que pobre adora comprar assim que chega no Eldorado do Obama.
Deixei pra trás a pobre menina rica, que - imagino - hoje deve estar dando trabalho prum analista.
Voltei pra NY toda feliz. Pro meio da confusão. Que adoro !
E quem quiser que conte outra.