A galinha do vizinho é sempre mais gordinha mesmo. A gente tá sempre de olho no quintal do próximo.
Quando venho à França, fico o tempo todo matando a saudade das coisas que amo. Pães, manteiga, leite, iogurtes, queijos, geléias, enfim, minha praia é mais café da manhã e lanche que o próprio almoço e jantar.
E o francês fica doido com nossas frutas, nossa comida temperada e nada leve. Passa mal, mas adora. Tem uns que nem ligam, comem torresmo todo dia, bebem caipirinha, comem feijoada e o estômago nem tium!
Outro dia, estávamos olhando o que comeríamos no jantar, abrindo a geladeira e vendo um monte de restinhos de coisas, falei: "Por que não fazemos um mexidão?". "Fazemos o quê?" disse a dona da casa e eu expliquei o que vinha a ser.
Mexidão é o seguinte: casa de muita gente, ou visita de última hora, não tem arroz ou carne ou feijão suficiente pra todo mundo, em Minas a gente lasca um mexidão. Junta tudo na frigideira, coloca um tomatinho, se tiver, ovos, se tiver, cebola, se tiver, cheiro-verde, se tiver.... e ela começou a rir. "Como assim, se tiver?" Eu disse: "no mexidão, coloca-se o que tem. Não tem que ter nada em especial, quer dizer, determinados ingredientes fazem ele ficar melhor mas, se não tiver, vai sem eles mesmo. Tem, coloca, não tendo, vai sem. Não entendeu nada, mas pagou pra ver.
Quase dei um nó na cabeça da francesa, toda certinha nas medidas de 30ml, 25 gr. e tudo mais dentro dos conformes.
Falei: "é melhor eu fazer e vocês vão comer se gostarem. Se não gostarem, não tem problema porque eu como tudo, porque tenho certeza que vou amar". Foi um riso só. E mãos à obra na obra.
Peguei dois ovos, azeite na frigideira, refoguei uma cebola, mexi os ovos bem mexidos, coloquei dois tomates picados, sobra de arroz, sobra de vagem, sobra de brócolis, piquei um bife de colega, que tinha sobrado do almoço (em pedacinhos pequenos pra render bem), misturei tudo, pimenta do reino, cebolinha desidratada e, por fim, farinha de mandioca que trouxe do Brasil. O cheiro já tava agradando.
Coloquei na mesa, parti um limão no meio, servi os pratos e mandamos ver.
Não sobrou pedra sobre pedra. Grão sobre grão. Raspamos a frigideira.
O melhor de tudo, agora, é escutar a receita sendo passada de amiga pra amiga, quase todo dia. Não sei se vai dar certo, porque ela passa a receita do mexidão que eu fiz, a amiga que anota não sei se entende direito, diz que não precisa ter nada daquilo que ela tá dizendo, mas anotam tudo e ficam loucas pra fazer. E o mais importante é dito por minha amiga, no final da receita: "nada disso vai dar certo, se não tiver farinha de mandioca. É imprescindível!" Bão, aí o bicho vai pegar.
Deve ter dono de supermercado, ou de uma birosca qualquer, tentando entender o que é aquilo que, de repente, todo mundo passou a procurar.
Que raio de farinha será essa?
E, aí, ganhei uma manga semana passada. Falei: "uma manga pra três, não vai rolar". Ela riu e disse: "Não me diga que tem mexidão de fruta?"(também não vamos exagerar...). Mas, peguei a baita, cortei em pedaços, coloquei açúcar na panelinha, fiz uma calda, uns 3 cravos-da-Índia, 1 pedacinho de canela, deixei a manga ferver um pouco, com um tico de água, e comemos morninha de sobremesa. Manga em calda feita na hora.
Mais uma vez, não sobrou nem o caroço, pois, esse, o cachorro comeu.