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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A GENTE NUNCA SABE O QUE DIZER

 
 
Dia difícil. Muito difícil. Enterrar uma amiga não é fácil.
Mesmo sabendo que esta amiga se livrou de meses de muito sofrimento, de muita dor.
Ninguém nunca quer morrer. Na minha cabeça é o medo do desconhecido. Do que pode acontecer depois, se é que tem um depois.
Hoje, enquanto minha amiga estava sendo enterrada, não sei porque saí de perto da sepultura e fui andando mais pra longe um pouco. Do nada.
E os dois senhores que haviam colocado o caixão na sepultura estavam esperando dois amigos terminarem seu trabalho.
Semblantes sem expressão. Calados, quietos, como manda a regra de  comportamento de quem não tem nada a ver com o que aconteceu e tá ali só fazendo  seu trabalho. Então falei com um deles.
- Trabalho pesado, difícil, este o que vocês fazem.
E começamos uma conversa.
Um deles já trabalha há 20 anos neste cemitério e o outro há 5 anos.
Falamos sobre a dificuldade de trabalhar em um lugar onde não cruzam com pessoas felizes, rindo, contando sobre seu dia a dia. Falamos da dificuldade em não poder chegar em casa e comentar sobre o dia de trabalho como faz a maioria das pessoas. Dizer que o chefe encheu o saco, contar de um trabalho que foi legal, dos risos quando alguem caiu da cadeira, não importa. Qualquer coisa que acontece em um dia de trabalho em qualquer parte.
Como comentar com a mulher e os filhos, ou com os pais, numa mesa de jantar que hoje tem um enterro interessante. Interessante, triste, difícil. Isso não é um assunto que é bem vindo em mesa alguma.
Falamos da dificuldade em enterrar crianças. Eles me disseram que quase sempre choram junto com a família.
Hoje mesmo, disse um deles, enterramos uma mãe muito jovem e duas crianças assistindo e acompanhando e talvez não tendo ideia que estavam se despedindo dela pra sempre.
Barra muito pesada. Foi duro. A gente não se acostuma com isso.
E no meio da conversa me veio uma pergunta.
Vocês por acaso tem algum tipo de acompanhamento? Alguem conversa com vocês, dá algum tipo de apoio, orientaçao, como um psicólogo, por exemplo.
Não. Não temos nada.
E continuamos a conversa, discutindo sobre o tanto que poderia ajudar ter uma pessoa pra conversar pelo menos umas duas vezes por mês, pra orientar, dar suporte, ensinar a se protegerem.
Então sugeri que eles levassem essa ideia à diretoria do cemitério. Que conversassem, explicassem e sugerissem este apoio.
Me prontifiquei a ajudar. A apoiar.
Mais foi falado e mais foi discutido, e talvez, de uma conversa que começou com uma simples observação tenha saído uma ideia legal que possa ajudar estes homens.
Só sei, que descendo a colina atrás deles em direção à saída, e ouvindo  a conversa dos dois, me deu um certo alívio. Era boa, otimista. Tomara que levem a ideia à frente e consigam ser compreendidos pela direção da casa. E que o apoio venha.
Voltando ao título desde post, esperei o uber me pegar ainda dentro do cemitério, perto à porta de entrada, e quado entrei no carro o motorista me cumprimentou e perguntou.
- Enterro?
Realmente, cemitério é um lugar onde perdemos as palavras. Não sabemos o que dizer e tudo que dizemos é muito pouco ou fica fora de propósito.
Respondi que sim e fomos calados até minha casa.
 
 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O primeiro velório a gente nunca esquece



O primeiro velório de que me lembro ter ido foi do meu avô paterno. Pra mim e pro meu irmão foi uma festa. Me lembro perfeitamente de nós dois correndo pela casa, rodeando o caixão colocado no meio da sala de estar, e meu irmão fazendo cócegas nos pés dele, porque o vovô tinha uma risada tão boa, tão alta e tão contagiante, que fazia rir quem tivesse junto, e na pequena cidade que ele morava ela era ouvida de longe.  E meu irmão não entendia porque seu vovô não ria mais das cócegas que ele fazia. Eu devia ter uns 4, 5 anos.
Já pulando pros meus 15, 16 anos, foi a vez de  perder a primeira pessoa querida. E sofrer. Foi a mãe de uma grande amiga e colega de escola. A gente era muito grudada. Coisas de estudar juntas, dormir uma na casa da outra, e a mãe dela era uma fofa. Ela morreu muito rápido dando um baita susto em todo mundo.
Não sei se já tinha ido a um cemitério antes desta morte. Talvez não e você vai entender porque.
Me lembro de ter saído da escola e ido direto pro cemitério. Só Deus sabe porque fui sozinha. Cheguei lá e comecei a procurar minha amiga e as outras amigas da escola que tinham ido na minha frente. Andei, andei, e vi ao longe um amontoado de pessoas, apressei meu passo, porque pelo visto já tava atrasada. Cheguei devagarinho e fiquei um pouco distante meio sem saber o que fazer.
Depois de alguns minutos, comecei a ver que não reconhecia as pessoas. Eu não conhecia todos os parentes da família e nem todos os seus amigos, mas tava esquisito porque não reconhecia ninguém. Olhei todos que pude e nada! Comecei a achar que tinha alguma coisa errada.
Foi aí que cheguei perto de alguem e perguntei o nome da pessoa que estava sendo enterrada. Era o Sr. não me lembro. Me deu um pavor, uma aflição danada por já ter perdido um tempão velando o defunto errado. Se já tava atrasada, agora então é que não veria nada, nem poderia dar meu último adeus pra minha amiga. Saí desesperada procurando outro amontoado de gente, e só então percebi que havia vários amontoados. Não somente eu havia perdido uma pessoa querida naquele dia. Muitos outros também.
Até hoje, não tem uma vez que vou a um cemitério,  ( e olhe que agora  já são dezenas de vezes!)  que não me lembro desta cena e deste dia, e penso:
- Só me lembro de que outro alguem morreu quando venho aqui.
O mesmo acontece com os hospitais. Quando estou lá sofrendo por alguem é que me lembro que outros tantos também estão.
Mas ainda bem que é assim, porque senão a gente não ia ter tempo de dar uma risada nesta vida!
Cada coisa no seu tempo e na sua hora.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Quero a Elisa Lucinda no meu gurufim.

O tal do morrer é complicado pra quase todo mundo. Talvez porque eu nunca tenha estado à beira da morte, não ligo muito pra ela; não fico pensando, não tenho medo e acho que, a qualquer momento que ela chegue, já tá bom, tô no lucro. Mas, reafirmo, deve ser porque ainda não dei de cara com ela porque, conheço pessoas que estão pra partir já há tempos e tão se agarrando à vida, como se vida ainda tivessem.

Num papo com amigos, certa vez, falando sobre morte e enterro, me veio uma idéia : ao invés daqueles enterros canseira, todo mundo esperando o tempo passar, cansados, calor ou frio danado, desgaste grande, noite que não termina, tomando aquele café horroroso de garrafa térmica que tem nas cantinas de velório, comendo chips e biscoito de polvilho, olho inchado de tanto sofrer e chorar - porque cada um que chega recomeça o chororô que já tava se aplacando - pensei o seguinte :
Quero um enterro alegre pra cacete; com muita música e telão com vídeos diversos. Vai virar uma "reivi". Já tenho, meio pronta, a trilha-sonora, todas as músicas que gosto, que representaram muito pelos Caminhos por onde andei, que me fizeram rir, lembrar, ser feliz. E músicas preferidas dos amigos também. E os vídeos?
Estes vão ser um sucesso. Pode ser vídeo de shows, bandas, cantores. Só não pode deixar de passar Uma Linda Mulher, meu filme de cabeceira. Já tenho, nem precisa comprar. E música ao vivo também. Foi aí que descobri a palavra Gurufim, e o que que significa. Me amarrei. Paixão a primeira vista.
Gurufim é enterro no morro. Enterro de sambista, de boêmio, de compositor, é aquela despedida alegre com muito samba e muita bebida.
Imaginem um pagodão daqueles com comes e bebes varando anoite, ou o dia.
Eita! Muita percussão, surdo, pandeiro, a negada cantando e eu lá. Feliz da vida, quer dizer, feliz da morte...hehe...
Muito Arlindo Cruz, Gonzaguinha, Zeca Pagodinho, Cássia Eller, Noel, Beth Carvalho, Chico, Alcione, Wilson das Neves, Lupicínio. Podem ter certeza de que estarei muito bem. Tranquila, deitadinha só de ouvido em pé. Vendo a "turma se adivertir".

Vai ser tão bom, que todo mundo vai achar que morrer só uma vez será pouco.

E, pra encerrar na boa, com um pouco de seriedade, a Elisa Lucinda recitará um belo poema ao som do surdo dando aquele toque, que fura o coração. Só então, se alguem quiser e sentir vontade, estará liberado pra dar uma choradinha, só pra não ficar parecendo que já tô indo tarde........hehehehe.... De Elisa Lucinda
Mulata Exportação
“Mas que nega linda
E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dentro ainda te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega-exportação, vem meu pão-de-açúcar!
(Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?)
Minha tonteira, minha história contundida
Minha memória confundida, meu futebol (entendeu meu gelol ?)
Rebola bem meu bem-querer, sou seu improviso, seu karaoquê;
Vem nega, sem eu ter que fazer nada.
Vem sem ter que me mexer
Em mim tu esqueces tarefas, favelas, senzalas, nada mais vai doer.
Sinto cheiro docê, meu maculelê, vem nega, me ama, me colore
Vem ser meu folclore, vem ser minha tese sobre nego malê.
Vem, nega, vem me arrasar, depois te levo pra gente sambar.”
Imaginem: Ouvi tudo isso sem calma e sem dor.
Já preso esse ex-feitor, eu disse: “Seu delegado...”
E o delegado piscou.
Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou pequena pena
com cela especial por ser esse branco intelectual...
Eu disse: “Seu Juiz, não adianta! Opressão, Barbaridade, Genocídio
nada disso se cura trepando com uma escura!”
Ó minha máxima lei, deixai de asneira
Não vai ser um branco mal resolvido
que vai libertar uma negra:

Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo-oprimido
que vai aliviar seu passado.
Olha aqui meu senhor:
Eu me lembro da senzala
e tu te lembras da Casa-Grande
e vamos juntos escrever sinceramente outra história
Digo, repito e não minto:
Vamos passar essa verdade a limpo
porque não é dançando samba
que eu te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
Meu engodo cultural!
Minha lavagem de lata!

Porque deixar de ser racista, meu amor,
não é comer uma mulata!

(Da série “Brasil, meu espartilho”)

E LÁ VAI O DIMDIM!

E o dindin que você doou vai virar Q uero ver se até segunda-feira mando o dindim dos presentes dos tiukinhos. Ainda não mandei porque tem u...