Longa madrugada...
Não tinha muito o que fazer. Eu não tinha medicamento algum alem dos que o médico me receitou no primeiro dia. Bebia água, sentia o peito doer cada vez mais e esperava o dia clarear.
Quando comecei a ouvir os primeiros sons de gente, me vesti recolocando as duas blusas de frio e desci com muito cuidado a escada rumo ao hospital.
Logo que desci vi uma senhora e assim que ia abrir a boca pra pedir ajuda, comecei a tossir e juro...juro...ela deu uma acelerada pra longe de mim.
Aí, vi uma moça vindo da direção do refeitório, com alguma coisa na mão e disse pra ela:
- Por favor, você pode me ajudar a ir até o hospital. Acho que não consigo ir sozinha.
Ela continuou andando mais lentamente e dizendo.
- Sinto muito, não sei onde fica o hospital. Sinto muito.
No que eu respondi com muita raiva:
- Tô vendo o tanto que você sente!
Continuei e encontrei um senhor varrendo o chão. Disse o mesmo pra ele, e muito delicadamente ele me deu o braço. Enfim, alguem ia me ajudar.
Andou comigo uns 10 metros e passou a bola pra uma outra senhora. Não entendi porque.
Esta, já ia me dar o braço então eu tossi. Ela acelerou e disse que era pra eu seguir ela, porque se eu caísse seríamos duas a cair, já que ela não aguentaria a me segurar. Sei!
Parênteses.
Nem por um minuto passou pela minha cabeça que tava rolando uma tal de Coronavirus. Acho que tinha lido alguma manchete a respeito, mas no Brasil já sou por fora de notícias, aqui então...
Fecha o parênteses.
Ela foi andando acelerado e eu só ficando pra trás, porque sempre ia por onde tinha lugar pra me segurar. O Hospital é perto, mas mesmo assim me pareceu muito mais distante do que da primeira vez.
Chegando lá, tudo fechado, ainda meio escuro, ninguem à vista e ele me mandou sentar enquanto ela procurava socorro.
Acho que dei uma pequena apagada, porque acordei com alguem me cutucando e levei um susto de pular da cadeira. Ô peleja!
Era o mesmo médico que havia me atentido. Tipo de pijama, com mais dois sujeitos.
Me mandaram entrar e sentar numa sala.
Sentar era só o que eu queria fazer. Ou melhor. Deitar.
Ele me fez algumas perguntas e juro que não me lembro. Falou sobre remédios que tava tomando, cadê a receita, sei lá mais o que e não me lembro se falei coisa com coisa.
Só sei, que daí a pouco veio o ajudante com um aparelho de respirar, sei lá como se chama, e colocou no recipiente um vidrinho com um medicamento. O vidro todo.
E me mandaram espirar.
Taquei aqui no nariz e comecei a fazer o esforço de respirar.
Parece piada, né?
E fui indo, fui fondo, não posso dizer por quantos minutos e aquela droga do vidrinho foi entrando pelos meus brônquios à fora e abrindo caminho tirando quase que por milagre a dor que eu tava sentindo.
Perecia milagre mesmo!
Isso não é delírio. Eu de olhos fechados respirando e toda vez que abria os olhos dava com os 6 olhos do médico e dos dois ajudantes olhando pra mim.
Que cena!
Aí ele retirou o apareio e me deu um negocio pra tomar, ruim, amargo, com gosto parecido com bicarbonato. Quase devolvi. Colocou mais um vidrinho do remédio milagroso no respirador, me devolveu e fiquei mais um bom tempo respirando aquilo.
Outra cochilada deve ter rolado, porque acordei com ele me cutucando com 5 pacotinhos de medicamentos na mão e me mandou ir pra cama e ficar lá até me sentir melhor.
Teve também um medidor de qualquer coisa que colocaram no meu dedo.
Lembro que me levantei, sentei ainda mais um pouco do lado de fora da sala esperando criar coragem e fui pro quarto.
Não me lembro do caminho da volta, só sei que acordei suando com aquele monte de roupa, grudando no colchão e no travesseiro de plástico.
O salvador da lavoura lembra isso aí.
Longe de terminar a novela, sorry.
continua...