Então, o assédio era constante; todo dia uma novidade. Foi uma época que ri muito. Eu trabalhava com um monte de rapazes e todos me faziam propostas quase irrecusáveis. Cada um queria me agenciar. Pelas contas deles ficaríamos milionários em pouco tempo. E faziam planos e planos...rs. Lá tinha gente do mundo todo, de países que eu nunca tinha ouvido falar, e, consequentemente, moedas das mais diversas. Era engraçado mesmo!
O respeito com os brasileiros era muito grande. Problemas mesmo, não me lembro de ter tido. Agora, com os nativos, era uma peleja, porque a falta de costume com a convivência com mulheres, deixava os bichinhos doidinhos da silva. Pra você entender : como brasileiro se pega o tempo todo, abraça, beija, eles chegavam querendo lascar um beijo, abraçar, passar a mão. Se a gente dava um espalha, achava ruim. Tipo: "Por que ele pode e eu não posso?" Difícil explicar.
E, com os nossos, também não era fácil, afinal, todos ali virávamos meio parentes ou amigos de infância. Então, quando alguém queria mais que isso, partir pra guerra mesmo, ficava difícil dar um fora, igual damos aqui no Brasil. Lá, a gente morava e trabalhava junto 24 horas por dia, vendo e convivendo sempre com as mesmas pessoas. Não dá pra dar um chega-pra-lá em todos, ou brigar com todos, sem ficar um clima ruim e, além do mais, era desagradável; todo mundo ficava sabendo, quer dizer, mó mico pro cara.
Foi numa dessas situações de "não-obrigada-passa-outro-dia-quem-sabe-talvez" que bolei uma forma legal de dizer "não" sem fazer inimizade e, ainda, saindo todo mundo na boa.
Seguinte: primeiro, o mané vinha com a conversa mole, aí, eu dizia: "ôôô meu bem, muito obrigada pela preferência, mas não vou querer não, obrigada!" Ficava engraçado e, às vezes, dava certo; morria aí a cantada.
Quando continuava e a insistência ficava grande, aí eu aplicava o golpe que era fatal.
Perguntava ao mané qual a cidade dele e qual o nome da avenida principal e lascava. "Escuta, se eu hoje, tivesse passando pela avenida tal, você me cantaria e iria ficar insistindo desse jeito? Porque, em Belo Horizonte, eu ando na Avenida Afonso Pena, pra baixo e pra cima, e ninguém fica doidim querendo me comer. Foi só atravessar o Atlântico, que virei essa formosura? Essa delícia cremosa? É ruim, hein? Dou não. Não dou nem morta!"
Então virava um riso só.
Quebrava o clima e a amizade continuava na boa.
Tinha aquela turma do desespero que, de vez em quando, voltava e lascava? "Ainda não?"
Aí, eu só ria, nem precisava contar o caso de novo.
O melhor foi que, muito tempo depois, eles mesmos contavam pros outros como tinha sido "o fora". Não era motivo de vergonha e virou até graça.