Quando eu era criança, não existiam shopings. Os bairros não eram independentes como são hoje. Tudo acontecia no centro da cidade, que a gente chamava de "cidade". Tava precisando de comprar tecido? Tinha que ir na cidade. Precisando de dar um presente? Vamos na cidade comigo? E era um programão!
Na rua Rio de Janeiro tinha a Casa Sloper. Era o must em matéria de coisas finas, presentes delicados e diferentes, era lá que a gente encontrava aquele agrado diferenciado.
Precisando de pregos, parafusos, ferragens em geral, era na Casa Tupinambás, na rua de mesmo nome.E tinham as casas de tecidos preferidas de nossas mães. Copacabana Tecidos, Casas Pernambucanas, Gizê. Em muitas delas tinham rapazes que desenhavam os modelos de acordo com o tecido que a gente comprava. Me lembro que todo mundo esperava na fila pro moço fazer o desenho, mas não me lembro de ter feito alguma roupa com o desenho feito por eles. Mas era chic. Pra comprar uniforme de escola o endereço era um só. O Mundo Colegial. O nome é ótimo, né não? Cadernos, livros e material escolar eram comprados na Rex da Praça Sete. Inclusive o plástico pra encapar tudo. Eu, sempre gauche na vida me lembro de encapar minha tralha toda com plástico preto. Era nemo e não sabia...rs.
Tomar um café "na rua", como a gente dizia, o caminho era o Café Pérola da Praça Sete. Podia também ser no Café Nice que era do lado.
A Savassi só existia com a Padaria Savassi, e a Drogaria acho que Vidigal. Mais nada. Não existiam supermercados e tudo era comprado ao lado de casa. Todo bairro tinha os armazés, padarias, açougues. As pesssoas tinham "conta ou caderneta", onde o dono anotava o nome de quem comprou e o que foi comprado, e era pago no final do mês. Meu pai nunca teve, nunca gostou. Tinha medo de perder o controle na gastação. Existiam lojas de móveis usados e antigos na rua Itapecerica, mas não íamos nunca porque a rua fazia parte da "zona", que era o nome da região das putas, então era melhor nem passar perto. Comprar perfume, sabonete melhor, algum produto pro cabelo ou presentes pras amigas, tinha a Perfumaria Lurdes que ficava na esquina da Av. Amazonas com a rua São Paulo. Chiquérrima!
Eu adorava ir ao Mercado Central com meu pai. Era imundo, chão de terra, que virava uma lama só porque as pessoas molhavam as verduras e legumes o tempo todo. Mas era muito bom passear vendo o corredor dos passarinhos. Me lembro de um incêndio que teve no Mercado e meu pai chorou quando ouviu no rádio o locutor dizendo que todos os passarinhos tinham morrido e viraram umas bolinhas de carvão no fundo da gaiola. Eles sabiam narrar e tocar a fundo o coração de quem tava ouvindo.
E me lembro de muito mais coisa, que se você tiver interessado eu conto...rs
Na rua Rio de Janeiro tinha a Casa Sloper. Era o must em matéria de coisas finas, presentes delicados e diferentes, era lá que a gente encontrava aquele agrado diferenciado.
Nossas mães costuravam. Se não costuravam tinha a vizinha que costurava pra gente. Então, precisando de linhas, botões, aviamentos, como chamava naquele tempo, onde a gente comprava? Na A Principal, que era também na Rua Rio de Janeiro. O pai precisava de pijama, meias, lenços? O lugar certo era o Grande Camiseiro na Tupinambás com Rio de Janeiro. E tinha as Lojas Americanas onde tinha de tudo um pouco. Mas o que todos nós mais adorávamos era depois das compras, sentar na lanchonete e comer bolo com sorvete. Quando as vacas estavam gordíssimas, a gente comia banana-split, ou um Havai, que era um abacaxi cortado ao meio com bolas de sorvete e mais um monte de coisa em cima. Delícia dos deuses!Como ainda não conhecíamos sexo, não tínhamos celulite nem colesterol alto, não existia nada melhor no mundo.
Meu irmão e eu fomos a todas as pré-estréias de domingo no Cine Brasil. Íamos também ao Cine Candelária e Metrópole e me lembro, que depois de muito infernizar a ideia do meu pai e da minha mãe, eles nos deixaram ir a um programa de auditório da Rádio Inconfidência, onde entre outras atrações, cantavam calouros. E me lembro da Roberta Lombardi, hoje dona da Vide Bula, cantando uma música em italiano. Quase morri de inveja dela. Íamos também ao Cine São José e Cine Odeon. Na minha infância vi todas as chanchadas da Atlântica, todos os filmes de Joselito e Marisol, Sarita Montiel e Cantinflas.
Comprar sapatos, ou era na Balalaika ou na Clark da Av. Afonso Pena. Esta última com sapatos mais finos e mais caros. Coisas só pras mães. Me lembro de uma sapataria que se chamava Praça Sete Calçados. Lembro das árvores da Afonso Pena, e também de quando deu uma peste de um bichinhos miudinhos pretos, que foram os culpados pela poda delas. O prefeito na época se chamava Amintas de Barros e os bichos viraram os "amintinhas"...rs... nada mudou. Os políticos continuam sendo uma praga!
Tomar um café "na rua", como a gente dizia, o caminho era o Café Pérola da Praça Sete. Podia também ser no Café Nice que era do lado.
A Savassi só existia com a Padaria Savassi, e a Drogaria acho que Vidigal. Mais nada. Não existiam supermercados e tudo era comprado ao lado de casa. Todo bairro tinha os armazés, padarias, açougues. As pesssoas tinham "conta ou caderneta", onde o dono anotava o nome de quem comprou e o que foi comprado, e era pago no final do mês. Meu pai nunca teve, nunca gostou. Tinha medo de perder o controle na gastação. Existiam lojas de móveis usados e antigos na rua Itapecerica, mas não íamos nunca porque a rua fazia parte da "zona", que era o nome da região das putas, então era melhor nem passar perto. Comprar perfume, sabonete melhor, algum produto pro cabelo ou presentes pras amigas, tinha a Perfumaria Lurdes que ficava na esquina da Av. Amazonas com a rua São Paulo. Chiquérrima!
Eu adorava ir ao Mercado Central com meu pai. Era imundo, chão de terra, que virava uma lama só porque as pessoas molhavam as verduras e legumes o tempo todo. Mas era muito bom passear vendo o corredor dos passarinhos. Me lembro de um incêndio que teve no Mercado e meu pai chorou quando ouviu no rádio o locutor dizendo que todos os passarinhos tinham morrido e viraram umas bolinhas de carvão no fundo da gaiola. Eles sabiam narrar e tocar a fundo o coração de quem tava ouvindo.
E me lembro de muito mais coisa, que se você tiver interessado eu conto...rs
Na minha adolescencia quase tudo mudou. Mas aí, já é uma outra história!
Tantas lembranças... Ainda me lembro de algumas das cenas que você descreve. Isso me fez voltar ao início dos anos 2000. Mais exatamente 2002, quando cheguei ao pampa gaúcho. Logo no primeiro inverno, fui a uma cidadezinha chamada MATA. Toda ela calçada com madeira petrificada, com mais de milhares de anos de idade. Uma praça inteira feita dessa mesma madeira mineralizada. Um encanto. A viagem bucólica, entre picadas e mataburros (será que tem hífen?... Preguiça de olhar no dicionário...) com cascatas pequenas e os pingos de orvalho quase gelo caindo... Deu saudade...
ResponderExcluirbeijinho
Olá Amiga!
ResponderExcluirAo ler seu texto me lembrei que também escrevi sobre isso e me vem a pergunta: será que a Slopper teve consciencia da marca que fez nas nossas vidas? segue o caminho para o post sobre o tema:
http://brincando-com-palavras.blogspot.com/2009/05/rio-antigo-2.html
grande abraço,
Tutti
Ieda,
ResponderExcluirmuito legal as lembranças da BH antiga (muito mais interessante que a atual).
Me deu uma dúvida: A Sloper não era na Av. Afonso Pena? No Ed. Guimarães em frente ao Sulacap? Me lembro que o fuxico de sábado de manhã era ali....
beijos
A primeira loja foi na Rio de Janeiro e depois mudou pra Afonso Pena...e a gente passeava sábado de manhã escolhendo os pares pra dança da noite, lembra?
ResponderExcluirbjos bjos e saudades meu bem
Ai Jr vontade de conhecer essa Mata e este chão. Vou ver se encontro alguma coisa no Google...
ResponderExcluirbjosbjos
Adorei seu textro Tutti. Eu penso que a Sloper poderia estar aqui até hj e não iria fazer feio perto de nenhuma loja atual de shoping. Bons tempos aqueles que sair com a mami à tarde era um programão. Aproveite bem a sua e encha ela de perguntas...rs.
ResponderExcluirbjos bjos
Ei Iêda, adorei seu relato, até parece que eu estava com vc. Qta coisa boa de se lembrar.Sabe de que me lembrei?, da Perfumaria LOudes na rua são Paulo onde se comprava de tudo para a beleza.Pó compacto , gumex etc...
ResponderExcluirBoas recordações.Júnia
Oi Junia, eu coloquei...adorava o chiquê das vendedoras...bons tempos, né amiga! Sem nostalgia.
ResponderExcluirbjos bjos
Afff que agora quase morri nas saudades...Ainda mais por conta de mamis que me carregava e eu amava ir com ela a cidade...Banco da lavoura, Perfumaria Lourdes, Slopper e depois lanchar na Torre Eifell ou no Teds grudado no Cine Jacques...aí vieram os tempos da Guanabara e Pepsi (lojas com es-ca-das rolantes rsrs)...afff que tem lembrança pra mais de metro!
ResponderExcluirBeijuuss n.a.
Que relato interessante! Mais ainda como vc o descreve, ri de alguns, me encantei com os detalhes,fantático lembrar de coisas assim.
ResponderExcluirConheci a Slopper sim, da praça Sans Pena no Rio,sempre ia lá, vários andares.
Criança é curioso e não tem pressa, observa, grava tudinho.To vendo como já andava nesta época,pelos
Caminhos de BH...
Ieda, bons tempos!!
ResponderExcluirComo dizia o Ataulfo Alves, Susi: eu era feliz e não sabia...
ResponderExcluirbjos bjos
Ieda
ResponderExcluirGarota sou mineira e adorei as lembranças da nossa Belonzonte.
Lembro da SLOPER na Afonso Pena, Americanas que ocupava um quarteirão inteiro internamente na São Paulo
E as lojas Bemoreira, e aquela de 12 andares na Afonso Penao troleibus na Bahia
Bons tempos
Beijos
Boas lembranças Mara. Anotadas pro próximo post...brigadim e some não
ResponderExcluirbjos
E o Abdala, ali na Afonso Pena?
ResponderExcluirO Abdala é fogo na roupa, com ele ninguém pode veja os preços que ele tem....
Muito bom o texto, eu pensava que era só a minha mãe que nos levava às Lojas Americanas. Nunca me esqueci do gosto do Ice Cream Soda deles e, mais tarde, do Hot Butterscotch do Xodó. Para onde foi toda aquela gente?
beijos, Leonardo
É bom lembrar né Leonardo? Claro q me lembro do Abdala...O Xodó continua firme na Praça da Liberdade...um lutador. Acho q seguram a onda pelo ponto, pq ele tá bem caidinho
ResponderExcluirbjos bjos
Muito legal essas lembranças...lembro-me também das Lojas Peg's (o Mussum cantava na proganda), Lojas Bemoreira Ducal e a Embrava (tinha um dragão pintado na lateral de um prédio na Av. Amazonas)....abraços
ResponderExcluirQue legal! Como você escreve bem... A gente viaja no tempo. Já pensou em escrever novelas? Grande abraço.
ResponderExcluirOlá! Tudo bem? otima matéria. A Sloper que vc postou em Foto é a loja de Petrópolis/RJ, vc teria uma foto da loja em BH???
ResponderExcluirOi Allan. Brigada meu bem, nunca pensei...rsrs...bjosjbos
ResponderExcluirVou ver se consigo uma foto dela e te aviso...bjosjbjos
ResponderExcluirbrigada e volte sempre aqui
Adorei o relato do passado de BH.Merece um livro.
ResponderExcluirAfonso, vc pode não acreditar mas essa noite sonhei que tava mostrando meu livro no Jô...doido né...
ResponderExcluirbjos
Olá!!!
ResponderExcluirProcurando informações sobre a Loja Peps, encontrei vc, que transportou-me para o meu passado.... inocente e feliz. Deus lhe abençoe por me proporcionar estas recordações. Estou chorando de felicidades, sou um mulher realizada. Obrigada.
Fico muito feliz em te fazer feliz. Some não...dá um passeio pelo blog que voce vai gostar...rsrs....jbjosbjos
ResponderExcluirse lembrar de uma rede de lanchonetes -galeria odeon- especializada em banana split, comente algo sobre
ResponderExcluirEm Belo Horizonte?
ExcluirMuito legal mesmo - tambem me lembro de quase tudo isso ai - apesar de ter me mudado para BH somente em 65 -mas vivi muito disso tudo - cinemas entao - saudades do Metropole mas na epoca que minha irma Zelia trabalhou na Sloper era na Afonso Pena - deve ter mudado para la depois da Rio de Janeiro, - bons tempos aqueles - saudades,
ResponderExcluir