Pra quem sabe é tudo tão simples! Simples refogar um arroz, fazer um bolinho, costurar uma roupa, pregar um botão, limpar uma casa. Nós mineiras pelo menos até a minha geração, não sei daqui pra frente, aprendemos a fazer de tudo um pouco.
O brasileiro de modo geral se vira. Se vira mesmo. Num minuto aprende a fazer um trabalho e com pouco tempo já é profissional.
O causu de hoje é exatamente sobre este nosso jeito virador.
Estava eu me virando em Paris. Me virando super bem, porque fazia uma coisa que adorava. Cuidar de criança. Já contei aqui alguns causus desta época. Minha função era tomar conta do pequeno. Tudo; rango, roupas, médico.
De vez em quando dava uma geral na casa, quando começava a ficar difícil de circular.
Aí, meu patrão chegou com umas sacolas e deixou espalhadas as roupas compradas numa poltrona da sala. Um, dois, três, cinco dias. No sexto dia peguei as sacolas e falei pra ele.
- Que você vai fazer com isso? Pode guardar ou deixo aqui na sala dando um help na decoração?
Ele disse:
- Preciso arrumar um tempo pra levar sei lá onde, pra fazer as bainhas.
Eu:
- Só isso? Se você quiser eu posso fazer.
Ele me olhou tão assustado como se eu tivesse confessado que sabia onde tava o Bin Laden ( mentira, naquele tempo ele não era famoso ainda , mas tava trankis nos EUA se preparando pra dar o bote).
O que ele disse foi:
- Você sabe fazer isso?
Eu, filha de costureira e alfaiate, tinha nascido com uma agulha nas mãos.
- Claro que sei. Quando você quiser, vista, que eu marco e faço as bainhas.
No mesmo minuto ele arrancou as calças, ficou de cuecas em cima da mesinha de centro e já foi vestindo a primeira delas. Marquei e ele ia vestir a segunda no que eu disse:
- Precisa não. Faço uma pela outra.
Agora ele me olhou como se tivesse vendo um ser iluminado. Tipo alcançando o nirvana. Como pode alguém ser tão prendada!
Como alguém pode saber fazer isso?
Enquanto o pequetito dormia à tarde, liquidei as três operações e coloquei no cabide do armário dele.
Ficou eternamente grato.