Olha ele aí de novo. Quem acompanha o blog já conhece essa peça rara daqui
E passei de propósito agora pela rua dele e lá tava ele e sua turma.
E descalço. Vontade de dar "um couro" nele.
Engraçado, que me veio agora a idéia de que dar uma surra com correia de couro antigamente era costume. Daí deve ter surgido a expressão, "dar um couro"!
continuando...
Ele veio todo sorridente falar comigo e claro que junto com ele mais uma dezena de crianças.
Perguntei:
- Kadê a sandália?
- ?
- Por que não tá de sandália?
- ?
A carinha dele era de indignação, dúvida, não entendimento da pergunta.
E eu vou entendendo aos poucos, muito pouco, a cabecinha desse povo.
Ok, comprei a sandália, usou uma semana e sei lá onde enfiou. A explicação que dei sobre a necessidade de proteger os pés foi pouca, muito pouca pra quem nunca andou de sapato. Deve pensar:
- Que raio de bicho é esse que entra pelos meus pés e eu não posso ver...coisa de povo estrangeiro. Besteira! Muito melhor ficar em contato com a terra, correr e brincar sem sandália me "empaiando"!.
Ai Jesus! E a gente faz as coisas achando que tá fazendo um vantajão.
Se não bater dia e noite na cabecinha deles, não vai entrar de forma alguma.
Como diz o ditado antigo:
Angu de um dia não engorda cachorro magro!
Desde pequetitos eles ajudam na labuta da casa
Mais fashion impossível! Como eu gosto. Cada botão de uma cor...rss...
Pra variar estamos em época de festival, de oferendas aos Deuses. De agradecimentos. Então todos se viram e tem uma roupinha nova pra colocar. E sempre bem coloridas porque é assim que os Deuses gostam. Brilho e cor.
Tudo muito!
Velho conhecido...muito fofo!
Pose pro namastê
Aí veio o pedido!
Porque na cabeça deles todo mundo que vem de fora tem dinheiro. Muito dinheiro. Rico. Riquíssimo! E eu não ia ficar de fora dessa. Quem tá acostumado a me ver pelas ruas de Bodhgaya, tem certeza absoluta que eu tenho dinheiro pra dar com pau e não tem santo que tire isso da cabeça deles. Já desisti de dizer que não tenho.
Porque na cabeça deles todo mundo que vem de fora tem dinheiro. Muito dinheiro. Rico. Riquíssimo! E eu não ia ficar de fora dessa. Quem tá acostumado a me ver pelas ruas de Bodhgaya, tem certeza absoluta que eu tenho dinheiro pra dar com pau e não tem santo que tire isso da cabeça deles. Já desisti de dizer que não tenho.
E o Arvind falou com a maior simplicidade do mundo:
- Compra uma bicicleta pra mim!
E eu respondi como se fosse verdade:
- Descalço você não ganha nada, se tivesse de sandália eu comprava.
Ele quis só morrer um tico. Deve ter pensado:
Se eu soubesse que iria me encontrar com essa filha da puta hoje teria colocado a porra da sandália. (eu pensaria assim...rss...ele deve ter sido menos grosseiro...rss..)
Ficou olhando pra mim com cara de: - mas não é possível, só porque não tô de sandália!
Aí eu disse, que comprar bicicleta não é como comprar uma sandália, que é muito caro e eu não tinha dinheiro e quem sabe um dia, se eu tivesse, eu iria me lembrar dele.
Mesmo que tivesse a grana não compraria. Comprar só pra ele não faz sentido. E o resto?
Como o indiano vive com fome, ou melhor, a qualquer hora que você ofereça comida eles aceitam, sugeri um lanche pra quebrar o galho já que não iria rolar bicicleta.
Toparam na hora...melhor agarrar o certo...rss
E nos sentamos na escadinha dessa loja pra comer uma samossa muito gostosa com refrigerante. Evidente que ninguém quis suco. Já viu criança querer suco no lugar de refri? Nem aqui. Ou melhor, muito menos aqui, onde tomar um refrigerante que custa 30 rúpias* é artigo de muito luxo.
Igualzim no Brasil dos anos 50, 60. Refrigerante, só no aniversário e Natal.
Mas o Arvind não ficou convencido. No dia seguinte quando saí de casa ele tava me esperando e falou de novo na bicicleta. E eu repeti a mesma história. Ele foi andando atrás de mim, porque muitas vezes eles sabem que vencem pela insistência e eu fui mais dura com ele, apesar de ser difícil demais pra mim, falei: - volte pra sua casa que não vou comprar bicicleta. Se for comprar algum dia sei onde te encontrar.
E ele voltou cabisbaixo. Nem olhei pra trás pra não voltar atrás e fazer besteira. Não posso, não devo e não tenho condição de comprar tudo que me pedem.
A propósito. Sabe quanto custa uma bicicleta novinha em folha?
70 dólares ou 140,00 reais.
E pensando, pensando, se a gente compra 10 bicicletas pra escola? 20 crianças vão poder ir e vir com mais conforto e confiança.
Li uma reportagem sobre um adolescente americano que tem comprado bicicletas pra crianças indianas e ele disse uma coisa muito interessante:
"A experiência tem sido muito bem-sucedida e o próprio Thomas Hircock admite que tem aprendido muito, nomeadamente que um simples meio de transporte pode ser revolucionário. “Dar uma bicicleta a estas crianças é torná-las mais fortes, é dar-lhes poder. É uma coisa incrível de se fazer”, conclui".
*30 rúpias mais ou menos 1 real - pra você ter uma ideia do quanto é caro, 1 samosa, que é enorme e muito nutritiva, custa 5 rúpias, mais ou menos 0,20 centavos
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