A casa tinha um sistema de alarme - hoje comum em qualquer cafofo no Brasil - mas, na época, eu me sentia trancafiada em Guantánamo . Aí vocês vão dizer: "Por que não Carandirú?" Dãnnn...
Fui alertada, avisada, apavorada, ameaçada pela patroa, quanto ao serviço de segurança. Não me lembro a que horas mas, na hora X, a coisa ligava automaticamente e, daí pra frente, se alguém encostasse em uma janela ou porta externa ou respirasse mais profundamente, o FBI da Flórida apareceria armado até os dentes em um minuto.
Agora, pensem bem na pobre da minha pessoa. O pavor da noite !
A primeira coisa que fiz, foi colocar minha cama no meio certo do quarto, porque o lugar dela era perto de uma janela e, vai que eu dormindo, desse um pontapé na janela, tava no sal. Logo eu, que durmo tão quieta, que até tenho "dormensa" por não mudar de posição. Mas, diante do pânico, melhor prevenir.
E eu tinha pesadelos por conta dessa coisa. E, nos sonhos, sempre tinha que sair dali correndo, mas o alarme não poderia soar. Peleja!
E lá vou eu achando cada vez mais estranho tudo aquilo.
No terceiro ou quarto dia que eu tava lá, o casal foi viajar, sei lá pronde. Velejar, iatar, sei não, alguma coisa na água. E me deixou responsável pelo embondo. Pode? Nunca tinham me visto mais gorda, aquela casa cheia de tudo, uma criança, e eu responsável.
Devo mesmo ter cara de criatura confiável. Todo mundo confia em mim, me conta segredos e confidências, mesmo que eu diga, pelo amor de Deus, que não quero saber. Contam assim mesmo.
E fiquei com o comando da tropa.
Conversava com o povo - 99% de origem hispânica - fiquei sabendo da vida de cada um, das famílias, sonhos.
Foi aí que me tornei amiga da dominicana; era divorciada e tinha duas filhas adolescentes. Era evangélica e adorava música e dançar.
O primeiro domingo de folga, saí pra dar uma reconhecida na região. Parecia cidade fantasma. Não sei se por ser domingo, mas nunca vi ninguém. Nunca vi um vizinho.
Todos andam de carro, com vidro fechado por conta do calor, vai cada um pegando sua alameda, e somem no meio dos jardins. Nem criança pegando o tal ônibus amarelo; nunca vi uma sequer.
Fui andando até a praia, uns três quarteirões, crente que ia dar uma caminhada pela areia, molhar os pezinhos, refrescar.
Sonho meu!
Não consegui chegar até o mar, todas as casas tinham portões com cadeado no caminho pra praia. Particular. Só faltava a placa: "Se passar desse portão, leva bala."
Andei um bom pedaço pela avenida beira-mar, caçando uma brecha e desisti. Voltei. Mais tosco que isso foi ir à praia na Grécia, pagando, com roleta e tudo; tenho foto (depois conto esse causu).
E continuei achando....
No terceiro domingo, a dominicana me convidou pra almoçar na casa dela. Deus seja louvado! Eu iria com ela, depois que ela terminasse o trabalho na sexta porque, naquele fim de mundo, quem não tem carro não sobrevive. Tipo eu.
Só tinha um pobreminha : ela ia à igreja, ao culto. Topei na hora! Mais uma semana naquele lugar, eu ia pirar o cabeção (mais do que já é). Achei o programa fantástico !
E fui.
O povo todo com roupa de ver Deus porque, americano pra ir à igreja, se apronta mesmo. Levam a coisa a sério. Não é essa lambança nossa não. Povo todo nos trinques. E eu lá.
Assisti a tudo e depois fomos pra casa dela.
O oposto, evidentemente , West Palm Beach, naturalmente. Casa simples, estilo classe média americana. Tudo igual ! Conheceu uma casa, viu todas, mas muito acolhedora. As garotas foram simpáticas comigo. O dia foi só alegria !
Foi o único dia que não achei aquilo tudo muito estranho.
Amanhã, entro na quarta e última semana dessa aventura. E findo. Inté !