Este é o primeiro e o último século que passo, de corpo presente, de um século pro outro. Eu e uma cambada. E acho que isso tem pirado o cabeção do povo. A passagem do século XX pro XXI ainda não foi bem digerida por muitos.
Explico! Calma!
O tempo voando, a gente com mil coisas pra fazer e não tem tempo, atividades se acumulando e nós pirando.
E o que é pior: num país quiném o nosso, onde ter mais de 30 anos já tá velho pra cacete, a coisa fica ainda mais difícil.
Vou contar um caso, mas não quero saber de gozação, porque já ouvi o suficiente... rs
Sabe daqueles casos que você poderia guardar só pra você mesmo, sem testemunha mas, de tão engraçado, não consegue e conta pra todo mundo, mesmo sendo o maior gol contra? Pois é. Então lá vai.
Com a virada do século, até quem tem só 15 aninhos, nasceu no século passado. Correto? Correto.
Lá fui eu ao médico. Consulta de, não me lembro mais o quê, talvez pra ver como anda minha memória. Então, como toda primeira vez, tem que preencher uma ficha.
A secretária novinha, mesmo pertencendo ao século passado, tava na casa de uns 20 a 22 anos.
Toda gentil, começou com as perguntas: nome, endereço, profissão, plano de saúde, CEP, imeio, data de nascimento. E eu fui respondendo. Tudo bem! Quando chegou na data de nascimento, eu disse:
" 25 de setembro de 48."
Ela olhou pra mim, como se tivesse vendo um Avatar. Olhou pro teclado do computador dela, fez que ia escrever, olhou pra mim de novo, pro teclado, pra mim, e falou com a cara de maior interrogação do mundo: "É 1900, né?" E eu, pra não deixar a moça mais sem definição do que já tava, brinquei: "Tá espantada com meu estado de conservação? Nunca imaginou que pudesse conhecer um ser do século passado e, ainda por cima, da primeira parte do século, ainda vivo, com saúde e se locomovendo sozinho...?" Ela não sabia o que fazer com a total falta de graça. Garrou a pedir desculpas e mais desculpas "Eu não quis dizer nada disso, só fiquei confusa" e foi falando e eu rindo muito e já louca pra contar o causu pros amigos.
Disse pra ela: "Por favor, nem esquente! Achei engraçado demais! Adorei essa história. Agora, tome cuidado, porque conheço pessoas que, se ouvirem uma pergunta dessa, vai ser a última que você fará. E, ainda por cima, vão sair livres no julgamento usando, como argumento, legítima defesa da honra".
Eu, como tô pouco me lixando pra honra, a essa altura do campeonato, nem ligo. Nem te ligo farinha de trigo!
Como diz meu amigo, que tá quase "parando de fumar": "Tô mais preocupado agora é em continuar respirando."