Quando eu fui à China há muitos anos, fui influenciada, primeiro pela minha paixão o Henfil ( que escreveu Henfil na China) e, segundo, por todos os chineses com os quais trabalhei no Iraque. E foi muito bom! Muito bom e muito diferente de tudo. E olha que eu tava morando em um país árabe, o que, pra nós brasileiros, em matéria de diferença, já tá de bom tamanho.
Chegamos a Beijing ou Pekim, à noite. Sempre digo: nunca cheguem à noite em lugares desconhecidos. Mas nem sempre podemos escolher.
Parecia que era o último vôo chegando, então o aeroporto ia fechando às nossas costas. Tentei procurar um balcão de informações mas fui, gentilmente, empurrada pra saída do aeroporto. Acabamos de sair e já apagaram as luzes e fecharam as portas na nossa sombra.
No que colocamos o nariz na rua, na porta do aeroporto, choveu chinês em cima da gente. Motoristas de táxi. Todos colados em nós ( éramos eu e uma amiga) e falando ao mesmo tempo. Em chinês, claro! E nós não entendendo nada. Não adiantava fazer gestos, pedindo pra se acalmar. Ninguém queria perder sua última chance de ganhar o troco do dia.
Num repente, eu sou "de repente", me deu uma doida e dei um berro que sacudiu o mausoléu do Mao lá na Praça Celestial. E acompanhado do berro, veio o palavrão. Daqueles chics que saem com muito poder.
Deu-se um silêncio absoluto.
Peguei um papel e fiz um $ seguido de uma interrogação, seguido de um desenho de um avião e um hotel. Como eles estão acostumados com símbolos, em um segundo todos entenderam o que eu queria.
Ir pra algum lugar era óbvio, mas queria saber quanto ia pagar.
E não é que nos entendemos e ainda discuti e consegui o melhor preço?
Amanhã eu conto pra onde o motorista nos levou.
Henfil na China
Círculo do Livro - 1982