A turma de fiéis leitores sabe que a princesa tava na casa dos 70 aninhos mas, com corpete e belezura de 50, correto? OK.
E que ela quase toda noite saía pra jantar com amigos, reuniões e sei lá mais o quê.
E que nós morávamos num apartamentinho de 11 peças, perto do Arco do Triunfo. Lugar simplesinho.
E também se lembram que ela teve uma educação severíssima, daquelas que não perde a pose nem no trono. Bobagem minha, trono é lugar de pose. Plebeu é uma raça que não entende nada mesmo.
Tô dando esse resumo pro caso fazer sentido. O que vou contar.
Os meus aposentos ( chic demais! ) ficavam no início do apartamento e a janela do meu quarto ficava bem acima da porta de entrada do prédio, no primeiro andar.
Um belo dia, ela saiu toda serelepe eu fiquei na minha, fui dormir e já tava no meu estado de coma normal de quando durmo, quando acordei com pedrinha na janela e ela me chamando alto. (Princesa não grita....rs)
Saí do coma tonta, abri a janela e ela falou quase chorando: "Esqueci o código da porta. Qual é mesmo?" Eu disse, ela abriu e entrou.
Voltei pra cama num pulo e, quando já tô me ajeitando, ela entra no quarto. Isso jaaaamaaaaais aconteceu. Nunca ela entrou no meu quarto. Se precisava de alguma coisa batia na porta.
Foi entrando e falava meio que desesperada: " Isso nunca me aconteceu... que que pode estar havendo? Nunca me aconteceu antes..." e repetia, repetia. Depois de uns minutins, virei pra ela determinada a terminar com a patacada e disse: "Escuta princesa, se nunca aconteceu, aconteceu agora, hoje. Vai dormir. Amanhã escrevo num papelzim o código e doravante prafrentemente andarás com ele na bolsa. Tá bem? "
Ela sentiu que eu tava pondo um fim na prosa e caiu fora.
Pode? Eu tô lá preocupada de ficar guardando tralha na cabeça? Mas ela era de uma rigidez do cão. Não se conformava com este esquecimento. Deve ter ficado com medo. Aquele medo que começa aos 30.
Mas coloquei o papelzim na carteira.
Agora, só faltava me acordar pedindo óculos pra ler o papelzim.