
E a minha amiga voltou pro seu cantinho em Cannes.
Depois de 2 meses e meio aqui comigo, depois de conhecer meus amigos, minhas família, de ter comido só Deus sabe quantos pães-de-queijo, de ter se sentado comigo no Parque Municipal de Belo Horizonte, várias manhãs, fazendo o seu inseparável crochê, depois de ter me perguntado, logo a mim que não entendo quase nada de plantas, o nome de várias delas, flores, árvores, queria curtir cada folha e cada flor que ela nunca tinha visto antes.
E fomos a restaurantes e foi convidada pra almoços e jantares em casa de amigos e família. E foi paparicada como nunca jamais havia sido em todos os seus 92 anos de vida.
Não cansava de falar de Araxá, das termas, do quanto havia rejuvenescido, dormido e se alimentado bem.
Fomos nos despedir dos novos amigos que ela tinha feito nas tardes de Bridge. Quase rolou chororô do lado dela. Do lado brasileiro, normal. Povo chora sem vergonha. Só não rolou porque, como já disse, depois de tanta revolução, tanta guerra e tanta perda, parecia que as lágrimas ali já haviam secado. Tinha mais nenhuma rolando externamente não mas, por dentro, pelo que conhecia dela, já sentia a tristeza de estar voltando pra sua solidão, pra sua vida sozinha, com todo conforto, tudo bem! mas com quase zero de calor humano, de abraços, de beijos e de falação sem fim em seus ouvidos.
Foi embora com a bolsa cheia de mudas de plantas. E eu dizendo que elas iam morrer no abafado da mala e ela nem me ouviu, o que fez muito bem porque, quando voltei a Cannes, não é que todas estavam lá vivinhas da silva e lindas? Plantas tropicais brasileiras enfeitando a varanda francesa de uma polonesa muito querida.
Então, quem gostou das histórias da polonesa, vai pensar : "Que pena! Acabou? Não vai ter mais?"
Não se preocupem. Só fechei a história da vinda dela, pela primeira vez, ao Brasil, aos 92 anos.
Como assim primeira? Ela voltou, então?
Voltou minha gente e, desta vez, pra morar. Pra morrer aqui, segundo ela.
Como diz uma amiga :
"Voltou agora em definitivA."