Eu sempre tive vontade de morar em Londres. Conhecia a cidade passeando, turistando e tinha vontade de viver a experiência de ser moradora, o que é completamente diferente. E foi !
E lá fui eu. Tenho uma grande amiga que morava lá, na época, e fui ficar na casa dela até me ajeitar e ver se queria fazer meu ninho naquele lugar.
Só não pensei em um detalhe muito simples : estava chegando à Inglaterra no princípio do inverno.
E ninguém pode imaginar o que vem a ser um inverno naquela ilha. Quem tem tendências suicidas, deve fugir da Inglaterra no inverno, de Londres, principalmente. Não sei se ainda tá valendo, mas um dos maiores índices de suicídio da Europa é Londres no inverno.
Não tô dizendo isso, esperando espantar o povo de visitar a cidade. Visitar, passar 2, 3, 5 dias é uma coisa. Vai morar!
É o ó do borogodó.
Já ouvi várias vezes pessoas dizendo que, a cidade que nos recebeu primeiro, quando largamos a Pátria Amada Idolatrada, Salve! Salve! é que conta. Não adianta querer ir morar em outro canto, que não vai se adaptar. Pode ser. Me sinto em casa em Paris, totalmente, nunca fiquei tão à vontade morando nos outros lugares que morei. Segundo lugar que fico bem é NY.
Costumo comparar Londres no inverno, com a casa da família Addams. Quem se lembra? Aquela coisa escura, esquisita, com uma nuvem chovendo constantemente em cima dela. Só faltam os morcegos.
Bom, cheguei, agora hora de procurar emprego. Meu inglês que, nunca foi dos melhores, na época era pior ainda, então, a otimista aqui resolveu procurar trabalho onde eu pudesse usar o meu francês. Quem caça, acha!
Fui até a Aliança Francesa e, olhando os anúncios de ofertas de trabalho, dei com um que era pra cuidar de duas meninas - uma com uns 4 anos e outra pequetita de 1 aninho - falando francês. Sopa no mel. Adoro criança, pagavam bem e ainda sem me preocupar com a canseira do inglês.
A família morava em Sloane, bairro chic, de gente cheia da grana.
Era uma moça nascida nos EUA, filha de francesa com inglês. E o marido, adivinhem? Brasileiro, de uma família de banqueiros conhecidos do Brasil, simpáticos os dois e as crianças muito fôfas.
Conversamos, me deu todas as coordenadas, levar e buscar a menorzinha na escola e ficar com a pequena enquanto isso, dar comida, passear, aquelas coisas de criança. Espantei quando ela me disse: "Querendo ir ao jardim, a chave fica pendurada ali" e mostrou qual era.
Quem viu o filme Notting Hill, com a Julia Roberts e o Hugh Grant, sem dúvida se lembra do jardim que eles pulam o murinho pra conhecer e depois termina o filme com os dois já lá, como moradores e frequentadores. Pois então ! Londres é cheia desses jardins e os frequentadores são os moradores do quarteirão. Uma chiqueza só !
Pra mim, não tinha coisa mais engraçada do que pegar a chave pra ir brincar no parquinho do jardim. Melhor que isso, só as praias de Palm Beath, que não consegui ir porque todas tinham portões fechados. Trabalhei lá num lugar vizinho dos Kennedy... (depois eu conto isso e já adianto : nunca vi nenhum deles...rs).
Voltando a Sloane ... um belo dia, conversando com minha patroa, ela me disse: "Sabe o que mais me chamou a atenção em você e que pensei que você seria legal com minhas filhas?" E eu já pensei : "Lá vem coisa". Ela me disse: "Quando você veio tratar o trabalho, tava usando meias com ursinhos e eu pensei - Quem usa meia de ursinhos só pode amar crianças e é ainda uma". Pode uma coisa dessas?
Mas, mesmo assim, não deu pra ficar em Londres. Realmente a cidade e eu não nos demos bem no casamento, continuo com o namoro, ou melhor, "só ficando" aí, não tem problema.
Adoro Londres... nos 15 minutos de verão então, a cidade é maravilhosa... hehehe...