30/10/2012
às 19:47 \ Feira LivreReynaldo-BH: Ieda Dias, uma brasileira que faz a diferença
REYNALDO ROCHA
Nossa amiga EIDIA, ─ comentarista aqui do blog ─ é uma mulher destas especiais.
Que sempre se recusou a ser ativista somente frente a um teclado.
Que desconfia das ações oficiais. E mantém a capacidade de se indignar. Como todos nós.
Mas ela vai além.
Ieda (este é o nome dela) faz a diferença. Faz da indignação, ação.
Sem rancores, bandeiras ou discursos raivosos. Faz porque entende que viver, ao final, é isto.
Ela conhece, literalmente, o mundo. Desde Paris ─ onde morou ─ ao Iraque. Desde a Palestina a Israel. Do Brasil à Índia.
Ieda, em uma destas viagens, ficou impressionada com o Brasil na década de 1950 que encontrou na Índia. Pelos costumes e pela extrema pobreza e falta de atendimento à população.
Ao lado de um templo budista que visitava, conheceu uma comunidade de lavradores que sobrevivem daquilo que plantam. E festejam a vida, com danças, cores e fé. Ieda, imediatamente ─ já naquele primeiro contato ─ resolveu que iria fazer algo. E começou a participar de um projeto ─ idealizado pelo jovem motorista indiano (mais um que acredita na utopia ─ chamado Prema Metta). Que contava com um pequeno auxílio de japoneses que haviam conhecido o local.
Ieda voltou ao Brasil e fez um movimento ─ solitário a início e com o apoio, pequeno e muito menor que o que é necessário ─ para angariar fundos para construção de uma escola no local e um posto de saúde.
Foram leilões, doações, vendas do que trouxe de lá, etc.
E aos poucos, sem NUNCA desanimar, teve a ajuda de boutiques conhecidas, cervejarias e amigos. Fez um leilão e arrecadou o que pode.
A sobrevivência dela? Com o próprio dinheiro. Não recebe um centavo para se manter na Índia, seja de hospedagem ou alimentação.
Simplesmente porque não dá! Cada centavo tem uma destinação certa e necessária.
E lá se foi Ieda. Mala com excesso de bagagem, com bonecas, livros de colorir, panos e tudo o mais que poderia fazer uma criança feliz.
Em menos de um mês conseguiu ─ com os recursos que levantou aqui ─ colocar energia solar na pequena escola de umas três salas. E ventilador de teto (lá é comum, nesta época, fazer 40 graus!). Idem um estrado coberto com mantas, para tirar os meninos e meninas do chão batido de terra onde estudavam. Doou notebooks para a escola (um) e para o professor.
No dia 27 de outubro, mais um passo do sonho foi dado. Inaugurou o que ela chama de miniposto de saúde. E os locais denominam de hospital. O que fica mais próximo, fica a horas de distância.
Tenho um profundo orgulho de ser amigo de Ieda. De quem NUNCA se acomodou com a situação de injustiça. Esteja onde estiver. Que desconhece fronteiras. Que nunca julgou judeus ou palestinos. Que não acusa americanos ou iraquianos (já morou em ambos os países). Mas que nunca desistiu. E nem desistirá.
Antes que a acusação ─ infelizmente, comum ─ de por que não está fazendo o mesmo no Brasil, respondo por ela: já fez a vida toda! Desde a infância! Hoje ela tem 65 anos bem vividos. Plenos e felizes. E seria como se nós, por cá, não aceitássemos a ajuda de tantos de fora que nos ajudam.
O jornal da BBC da Índia publicou reportagem com Ieda com foto e título: “Brasileira abre hospital!”. (Nota: vejam e entendam o que é este hospital: inteiramente gratuito, fará o básico com o muito pouco que Ieda pode garantir! Mas um HOSPITAL para quem, como a senhora idosa da foto, que estava há sete dias com uma perna quebrada!).
Ieda ─ nossa EIDIA que estava sempre indignada com o Brasil ─ NUNCA contou (aqui ou lá) com um tostão de nenhum governo, ONG ou o que se equipare. Faz com o que tem e com ajuda de quem a conhece.
Por isso, apresento a vocês IEDA DIAS: uma BRASILEIRA que faz a diferença.