Mas não é não.
Vou tentar me lembrar exatamente como foi o dia que vi pela primeira e única vez, um Mohamed. Como assim, Mohamed ? Este foi o nome que nós, que trabalhamos no Iraque, demos às tempestades de areia, porque, toda vez que começava a ventania, os árabes começavam a chamar "Mohamed! Mohamed!" como os católicos chamam por Deus e cada um por aquilo que crê, quando sente que a situação tá ficando russa.
Olhei pela janela e o tempo tava mudando, como se fosse chover; tempo empoeirado. Nessa época, não tinha telefone no acampamento e, muito menos, nos nossos quartos. Não dava pra ligar pra qualquer pessoa pra compartilhar aquela doideira e, o barulho junto com a areia misturada com terra, foi aumentando, subindo, foi ficando escuro e eu grudei na janela. Como não sabia que ia ver uma verdadeira tempestade de areia no deserto, não tive medo algum, só olhava.
A melhor coisa do mundo é a ignorância. Se eu soubesse o que ia rolar, com certeza a coisa teria sido muito diferente.
Uma tempestade de areia é um desastre como uma grande enchente, um furacão, tufão, incêndio : passa com rapidez e deixa um rastro de transtorno e perdas e danos enormes.
Aí, aconteceu uma coisa que jamais tinha visto - além do que já tava acontecendo : começou a chover barro; era um barulho danado do barro batendo no teto, nas paredes e na minha janela. Chovia pelotas de terra e choveu forte, choveu, choveu, e aos poucos foi limpando o tempo. As pelotas de terra foram ficando menos duras, mais molhadas e a lama escorria do teto. Muito maluco ! E a chuva continuou até ficar chovendo água limpinha. Da mesma forma que veio, tudo voltou ao normal. Abri a porta do quarto, e olhei o deserto. Tava sequinho, com uma poça de água aqui outra ali, mas pude sair normalmente.
E a conversa geral era só uma. Cada um contando como viu e o que sentiu com aquela experiência totalmente nova.
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E, durante dias, muito longe do acampamento, quilômetros pra frente e pra trás, andando pelas estradas, a gente via papéis do nosso lixo; muito papel porque, como foi tudo de repente, todo o papel que tava nas lixeiras - que eram tambores grandes - voou pra onde o vento tocou.
E, pra finalizar, uns dez dias depois, o deserto se transformou em várias partes dele num lindo tapete. Verdinho. Incrível. As sementes estavam lá, quietinhas, encondidas entre as pedras a terra e a areia, só esperando um pouco de água, pra se nutrirem e mostrar sua beleza.
Nossa que relato heim!
ResponderExcluirDOREI!
Menina como é bom as vezes não sabermos oq passa kkkk
Se é Brenda....rs.Brigadim pelo elogio.
ResponderExcluirbjos
Que experiência impressionante!Taí confirmando o ditado que diz depois da tempestade a bonança.Acho q só passando mesmo p entender,e assim a vida...
ResponderExcluirbjo
Maga, me lembro que no dia seguinte ao Mohamed eu gravei uma fita contando pra uma amiga como foi tudo. Quem sabe ela ainda tem. Vou ver e acrescento detalhes se por acaso tiver. Nos anos 80 internet ainda engatinhava e lá naquele fim de mundo nem tinha nascido...rs
ResponderExcluirbjos
Eita Ieda, minha vida fica sem graça perto dos seus relatos, aqui belos dizeres sempre, para inspirar nossa viagem...
ResponderExcluirBjus
Gui, a galinha do vizinho é sempre mais gordinha. Aposto que se você contar um causu seu, vou dizer a mesma coisa.
ResponderExcluirbjos
Bom, quem apreciou um "Mohamed" sabe o quanto o danado é terrível. O filme "O paciente inglês" tem um Mohamed de tirar o fôlego, e a "Múmia" também. Duro era quando o "Mohamed" acontecia longe do acampamento, a poeira subia e como tudo que sobe tem que descer,( e cismava de cair em cima da gente), durava uns três dias de pó fino sem fim. Pior que o "Mohamed".
ResponderExcluirLuiz César - Formiga - MG
Se lembro meu bem.. dormíamos mastigando areia, que saia até do travesseiro...bons tempos, hein?
ResponderExcluirhehheeeeeee
bjos
Nossa, que experiencia!!!!
ResponderExcluirVerdade Socorro.....coisa de doido!!..rsssss...
ResponderExcluirbjins