Estava trabalhando em Paris, fazendo "jeune fille au pair", que é um trabalho comum pra estudantes porque dá pra estudar e trabalhar ao mesmo tempo. A gente busca a criança na escola às 4 da tarde e fica até lá pelas 8, quando os pais chegam. Ganha-se um salário pequeno, casa, rango e condução. Pra estudante é uma mão-na-roda.
Mas a grana era pouca e eu procurava outra coisa. Nessa época, éramos eu e um amigo procurando trabalho.
Todo dia saíamos cedo, a gente passava na Igreja Americana, no Centro de Estudantes ao lado da Torre, e mais uns dois lugares que não me lembro. Como eu só começava a trabalhar às 4 da tarde, dava tempo pra fazer muita "pesquisa".
Num desses dias, resolvemos dividir : cada um ia prum lado pra não perder tempo. E a gente já tava maceteado, lia duas palavras do anúncio e já via que não rolava. Esses lugares que citei, tem cartazes enormes com oferta e procura de trabalho. Muito bom !
Então, meu amigo viu um anúncio e ligou. Era um casal com um bebê de 4 meses que queria alguém pra se ocupar do embondo.
O senhor foi super simpático com ele, disse que não tinha nada contra, mas preferia uma mulher pra se ocupar do pequeno. No que meu amigo falou: "a casa oferece... rs. tenho uma amiga".
Mais tarde ele me deu o número e foi minha vez de ligar.
Meu francês, nessa época, era bem pequeno e, ao telefone, quase sumia. Com dificuldade, comecei a falar com o futuro patrão e no meio da prosa, pedi pra ele falar mais lentamente porque era brasileira e não falava bem o francês. Aí, ele me disse: "Então vamos falar em português". Alívio total !
Ele tinha morado com a família no Brasil, dos 7 aos 12 anos, tinha sido alfabetizado em português e nunca mais esqueceu.
Marcou um encontro pro sábado às 10 da manhã.
E amanhã continuo a contar como foi o encontro, e como começou essa história de amor que já dura 21 anos.
" Todos os dias é um vai e vem, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais." Milton Nascimento e Fernando Brant