Não é maldade, é a pura verdade!
Não existe coisa mais gratificante do que abrir a porta da minha casa pra receber um amigo, uma pessoa querida. Sentar, conversar fiado, colocar a prosa em dia, tomar um café, comer alguma coisa gostosa e rir. Rir muito, que sempre é o que mais acontece.
Moro sozinha e não consigo também pensar em uma melhor forma de morar. Então tô acostumada com minha casa por minha conta. Por isso, todos que frequentam o recinto, conhecem esse meu pensamento. Abrir a porta pra despedir é também muito bom. Tanto posso logo retomar meu dia, como também posso digerir com calma aqueles momentos ou horas ou dias que passamos juntos.
Aqui na roça francesa, onde me encontro, com um frio danado lá fora, o que mais fazemos é conversar o dia todo, comer e rir. E costurar também. Tenho feito coisas lindas. Quando o sol sai, lindo, minha amiga me empurra. "Não quer dar uma volta, tomar um sol?" E eu digo: "Tenho crédito de vitamina D pra tempo de vida que não vou viver ou mais! Carece não."
Hoje, o papo rolou sobre quando éramos crianças, coisas de criança, micos que nossos pais passaram conosco, e me lembrei de vários causus ótimos. Vou contar dois.
Primeiro eu, pra logo liquidar com o mico-mór.
Não sei porque cargas d'água, quando eu era criança, minha mãe não deixava comer mais que um ovo por dia. Mesmo que tivessemos dúzias em casa. Afinal, tinhamos galinheiro e galinhas poedeiras. Mas acho que devia ser uma idéia nutricional da época. Essas coisas que entram e saem de moda. Um dia pode, no outro mata.
Então, claro que meu sonho era me empanturrar de ovo. Bons tempos aqueles em que meu sonho se resumia em encher o meu pandeiro de ovo.... rs.
Fui convidada pra almoçar em casa de uma amiga de minha mãe. Só eu. Porque só eu, não me lembro. Devia de ter uns 7 anos.
E não é que na mesa tinha uma travessa cheia de ovos fritos, diferente da minha casa, que o ovo era colocado direto no prato de cada um...
Olhem, devo ter comido uma boa meia dúzia, por baixo. Me fartei, sem nenhuma repressão. Eita céu! Imaginem o que ela não deve ter pensado...
Muitos anos depois, já adulta, contei pra minha mãe, junto com a amiga, que não se lembrava, nem de minha pessoa almoçando com ela e muito menos dos ovos que comi, pra alívio da mamãe, que mesmo assim morreu de vergonha da cria mal criada.
O outro causu é de um grande amigo. Bom demais! O causu. . rs. Brincadeiriiiinha!
Ele era doido com broa. Adorava e sua madrinha fazia uma que era uma delícia. Criança não vai visitar madrinha porque é educado. Perigo! Ele ia por conta da broa.
E sua mãe, como toda mãe que se preze, morria de vergonha, porque ele já chegava pedindo broa. "Pode um menino mais mal-educado que esse?" Ela dizia e a madrinha ficava até orgulhosa do sucesso de seu produto.
Um dia, a mãe levando o meu amigo pra mais uma visita, deu um ultimato: "Nem sonhe em falar a palavra broa, senão te quebro de cascudo". Adotou a velha psicologia da ditadura, já que a conversa democrática não tava dando resultado. Preste atenção no que te digo: "Se abrir a boca e falar broa vai ter comigo".
O pobre foi, caminho a fora, repetindo o mantra: "Não broa, não broa, não broa".
Chegaram na casa da madrinha, bateram na porta, no que ela abriu, ele estendeu a mãozinha e disse compenetrado: "Bença broa!"