Pense bem, porque francês não é quiném brasileiro não !
Não, é Não ! Não quer dizer nem "Talvez!" nem "Pode ser!". Quer dizer, Não !
A gente vive falando Não! querendo dizer Sim! - "Aceita almoçar? Chegou na horinha!" - "Não obrigada. Já almocei". Eita mentira! Morrendo de fome e diz Não! Esperando a dona da casa insistir, insistir. De onde será que vem esse hábito nosso? Falo muito do jeito mineiro de ser. Não sei se, em outros estados, funciona desta forma.
Mineiro - quando vai receber uma visita - se esmera, arruma a casa, faz faxina a fundo, como se precisasse, como se a visita fosse fazer uma inspeção, compra tudo do bom e do melhor, coloca os lencóis novos, perfumados, compra a fruta ou carne preferida do visitante. Não sabe mais o que fazer pra agradar.
E, quando a visita tá indo embora, ainda diz: "Desculpe qualquer coisa". Pode uma coisa dessa?
Se bem que, tô falando, me baseando em lembranças.
Será que ainda somos assim até hoje? Vou pensar em mim. Faço sim! Faço quase tudo isso aí que disse, só que tem uma diferença do tempo de minha mãe, minha avó. Hoje, eu ajeito pra visita, quiném no futebol. Vou tocando a bola, ajeito daqui e dali e deixo a visita fazer o gol. Minha mãe fazia o gol e até comemorava pra visita se sentir bem. Hoje, pra visita se sentir "em casa" não se sentir um estorvo, o dono da casa tem que fingir ou tem que não se incomodar mesmo com a visita.
Arrumo a casa e deixo a visita se servir; geladeira, banheiro o que for. Tá tudo lá! Não ofereço nada. Minhas visitas sabem que aquilo diferente do dia-à-dia, foi feito pra elas. Aliás, visita minha é tão à vontade, que reclama: "Essa casa já viu tempos melhores" quando não encontra o que quer. Normalmente tá falando alguma coisa pra mastigar.
(como sempre, eu falo muito, até me esquecer ao que vim ...)
Outro dia, comentei sobre esse assunto, com minha amiga francesa, da casa onde estava. Ela estava me servindo alguma coisa à mesa e, na segunda colherada, eu disse: "Tá bom". Tava bom, com a segunda colherada incluída mas ela interrompeu e fiquei com uma colher e meia. Comecei a rir sozinha e expliquei porquê.
Essa mania do francês fazer exatamente o que você pede, pode te deixar na mão.
A não ser que você tenha a intimidade, que tenho nessa casa, não vai dar pra voltar atrás.
A não ser que você tenha a intimidade, que tenho nessa casa, não vai dar pra voltar atrás.
O francês gosta de rir, é alegre, mas é sério; leva as coisas a sério. O contrário da gente ( eu principalmente) que leva a vida mais na farra.
Então, preste atenção quando te fizerem a pergunta. E o mesmo, vale pro Sim!. E aprenda também a não dizer Sim, querendo dizer Não.
O primeiro Não! que disse, com todo prazer, assim que cheguei lá, foi numa manhã linda de sol, depois de uma semana em casa e um frio de -16º graus pela manhã, quando ela me convidou a dar uma volta pra tomar sol. Tinha deixado o Brasil no final de janeiro, com um sol de rachar mamona, um incomodo de suadeira e tava adorando sentir frio. Respondi, no mesmo minuto: "Quero não, obrigada, tenho crédito de sol mesmo que viva até 100 anos" - no que ela riu muito - e não saí.
Continuei curtindo o aconchego da casa.
Aliás, isso vale pra qualquer lugar. Qualquer país. Qualquer povo.