terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A linguagem do amor, do carinho, da afinidade.





Me lembro da primeira vez que fui ao Nepal e saí em Kathmandu pra comprar papéis de arroz.
Pra quem não sabe, é um papel feito com a palha seca da casca do arroz, e fica muito bonito. Os nepaleses trabalham depois uma pintura em preto e dourado, com símbolos, figuras, deuses e animais. Adoro.
E descobri, perto de onde comíamos todos os dias, uma lojinha minúscula, quase um corredor e, seu proprietário, um senhor de uns 70 anos - se bem que poderia ter mais porque, com a vida tranquila daquela terra, o povo não vira um caquinho, como em lugares com mais estresse.
Entrei na lojinha e foi amor à primeira vista. Nos demos bem, desde o primeiro momento.
Me sentei no chão de terra batida, muito limpinho e frio - porque eles molham pra apagar a poeira - e por lá fiquei por quase 3 horas.
Foi um papo só. Em que língua? Em todas. Gestos, sorrisos, inglês, nepalês, afagos, chás, biscoitos, mais risos, escolha de papéis, gentileza, delicadeza, arte.
Devo ter comprado uns 300 trabalhos dele. Fez pinturas na hora pra me mostrar, esperei secar, e tome mais chá e mais conversa. Conheci sua família, sua vida, seu trabalho.
Nunca vou me esquecer do contentamento dele, quando juntei a tralha toda e paguei.
Na época, uma grana muito boa pra ele e eu paguei um preço muito inferior ao valor da sua arte. Mas era o preço. Um super encontro. Conhecer uma pessoa doce e amável e ainda comprar coisas lindas.
A minha paixão pelo país, foi também à primeira vista. E gostei tanto, que no ano seguinte eu voltei.
E chegando à cidade, pensei logo em procurar novamente meu amigo e continuar nossa prosa.
Vocês podem não acreditar, mas virei a esquina em direção à loja - que era mais ou menos no meio do quarteirão - e vi que ele estava no passeio.
Fui andando e ele se virou. Assim que me viu, abriu os braços e veio caminhando na minha direção com a carinha mais linda e feliz do mundo e me disse: "Você voltou, você voltou!"
E foi tudo muito bom novamente.

Já, no ano passado, quando voltei a Kathmandu depois de muitos anos, andei pra cima e pra baixo na ruazinha procurando por ele, perguntei, perguntei e não consegui saber pra onde ele havia ido.
Novas lojas, novas pessoas, todas muito simpáticas, gentis, mas ele não tava mais lá.
Pode ser que esteja decorando o céu com seus papéis e desenhos lindos, em preto e dourado.
E, no mínimo, já deve ser amigo de todo mundo e, inclusive, espalhado entre anjos e arcanjos, santos e querubins, o vício de tomar o delicioso chá de jasmim que ele me ensinou a tomar e a amar.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Causus que a Dona Globo não conta mais


Falei na postagem anterior, sobre como não se perder dos amigos no metrô e, o meu querido leitor JC, se lembrou das montanhas de pessoas que devem se perder nos metrôs de São Paulo todos os dias.
É verdade!
Foi, então, que me lembrei de um caso especial, que era um programa da Globo há tempos atrás, que mostrou a história de uma família de nordestinos que não se perdeu no metrô, mas se desencontrou num dos acasos mais tristes que acontecem diariamente nessa grande cidade.

Não me lembro exatamente da história, então vou contar do meu jeito.

O chefe da família veio pro sul maravilha se arrumar na vida e, quando as coisas tivessem no jeito, traria o resto do povo, mulher e filharada.
E assim foi feito.

Veio e arrumou emprego de servente de pedreiro em uma obra. E pulou de obra em obra, findou vários prédios lindos mas, ele mesmo, não tinha endereço fixo; hora ficava em casa de um amigo, hora na casa de outro, às vezes dividia um cômodo com outro, então, quando escrevia pra esposa, dava o endereço da obra do momento.

Até que as coisas melhoraram um tico, ele mandou a grana e embarcou a mulher e tralha e filho e tal - como já cantou o Chico - pro encontro tão esperado.

Na noite anterior da chegada da mulher à rodoviária de São Paulo, o marido, todo entusiasmado, deu uma ajeitada no cafofo, comprou até iogurte pra apresentar pra criançada e, se preparava pra dormir, quando passa um colega no barraco, convidando o pobre pra ir a uma festa ou pagode ou o que seja, que não me lembro mais.

Depois de muito relutar pra se livrar do amigo e não conseguir, ele pensou: "Vou, fico um pouco, espero ele se distrair, e caio fora porque não quero perder a hora amanhã".

Contando novamente com a ajuda do Chico, "mas eis que chega roda-viva e carrega o destino pra lá...."
Não é que o infeliz do amigo arranja uma confusão, se mete numa briga, ele entra pra defender, quebra daqui quebra dali, chega a polícia e vai todo mundo em cana ?
E o mané passa a noite no xilindró tentando falar com os guardas sobre o problema dele, da mulher que chega no dia seguinte, dos filhos e tudo, mas os guardas não caem no "papo do vagabundo" e nem ligam.

Pensam que acabou? O fim da história é ainda pior.

O ônibus chega à rodoviária com uma pontualidade britânica, familia Silva a bordo e o marido não tá lá.
"Bom" pensa a mulher "pode ter se atrasado" e ficam todos esperando quiném Pedro Pedreiro (Chico de novo). E esperam e esperam e menino chorando e menino com fome e mulher sem grana, aquela peleja.

Ela se cansa de esperar e resolve ir ao endereço do remetente da carta, quer dizer, ir ao prédio onde o marido trabalha.
Depois de muito caminhar, se perder e se achar (obrigada Gonzaguinha!) chegam ao local.
Um puta prédio chiquérrimo, todo cercado com grades muros e câmeras.
Com muito custo, conseguiu falar com um senhor todo uniformizado, sentadinho dentro de uma casinha cercada de vidro, que disse não conhecer o seu mané da silva, nunca ouvira falar, mas ele trabalha aqui, aqui não tem mané da silva, mas ele é ajudante de pedreiro e ajuda a fazer o prédio, mas, como a senhora pode perceber com seus próprios olhos, o prédio já tá pronto, não precisa de ajuda alguma, mas ele ficou de me encontrar na rodoviária, acabei de chegar de uma viagem de 3 dias e agora é melhor a senhora ir-se embora, porque o povo aqui não gosta de mendigos na porta, mas moço, pergunte a alguém se não conhecem meu marido, por favor saiam daqui, agora mesmo já vem alguém dizer que sou pago pra tomar conta do bem-estar dos proprietários e o que tô fazendo que ainda não me livrei não só de um mendigo, mas de uma família inteira, e cuidado com essa gente, porque se eles fincam barraca aqui na porta, nunca mais nos livramos deles, e eu não tenho pra onde ir, o senhor precisa me ajudar, tá bom por favor não precisa chamar a polícia, que já estamos indo... e... e...

E ela se foi, como se tivesse pra onde ir, como se tivesse um rumo, um destino.

E termina a história com a família sentada numa calçada, ao lado de tantas outras na imensidão de calçadas da cidade grande, pedindo esmola e a meninada já totalmente familiarizada com os sinais de trânsito e os "nãos e os sims" ouvidos durante todo o dia.


Finalizando... Fico pensando: Tudo bem que, de vez em quando, aparece uma novela um pouco interessante mas, ao invés de ficar batendo nessa tecla até o desgaste final, porque as redes de TV não aproveitam os bons profissionais que tem, pra fazer programas mais interessantes, que realmente tenham o que dizer, o que ensinar, o que divertir ? Novela e Fantástico, pra quem - como eu - gosta muito de assistir TV, já deram o que tinham que dar, há muito tempo.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Como não se perder dos amigos nos metrôs do mundo



Tem uma brincadeira que faço com meus amigos nas estações de metrô. Quando eles tão enchendo muito o saco, digo que vou dar um perdido neles, aí, finjo que entro no vagão, eles entram e eu saio, um segundo antes de fechar a porta. Pronto! Ninguém mais vai me achar naquele dia. Só à noite em casa.

Mas isso é uma brincadeira. Nunca dei perdido em ninguém, só ficou na vontade...hehehe.

Agora falando sério. Tem uma dica chiquérrima pra ninguém ficar pra trás num passeio.

Seguinte: combine com seus amigos - isso já no primeiro dia da viagem.

Em uma estação, quando o metrô chegar se, por algum motivo, alguém ficar pra trás, os que entraram no vagão devem descer na próxima estação. Desçam e estacionem no local onde vai parar o último vagão do próximo trem.

O lerdo que sobrou, pega o próximo trem entrando no último vagão. Os espertos ficam esperando por ele. Aí, então, todos se reencontrarão. Compreendido?

Pode parecer besteira, mas se não houver uma combinação, vocês só vão se reencontrar no final do dia.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Visitas ! Dois prazeres, duas alegrias : quando chegam e quando se vão.














Não é maldade, é a pura verdade!
Não existe coisa mais gratificante do que abrir a porta da minha casa pra receber um amigo, uma pessoa querida. Sentar, conversar fiado, colocar a prosa em dia, tomar um café, comer alguma coisa gostosa e rir. Rir muito, que sempre é o que mais acontece.

Moro sozinha e não consigo também pensar em uma melhor forma de morar. Então tô acostumada com minha casa por minha conta. Por isso, todos que frequentam o recinto, conhecem esse meu pensamento. Abrir a porta pra despedir é também muito bom. Tanto posso logo retomar meu dia, como também posso digerir com calma aqueles momentos ou horas ou dias que passamos juntos.

Aqui na roça francesa, onde me encontro, com um frio danado lá fora, o que mais fazemos é conversar o dia todo, comer e rir. E costurar também. Tenho feito coisas lindas. Quando o sol sai, lindo, minha amiga me empurra. "Não quer dar uma volta, tomar um sol?" E eu digo: "Tenho crédito de vitamina D pra tempo de vida que não vou viver ou mais! Carece não."

Hoje, o papo rolou sobre quando éramos crianças, coisas de criança, micos que nossos pais passaram conosco, e me lembrei de vários causus ótimos. Vou contar dois.

Primeiro eu, pra logo liquidar com o mico-mór.

Não sei porque cargas d'água, quando eu era criança, minha mãe não deixava comer mais que um ovo por dia. Mesmo que tivessemos dúzias em casa. Afinal, tinhamos galinheiro e galinhas poedeiras. Mas acho que devia ser uma idéia nutricional da época. Essas coisas que entram e saem de moda. Um dia pode, no outro mata.
Então, claro que meu sonho era me empanturrar de ovo. Bons tempos aqueles em que meu sonho se resumia em encher o meu pandeiro de ovo.... rs.
Fui convidada pra almoçar em casa de uma amiga de minha mãe. Só eu. Porque só eu, não me lembro. Devia de ter uns 7 anos.
E não é que na mesa tinha uma travessa cheia de ovos fritos, diferente da minha casa, que o ovo era colocado direto no prato de cada um...
Olhem, devo ter comido uma boa meia dúzia, por baixo. Me fartei, sem nenhuma repressão. Eita céu! Imaginem o que ela não deve ter pensado...
Muitos anos depois, já adulta, contei pra minha mãe, junto com a amiga, que não se lembrava, nem de minha pessoa almoçando com ela e muito menos dos ovos que comi, pra alívio da mamãe, que mesmo assim morreu de vergonha da cria mal criada.

O outro causu é de um grande amigo. Bom demais! O causu. . rs. Brincadeiriiiinha!

Ele era doido com broa. Adorava e sua madrinha fazia uma que era uma delícia. Criança não vai visitar madrinha porque é educado. Perigo! Ele ia por conta da broa.
E sua mãe, como toda mãe que se preze, morria de vergonha, porque ele já chegava pedindo broa. "Pode um menino mais mal-educado que esse?" Ela dizia e a madrinha ficava até orgulhosa do sucesso de seu produto.
Um dia, a mãe levando o meu amigo pra mais uma visita, deu um ultimato: "Nem sonhe em falar a palavra broa, senão te quebro de cascudo". Adotou a velha psicologia da ditadura, já que a conversa democrática não tava dando resultado. Preste atenção no que te digo: "Se abrir a boca e falar broa vai ter comigo".
O pobre foi, caminho a fora, repetindo o mantra: "Não broa, não broa, não broa".
Chegaram na casa da madrinha, bateram na porta, no que ela abriu, ele estendeu a mãozinha e disse compenetrado: "Bença broa!"

5° vídeo #mesaposta

https://youtu.be/uE2S4Lcap8I?feature=shared   Espero que você goste!