Pra você que viu as fotos do amanhecer e gostou, agora vão as que tiramos hoje, lá pelas 10 horas da manhã. O sol rachando mamona.
Amanhã, se não tiver nevando, vou dar uma volta pra mostrar mais um pouco dessa beleza de lugar.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Como me tornei vizinha de Wagner e Rodin-parte 2
Então chegou o sábado e lá fui eu pra Meudon. Peguei o trem em Montparnasse e 16 minutos depois tava lá. Enquanto isso passamos por umas 3 cidades.
Segundo um amigo, eles colocam nome de cidade em qualquer povoado, pra parecer que tem muitas. Ô maldade!
Mas a verdade é que todo francês adora dizer que não mora em Paris. Morar em Meudon, por exemplo, é chic pra cacete. Eu prefiro o tititi de Republique. Esse silêncio que eles adoram, eu tô fora! Passarinho e grilo cantando? Nem morta!
Meu futuro patrão me esperava na estação. Segundo eles me contaram tempos mais tarde, ele e a patroa tinham tirado o sábado pra conversar com todas as moças que tinham telefonado e se interessado pelo trabalho. Essa era a segunda viagem que ele fazia.
Subimos por uma avenida - que depois virou o caminho da roça pra mim - e foi lá que o Seu Wagner morou com a esposa, Dona Minna Wagner.
Sempre que passava na porta da casa linda, de pedra, na avenida tranquila, ficava imaginando o compositor debulhando seu piano, dia e noite, e a vizinhança já com o saco na lua pensando: " Quando esse mané vai se mudar daqui e nos deixar em paz!"
Chegamos ao apartamento e começamos a conversar. Até então, tava em português e fui ficando sem graça, porque a patroa ficava só me olhando, então perguntei se não era melhor tentarmos falar em francês pra ela participar. Ela disse que não precisava, que tava adorando o som da nossa prosa. Então tá !
Falei de toda minha inexperiência em ser babá, nunca tinha sido, não tinha filhos, mas tinha quatro sobrinhas e trocentos amigos cheios de crianças que eu tava sempre carregando pra cima e pra baixo. Não fiquei muito tempo.
Ele olhou no relógio, porque já devia de ter outra candidata esperando na estação de trem, me levou embora, já aproveitando pra carregar a outra.
Disseram que era pra eu ligar na próxima quarta-feira pra ter uma resposta.
OK. Fui-me embora. Voltei pra capital.
Tempos mais tarde ele me contou que, quando voltou pra casa, a mulher dele disse: "É essa. Já escolhi". E ele: "Como assim, já escolheu? Você nem viu as outras, tem uma na sala esperando e mais não sei quantas pra chegar..." "Já escolhi", ela falou.
E nem na sala ela voltou mais. O pobre coitado passou a tarde de sábado falando em vão com moças esperançosas, sem poder já dispensar de cara porque não seria polido.
E eu já comecei a trabalhar na semana seguinte, na quinta-feira.
Cuidei do meu pequetito, que hoje já tem 21 anos, por alguns anos. Tempos depois, eu tava morando em NY, quando eles me acharam lá e me fizeram largar meus trabalhos e voltar pra Meudon pra cuidar da irmãzinha que ia nascer. Lá fui eu e fiquei mais uns anos.
Mas, como sempre, essa já é outra história.
Ah! Essas crianças são bisnetas da polonesa.
As fotos são da casa azul de Wagner, recentemente restaurada, a avenida arborizada onde fica a casa, casarão rosa, atual Museu Rodin em Meudon e mais fotos antigas da cidade.
" E assim chegar e partir. São só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida." Milton e Brant
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Domingo é dia de preguiça e curtir a beleza da natureza !
Essas fotos foram tiradas pela minha querida amiga, hoje, com o raiar do sol e foram tiradas de dentro de casa.
O trator vindo fazer o nosso caminho pra podermos sair, visto da janela da cozinha.
A neve caindo...
O azul das fotos é uma mistura da cor do céu límpido, com a luz dos primeiros raios de sol, refletindo na neve. Sem truques nem efeitos especiais. Vocês estão vendo tal e qual nós vimos hoje.
De doer de tão lindo !
E a dona da casa, depois de décadas morando aqui e na mesma casa, ainda se emociona com essa beleza e fez as fotos pra eu mostrar pra vocês.
Obrigada, meu bem !
O trator vindo fazer o nosso caminho pra podermos sair, visto da janela da cozinha.
A neve caindo...
O azul das fotos é uma mistura da cor do céu límpido, com a luz dos primeiros raios de sol, refletindo na neve. Sem truques nem efeitos especiais. Vocês estão vendo tal e qual nós vimos hoje.
De doer de tão lindo !
E a dona da casa, depois de décadas morando aqui e na mesma casa, ainda se emociona com essa beleza e fez as fotos pra eu mostrar pra vocês.
Obrigada, meu bem !
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Como me tornei vizinha de Wagner e Rodin
Estava trabalhando em Paris, fazendo "jeune fille au pair", que é um trabalho comum pra estudantes porque dá pra estudar e trabalhar ao mesmo tempo. A gente busca a criança na escola às 4 da tarde e fica até lá pelas 8, quando os pais chegam. Ganha-se um salário pequeno, casa, rango e condução. Pra estudante é uma mão-na-roda.
Mas a grana era pouca e eu procurava outra coisa. Nessa época, éramos eu e um amigo procurando trabalho.
Todo dia saíamos cedo, a gente passava na Igreja Americana, no Centro de Estudantes ao lado da Torre, e mais uns dois lugares que não me lembro. Como eu só começava a trabalhar às 4 da tarde, dava tempo pra fazer muita "pesquisa".
Num desses dias, resolvemos dividir : cada um ia prum lado pra não perder tempo. E a gente já tava maceteado, lia duas palavras do anúncio e já via que não rolava. Esses lugares que citei, tem cartazes enormes com oferta e procura de trabalho. Muito bom !
Então, meu amigo viu um anúncio e ligou. Era um casal com um bebê de 4 meses que queria alguém pra se ocupar do embondo.
O senhor foi super simpático com ele, disse que não tinha nada contra, mas preferia uma mulher pra se ocupar do pequeno. No que meu amigo falou: "a casa oferece... rs. tenho uma amiga".
Mais tarde ele me deu o número e foi minha vez de ligar.
Meu francês, nessa época, era bem pequeno e, ao telefone, quase sumia. Com dificuldade, comecei a falar com o futuro patrão e no meio da prosa, pedi pra ele falar mais lentamente porque era brasileira e não falava bem o francês. Aí, ele me disse: "Então vamos falar em português". Alívio total !
Ele tinha morado com a família no Brasil, dos 7 aos 12 anos, tinha sido alfabetizado em português e nunca mais esqueceu.
Marcou um encontro pro sábado às 10 da manhã.
E amanhã continuo a contar como foi o encontro, e como começou essa história de amor que já dura 21 anos.
" Todos os dias é um vai e vem, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais." Milton Nascimento e Fernando Brant
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Aniversário do Henfil, morto há 22 anos!
Essa coisinha mais fôfa do mundo, no colinho da mamãe, é o Henfil, que estaria fazendo hoje 66 aninhos. Tudo no diminutivo, porque, pro aumentativo, ficam o meu carinho, admiração e amor por ele e pelo seu trabalho.
Morreu com 44 anos !!!!! Um absurdo o que a falta de responsabilidade do ser humano fez com ele e com seus irmãos.
Beijo procê, Henfil!
Morreu com 44 anos !!!!! Um absurdo o que a falta de responsabilidade do ser humano fez com ele e com seus irmãos.
Beijo procê, Henfil!
Metralhadora apontada pra mulher indefesa.
Sexta-feira é o domingo dos muçulmanos.
Pra nós, que trabalhávamos em média 10 horas por dia, 6 dias por semana, era o dia de ficar na horizontal recolocando os ossos em ordem.
Se tivéssemos muito animados, íamos até Rabania - uma cidade turística feita pelos franceses, com um lago artificial enorme - alugavamos um bangalô e era bem legal também.
Entre outras coisas que se tinha pra fazer em pleno deserto, no único dia livre da semana, era dar uma faxina no quarto. Durante toda a semana a gente nem ligava pra confusão que ia armazenando.
Numa sexta- feira, resolvemos, minha amiga e eu que dividíamos o quarto, dormir até mais tarde e depois partir pra faxina.
E foi o que aconteceu.
Depois de terminada a peleja, eu fui tomar meu banho e ela foi colocar o lixo lá fora, num tamborzão que tinha do lado da casa.
No que ela tá lá, despejando o lixo, sentiu uma presença atrás dela. Virou e viu um soldado iraquiano, armado de metralhadora, com uma cara de médios amigos. Ela olhou pro prédio mais longe, onde era o clube, e viu uma movimentação, bandeiras, e deduziu que tínhamos visita de alguma ôtoridade local. Não era comum soldados no acampamento. Tínhamos nossa própria segurança.
Mais tarde, soubemos que o governador de Ramadi nos visitava, por isso tinha tanto soldado espalhado no nosso território.
Ele perguntou o que ela tava fazendo, "Como assim, não tá vendo? Despejando o lixo." Ele não entendeu o que ela tava fazendo ali, naquele local. "Ora bolas, eu moro aqui, seu mané." Ele também não entendeu. Ela desistiu de explicar e foi voltando pra dentro de casa e o soldado com a metralhadora em punho atrás dela.
Pode uma cena mais bizarra? Você sair pra despejar um simples lixo e uma figura querer saber quem você é, de onde vem e pra onde vai, diga a senha.... tenha dó.
Pois pode.
E não é que o zé veio seguindo ela até o quarto?
Ela abriu a porta e ele veio na cola. No que entrou no quarto, tô lá, eu linda e loira, pelada, recém saída do banho. Não me lembro mas, no mínimo, devo ter falado: "Cliente novo?"
O cara ficou lá, estatelado, parado, olhando pra mim e eu, pelada tava, pelada continuei. Ele não se movia, não sei se o espanto era porque via uma mulher pelada pela primeira vez, nos seus 20 e tantos anos de vida, ou porque não imaginou que fosse ser tão ruim sua primeira experiência. Sei lá. Só sei que grudou o olho em mim e eu fiz aquilo que sempre faço numa hora dessas. Sem pensar, tive uma reação fora da lógica: juntei as pernas e fiz continência pro moço. Afinal, era um soldado, de qualquer forma, meu superior, já que eu não era nada além de ser povo.
Foi o que faltava pro moço reagir. Reconheceu o sinal e bateu em retirada.
À noite, sentadas no bar tomando alguma coisa, avistamos o soldado sentadinho num canto, olhando ainda, mas desta vez, vermelhinho.
Nunca vou saber se era de prazer e alegria ou de ódio. Deve ter contado pros colegas e ninguém acreditou. Pedir pra repetir a cena, coragem ele não teria. Ver outra mulher nua, só casando e, mesmo assim, pelo buraquinho da camisola. Como a cena da manhã, nunca mais !
" Inicie a viagem como se fosse uma criança, curiosa e alegre; durante o trajeto desfrute como um adulto respeitoso e solidário; quando retornar, sinta-se como um ancião sábio que voltará a ser criança amanhã." Mercedes Sáenz
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
O arroz com feijão dos Alpes Franceses.
Aquela vida de cidade do interior, do interior do Brasil, das Minas Gerais de outrora, você não encontra mais. Aquela comidinha de fogão à lenha, fazer quitandas, fornadas de bolos e biscoitos. Acabou-se o que era doce. Doce e salgado. Com a correria do dia a dia, mesmo nas cidades mais calmas, a dona de casa quer mais é ir até a padaria da esquina e comprar tudo prontinho, pãozinho de sal, leite pasteurizado e iogurte com frutas.
Estão errados? Tão nada! Só pensa que eles tão errados, quem vai visitar e fica louco achando que vai encontrar a mesa de café da manhã ou de jantar, com tudo que comia na infância e ainda guarda na memória cheiros e sabores.
Mas, aqui nos Alpes Franceses, nas montanhas brancas de neve, na roça organizada e com muita qualidade de vida, a coisa é diferente; ainda guardam muitos dos costumes de outrora. Mesmo com todos os supermercados, oferecendo milhões de alimentos, com uma infinidade de variedades, cores e sabores, eles não se deixam seduzir totalmente.
Durante o verão, todos saem pra passear ao ar livre, respirar, armazenar vitamina D aproveitando o solão, e colher frutas pra fazer compotas e geléias que serão consumidas nos longos meses de inverno.
E vão também plantar e colher legumes, que comerão com o maior orgulho, apreciando e comparando a safra desse ano com a do ano passado.
É muito legal ouvir: "As framboesas esse ano não ficaram bonitas, secaram, porque o sol foi muito forte". Ou : "as myrtilles (mirtilo em Português) deram como nunca. Não conseguia dar fim naquele mundo e fiz vidros e mais vidros de compota, congelei potes e potes".
E dá-lhe a congelar caldos, legumes, sopas, tudo com produtos de cada horta caseira, de cada troca entre vizinhos e, a cada dia, sai uma coisa mais gostosa do que a outra, de uma despensa sem calefação, que mantém tudo como se fosse numa câmera fria, não deixando perder nada e todos se alimentando muito bem durante o ano todo.
E, foi com um desses potes congelados, que foi feita essa tarte/maison ( torta feita em casa) que é uma delícia de lamber os beiços. A massa é crocante e quase não leva açúcar. Não agradaria à maior parte do paladar brasileiro, que é chegadinho num doce bem duçim. Eu também sou mas, metade dessa aí, foi devorada por mim. Uma parte na sobremesa, outra no café, pontualmente servido às 4 da tarde.
Esse almoço simplesinho de meio de semana, tinha, como entrada, uma salada verde : vários tipos de alface, devidamente pincelados com um molho de mostarda de arrepiar no azedume e na gostosura.
O prato quente era esse empanado de peito de peru. A massa quebrava de tão macia. Perseguia o empanado, vagens verdinhas da horta da casa.
Depois, queijos com pão, de sobremesa e depois a torta de myrtilles. Depois fruta ou iogurte. Eu não dispenso o iogurte. Natural e sem açúcar.
Pra quem gostasse, tinha vinho e, pra mim que não bebo, suco de maçã.
Ainda chocolate suisso, comprado no país vizinho, há 1 hora daqui.
E foi tudo.
Querem saber o que comemos hoje?
Uma peixada feita por mim, com leite de coco e tudo. Como manda o figurino. E o peixe era posta de bacalhau fresco. Uma delícia!
E fez tanto sucesso quanto a torta local.
Cada qual dentro do seu quadrado e ensinando e aprendendo com o outro.
Bom dimais da conta, sô!
Ps.: brincar na neve antes do almoço, foi só pra abrir o apetite.
Como se precisasse!!!
"O mundo é um lugar que ninguém conheceu ainda pela descrição. É necessário percorrê-lo, a gente mesmo, para saber do que se trata." Philip Dormer Stanhope
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Quando tem que ser é mesmo. Não adianta fugir, amigo.
Eu trabalhei no Iraque por muitos anos e conheci muitas pessoas. Muitas mesmo! E um dos meus melhores amigos trabalhou lá também, no mesmo período que eu e, durante dois meses, quase do lado da minha sala, e nunca o vi, nos reunimos ou nos encontramos. Gente demais trabalhando em um país estranho.Tudo era muito novo.
Voltando pro Brasil, resolvi dar um rolé pela Europa. Minha primeira passada por lá. Conhecer a velha senhora, eu e uma amiga.
Uma colega de trabalho, sabendo que passaríamos por Paris, deu-me uma carta (O que é isto? Pesquise no Google) pra entregar pra ele. Eles tinham trabalhado juntos. Além de dar notícias dela, teríamos a oportunidade de conhecer um cara legal, segundo ela.
OK. Eu recebi a carta e partimos pra nossas merecidas férias. Isso era lá pelo final de agosto.
Caminhamos e caminhamos e, esta viagem, também resultou em muitos causus que contarei noutra hora..
Chegamos a Paris. Como ficaríamos poucos dias, liguei logo pro moço. Como prometido, cheio de simpatia, ele nos convidou para jantar e dar um passeio no intervalo entre um trabalho e outro.
Estava em Paris desde que saíra do Iraque, juntando uma graninha antes de retornar ao Brasil e, talvez, o fizesse no final daquele ano ou início do próximo.
E fomos e passeamos e ele nos mostrou muitas coisas lindas que, somente aqueles que moram na terra, tem o prazer de conhecer, e me mostrou uma pracinha que era sua favorita, com um único banco de madeira, uma árvore no centro e, naquela noite, foi encomendada uma puta lua cheia que fazia gritar a alma. Esse lugar tornou-se um dos meus lugares preferidos pra mostrar aos amigos, sempre que nos encontrávamos em Paris .
Foi um encontro muito bom!
Ele me contou sobre a família em Belo Horizonte, onde moravam e não era muito longe da minha casa, na verdade, era pertinho.
Quando nos separamos, ele me deu o telefone de uma tia (usava isso na época) e me pediu pra ligar, dizendo que a gente tinha se encontrado, que tava tudo bem, essas coisas que tia adora saber... que ele tava limpinho, não tava com fome e com muita saúde.
E passamos por Portugal e Espanha antes de chegar em casa.
Bão, cheguei e fui me readaptando com a Pátria Amada Idolatrada, Salve! Salve! lentamente. Liguei pra tia do meu novo amigo, dei a notícia, ela ficou toda feliz.
Voltei a trabalhar, reencontrar com os amigos e, finalmente, retomar minha rotina.
Um dia, do nada - devia tá procurando um telefone na agenda - eu vi o nome da tia e, só Deus sabe porquê, decidi ligar pra ver se eles tinham notícias, se sabiam quando ele voltaria, quer dizer, qualquer novidade.
Um primo dele atendeu o telefone e eu perguntei. Ele me disse: "um minuto que tão tocando a campainha e pode ser que seja ele".
Dois segundo depois, meu amigo pega o telefone e já vai perguntando: "Uai! como você sabia que eu tava chegando?" Eu disse: "chegando como?" E ele: "acabo de chegar do aeroporto nesse minuto".
E nunca mais nos separamos.
"Um amigo alegre numa viagem é quase tão útil quanto um veículo." Públio Siro
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Vendendo o peixe pelo mesmo preço que paguei
A gente pensa que só nossos governantes são campeões em fazer merda. Ficamos um pouco aliviados quando descobrimos a merda dos outros, em outras terras.
Vou passar o peixe pelo mesmo preço que tô comprando.
O francês, de modo geral, não é a favor de vacina. Seja ela qual for. Até as vacinas que, no Brasil, são obrigatórias, pra crianças, aqui não são, assim, nem todos vacinam os filhos.
Com a história da Gripe A, o bicho tá pegando por aqui.
Segundo os amigos nativos, fez-se um alarde tamanho como se não fosse ficar pedra sobre pedra, quer dizer, não ia ter espaço pra enterrar tanta gente, tamanha a força com que chegaria a gripe aqui, acompanhada do inverno.
E taca o governo a comprar vacina. A Ministra da Saúde autorizou a compra de uma quantia absurda, segundo o povo. Três terços da vacina, que daria pro mundo todo, foi comprada aqui. Segundo o governo, seriam aplicadas em duas doses, só que, a segunda dose, quando fosse ser aplicada, a validade já teria ido pro brejo.
Foram encomendadas 94 milhões de doses. População da França = 65 milhões. Preço em torno de 700 milhões de euros. Estão tentando aplacar a fúria da população, negociando com os laboratórios (segundo o que ouvi, a ministra já trabalhou em um deles) a devolução da metade.
Foram gastos 350 milhões de euros em máscaras. Milhares delas, não sabem onde enfiar.
Mobilizaram postos de saúde, que ficaram às moscas ( foto acima) porque o francês tem confiança no médico que ele conhece, que o acompanha. Não se deixa vacinar por um médico de posto de saúde. Vários médicos colocaram aviso na porta do consultório dizendo: "Não dou vacina conta Gripe A".
E pra piorar ainda mais a situação, nessa época do ano, existe um surto de diarréia. Comum como uma gripe de inverno. E ele veio brabo, pior do que a gripe tão esperada.
Daí, que tirei a charge da Ministra da Saude, dizendo que já encomendou 94 milhões ( mesmo número da vacina ) de papel higiênico. A tradução literal fica meio danada de fazer. Deduzam vocês.
Tudo que estou repassando, li nos jornais locais Liberátion, Figaro, le Monde. No Le Monde de 04 de janeiro, tem uma reportagem com todos os valores gastos pra essa GripeA.
Em torno de 2 bilhões de euros.
E continua a confusão. Segundo o povo, isso é uma pouca-vergonha. Briga de interesses de laboratórios. Li vários comentários de muitos leitores, mostrando o que é usado como verba pra várias doenças, como o câncer por exemplo e nem chega aos pés do que foi gasto com a gripe.
Li, também, que estão tentando negociar o repasse do encalhe pros países pobres. Se a merda já tá feita, eu acho que, o mínimo que poderiam fazer pra melhorar a situação, seria doar.
Enfim, eles que são brancos....mas aqui como aí, o bicho pega sempre onde?
No bolso do povo, é claro!
" Ao redor dos quatro pontos cardiais desdobram-se como bandeiras as ruas, oxalá meus versos erguidos tremulem essas bandeiras." Jorge Luis Borges.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Hoje Favela Chic, ontem, não tão chic assim...
Conversando com um grande amigo francês, falávamos sobre as favelas brasileiras e ele começou a me contar das favelas parisienses.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, as pessoas do campo começaram a vir pra cidade. E, junto com elas, um mundo de imigrantes portugueses (que hoje é a maior imigração na França), espanhóis, árabes... Uma verdadeira invasão.
Como os nossos imigrantes de vários cantos do Brasil, vieram e foram ficando e se acomodando em torno da cidade já que, conseguir trabalho e moradia, não era tão simples como eles imaginavam.
Como os nossos imigrantes de vários cantos do Brasil, vieram e foram ficando e se acomodando em torno da cidade já que, conseguir trabalho e moradia, não era tão simples como eles imaginavam.
A maioria dos homens, como eram camponeses fortes, faziam o trabalho mais pesado como carregar e descarregar sacos em lojas, padarias e feiras. Muitos se tornaram motoristas de táxi.
Em Paris, onde se encontra hoje La Défense - o centro financeiro, comercial e dos homens de negócio, o Wall Street francês - já foi uma favela. E não tem muito tempo.
Como se pode ver nas fotos que encontrei, ainda nos anos setenta, elas estavam lá.
Como se pode ver nas fotos que encontrei, ainda nos anos setenta, elas estavam lá.
Foram construindo prédios e mais prédios e eles foram empurrando as pessoas das favelas - que aqui se chama "bidonville" - pra mais longe, pra trás do Grande Arco.
Esse Arco é uma homenagem ao Arco do Triunfo - em versão moderna - e, olhando de frente pra avenida, ao longe, veremos o Arco antigo e, espichando a vista mais e mais, até chegar no Louvre e, mais ainda - agora já de binóculo - até chegar na Praça da Bastille. Tudo uma reta enorme, que muda de nome umas 3 ou 4 vezes.
O centro financeiro começou a ser construído no final da década de 50. E, como o povo começou a ser empurrado, o partido comunista - que tinha uma grande força na época - colocou a boca no trombone; fizeram tanto barulho, que os construtores da época, muito espertinhos e doidinhos pra embolsar mais e mais francos, ouviram e tiveram a brilhante idéia de construir prédios, como os nossos conjuntos habitacionais, e o povo teve onde ir morar com mais conforto e dignidade.
Em 1966, um levantamento social dá os seguinte resultados: "Paris e seus subúrbios - com 119 favelas - inclui cerca de 4.100 famílias compostas de 47.000 pessoas (42% de norte-africanos, 21% portugueses, 6% espanhóis e 20% franceses). Só na favela de Nanterre ( hoje La Défense) 80% da população era francesa."
Só a partir de 1970, o governo realmente começou a tomar providências e elas desapareceram.
Com o tempo, as coisas foram mudando e, hoje, já não é a mesma maravilha de outrora. A turma de primeiros moradores já passou dessa pra uma melhor e, quem foi se apossando, foi transformando esses prédio em verdadeiras favelas verticais. Em sua grande maioria, são habitados por imigrantes, principalmente árabes.
Além de ser um assunto que acho curioso, de repente você vem passear por estas bandas e vai passar por lugares, hoje super elegantes, e saberá que, há algum tempo, poderia estar passeando em qualquer Rocinha ou Complexo do Alemão aí no Brasil.
Isso quer dizer que, lugar algum nasceu lindo e rico. Foi às custas de muito trabalho e muita luta. Como no post que falei sobre inundação em Paris. Meu lado cheio de esperança que, felizmente imagino deve morrer junto comigo, sempre pensa que ainda podemos esperar uma vida bem melhor pro nosso povo.
" Conhecer lugares onde se escreveu a história é uma enorme fonte de prazer."
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