sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Causus e mais causus dos tempos vividos no deserto
Foram tantos... a gente não pensa no momento, mas muito do que acontece em nossas vidas, deveríamos anotar. O tempo passa e a gente se esquece.
Adoro me reunir com os amigos dos tempos que trabalhei no deserto, pra gente se lembrar de causus, acontecimentos e rir muito. Tem muito causu de chorar também, mas destes a gente não quer se lembrar. Pra que? Não vai mudar nada, e, só vai fazer apertar o coração. Ao passo, que os causus engraçados, continuam engraçados e cada um que conta um "conto acrescenta mais um ponto".
Hoje me lembrei de alguns e vou contar antes que me esqueça de novo.
Peão de obra comigo no avião, num vôo Bagdá-São Paulo, cortando caminho pela Dinamarca. Trocentas horas de vôo. Serviram mais uma refeição e ele me pergunta:
- Será que tamo almoçando, tomando café da manhã ou jantando?
E eu respondi.
- Sei não, mas come, porque não sabemos quando virá o próximo rango.
No mesmo vôo, ele me entrega o câmera, e fazendo pose com a bandeja recém-servida me diz:
- Tira uma foto minha com "a janta".
Quase não consigo, de tanto que achei engraçado.
No tempo da guerra contra o Irã, a maior diversão da negada, era esperar todo mundo dormir, silêncio absoluto no deserto, só cortado pelo ruido forte dos aviões que passavam de vez em quando. Então era o momento de pegar um montão de pedras e jogar em cima dos nossos alojamentos. A parte externa era de lata, e o barulho das pedras caindo, era tal e qual uma rajada de metralhadora. Sacanagem das brabas. Muita gente saiu correndo pelo deserto depois desta metralhada. Principalmente os recém-chegados, que eram os mais premiados e os melhores alvos.
Mais uma de susto. Os acampamentos eram cheios de quebra-molas pro pessoal não desembestar na velocidade. Então neguinho ficava acordado, só pra pegar caminhão caçamba vazio na madrugada, e passar zunando por eles. Outro barulho infernal de metralhadora, que também fez muita gente sair correndo pelo deserto à fora.
Outra boa, era peão fazendo conecção na Europa.
Peões éramos nós todos, antes que você diga que tô sendo preconceituosa.
Depois de tanta confusão que arrumaram, foi criado pela Iraq Airwais um vôo direto. Rio-Bagdá.
Inverno rigoroso em Londres, por exemplo. Neguinho tinha saído do Maranhão, 38 graus na moleira. Chegava no Hotel em Londres, tomava um banho e saia pra dar umas voltas como se tivesse em casa. Não dava 20 passos e voltava quiném uma bala.
- Que porra de frio é esse?
Nunca tinha ouvido falar em inverno, muito menos em neve e continuava com o traje que tinha trazido do verão maranhense.
Outra. Saia do Hotel pra reconhecer o terreno e fazer umas comprinhas. Com nossa moeda, que na época era o Cruzado. Não conseguia comprar nada e voltava pro Hotel reclamando.
- Raio de dinheiro esse, que não vale nada mesmo! Ninguem aceita!
Vários, no meio do caminho, tipo Londres, Kopenhage, queriam voltar. Desistiam da empreitada. E saiam a caça da rodoviária mais próxima. Muitos voltaram pro Hotel, pelas mãos da polícia.
Outros que voltaram pelas mãos da polícia, eram os que saiam sem ter noção de onde estavam, nem mesmo o país, e muito menos um cartão do Hotel. Depois de muito perder, eram rebanhados pela polícia local, que entrava em contato com nossa Embaixada pra saber quem eram aqueles ET's., e pra onde deveriam ser devolvidos.
Me lembro de um grupo grande que viajou comigo, almoçando em um Hotel em Roma.Veio a entrada, ninguem comeu, esperando o resto. Os garçons retiraram os pratos intactos. Veio o prato principal, que também não foi tocado, esperando o arroz e o feijão. Quando os garçons vieram retirar, quase apanharam. - Além de não trazer nada direito, vem tudo pingado e ainda levam sem esperar a gente comer!
A sobremesa foi devorada quase ainda na mão dos garçons.
Peão já na época de vir embora pro Brasil, depois de mais de ano enfurnado no deserto:
- Tem dois dias que não como. Deste lugar, não quero levar nem a merda!
Peão mais preto que urubu falando antes de voltar pra casa:
- Esse lugar acabou comigo. Quando cheguei aqui, era lourim de olho azul!
Uma coisa eu nunca entendi. Todo peão tinha na sua bagagem sabonete Phebo. Daquele preto.
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Me identifiquei com duas coisas:
ResponderExcluirQuando vou a Europa a Passeio e a entrada é sopa eu deixo passar. primeiro porque não gosto de sopa e também não aguento essa formula de 3 pratos então escolho só o principal e sobremesa.
Segundo, o tal do sabonete preto phebo meu pai amava este sabonete.
kkkkkkkkkkk
Viviane (a baiana)
Abs
Eu tb Viviane gosto de comer de uma só vez. Se fica demorando muito perco a fome...rs
ResponderExcluirbjins
Ieda,
ResponderExcluirSob casos da guerra, não esqueço da bateria anti-aérea na cidade de Falujah. Parecia saldo da segunda- guerra mundial. Fora o treinamento que fazíamos para retirada de emergência. Lembro que vc. não acreditava que era treinamento e levava tudo junto.
Abraços
Sandra Dias
Amiga, vamos nos encontrar assim que eu voltar...matar a saudade e relembrar causus...
ResponderExcluirbjos,bjos