Vamos lá, caro leitor ! A perguntinha que não quer calar. Olhe bem as duas fotos e diga pra você mesmo.
Qual dos dois armários você prefere?
-O arrumadinho, claro! Detesto bagunça.
-Eu tô nem aí. No meio da minha bagunça eu encontro tudo.
-Se alguém quisesse arrumar pra mim, seria uma boa, talvez eu me animasse e conseguisse conservar.
-Eu não sou perfeccionista. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
E outras respostas, que não me vêem a cabeça.
Pulemos pra alguns anos atrás, eu sendo babá de um fôfo, em Paris.
O meu trabalho era me ocupar do pequeno. Tudo que se referia a ele era comigo. Mas, vamos e venhamos, um pequetito não te ocupa o dia todo, dorme pra cacete e, de vez em quando, eu fazia uma graça e dava uma geral nas coisas da casa.
No quarto dos patrões, tinha um armário de parede à parede, baixo, com umas três prateleiras em cada porta. Cheio de portas. Grande paca !
Numa parte, só tinham pulôveres de frio. Montes deles. Nem dava pra saber quantos. Balaio de gato, saca? Ninho de guacho, já ouviu falar ? Pois é !
Um belo dia, me animei, sentei no chão e tirei tudo de dentro do armário. Aquela montanha de lã. Um chafardel (ou rebanho, olhei no Google) tava lá.
Fui separando, remendando algum furinho, pregando botão, lavei o que tava sujo e separei primeiro pelas cores.
Depois fui dobrando, bem arrumadinho, um a um, e fazendo pilhas em degradê.
Eitia, mais ficou bonito demais! Fiquei em pé, em frente à obra por uns bons minutos. O criador observando com orgulho a sua criatura.
A patroa chegou, eu não disse nada e esperei pra ver o que ela ia achar. Como comecei essa conversa, não sabia se ia gostar ou tanto fazia. Esperei.
De repente, ouvi um grito vindo do quarto. Levei um susto e fui lá ver o que era.
Cena difícil de descrever !
A metade dos pulôveres já tava no chão e ela na maior alegria, feito criança abrindo pacote de presente de brinquedo, ia pegando cada um e falando: "Olha esse? Onde ele tava? Já tinha me esquecido! E esse aqui? " E zupt!!! Ia arrancando um a um.
O patrão, embasbacado, só repetia: "Não acredito que tudo isso seja nosso. Nós temos isso tudo?"
Fim ! Foi a primeira e última vez que arrumei o tal armário.
E tudo continuou "como dantes no quartel de Abrantes" (quem não conhece essa expressão, vai pro Goggle...rs).