- Causu tirado do Jornal Estado de Minas, da coluna do Eduardo Reis.
Meu tio Vico, irmão do meu pai, era um brutamontes, grandão, fortão e, eu, como era criança, achava que estes "ãos" eram muito maiores ainda naquela época. O que ele tinha de grande, tinha de bom coração, além de engraçado e espirituoso pra caramba. Saudades dele !
Pra mim, não tinha coisa melhor do que, quando ele vinha almoçar ou jantar lá em casa. E minha mãe - que era a pessoa mais gentil, educada, discreta, falava baixo e com delicadeza (não sabia de onde eu tinha puxado esse lado "maria tomba homem", segundo ela....rs) - ficava doidinha de sem graça com as tiradas do tio Vico.
No que ela colocava a comida na mesa, ele se sentava todo satisfeito, porque sabia que ia comer bem, mas já com as respostas na ponta da língua, só pra sacanear.
- Posso te servir, Vico?
- Pode, obrigado.
- Arroz?
- Não, arroz lá em casa tem.
- hehe...você sempre com as suas.
- Um pouco de xuxu?
- Tenho tempo pra perder com xuxu não!
- Feijão? Pode colocar?
- Tem banana? Só se for com banana; pra empurrar o feijão.
- Um pouco de abóbora?
- "Abobra' lá em casa a gente dá pra engorda de porco. Tem pimenta?
- Tem, claro! Vou pegar.
- Como dizia meu pai "Tá ruim, sem gosto e não desce bem ? tasca pimenta.
E se matava de rir.
Isso todos puxamos dele. Rir de nós mesmos...rsrs...rsrs.
Quando eu era criança - acho que ainda fazem isso com as crianças de hoje - em toda reunião de família, aniversário ou almoço, eu tinha que cantar ou recitar. Adulto é phoda ! Adora exibir a cria. E, eu, que não entrei na fila pra pegar timidez, recitava na boa e não tava nem aí. Recita outra. Eu, pá... Agora canta não sei o quê! Eu, lalarilaia ... Mandava ver. Agora "Batatinha quando nasce". Acho que era o ápice do show. Momento apoteose. Sempre recitava essa.
Já, meu irmão, mais tímido, ou já com o senso de ridículo mais apurado, empacava e não tinha Cristo que fizesse ele mostrar seu talento. Um pede dali, outro insiste de lá, vinha a vó, tio e tia, vizinho e ele nada. Depois de muito insistir ele sempre tinha uma saída, que era empurrar pra cima de mim.
- Pede a Iêda pra recitar mais uma, que depois eu canto.
Tempo pra se livrar do mico e com isso a bendita festa acabava ou o povo se esquecia dele.
E, um tio, que era muito engraçado, se virava pra mim e dizia:
- Vamolá Iêda, vai esparramando as suas batatinhas enquanto seu irmão se decide...
Você se lembra, do tanto que tudo era enorme, grandioso, imponente, quando a gente era criança? Uma escadinha, que hoje subo em 4 passos, era uma escadaria da Penha. Aquela árvore frondosa, enorme, gigante, não passa hoje de uma bela mangueira.
Pois então!
Sempre aos domingos, meus pais nos levavam ao Parque Municipal -BH pra brincar. Era muito bom. Passávamos a manhã correndo, brincando, comendo pipoca, algodão doce, andando em todos os brinquedos, um verdadeiro céu.
E tinha aquela hora, que era a hora da prova de fogo - pelo menos pra mim, que sempre fui medrosa e pouco chegada a aventuras, que fazem o coração disparar e a adrenalina sair pelo ladrão : era a hora de descer no escorregador gigante. Pra mim, era como me jogar de um prédio de 3 andares. Mas, por alguma força, que só Deus sabe qual, quando eu dava por si, já tava subindo as escadas rumo ao cadafalso.
Num desses domingos, onde, por mal dos pecados, tinha mais criança que de costume, eu subi, subi, subi, cheguei lá em cima, me sentei, olhei pra baixo e empaquei.
Agora veja você que situação : quinhentos meninos atrás de mim, gritando, xingando, querendo que eu descesse, ou me jogasse, ou, no mínimo, morresse, mas que desempacasse a fila. E nada. Eu lá, grudada, agarrada com as duas mãos e todos os dentes no corrimão. Não descia nem a poder de reza braba. E a fila aumentando. E a turma lá embaixo ( de pais, lógico! ) dando força.
- Desce meu bem, não tem perigo, você já desceu outras vezes, é uma delícia, vem, vem, vem!
Nada.
Antes que alguma criança perdesse a cabeça de vez e o pior acontecesse, vejo minha santa mãe, dar a volta, subir a longa escada, me pegar nos braços e descemos pela escada, grudadinhas, eu feliz por ter sido salva e, ela, nunca perguntei o que sentiu.
E não posso mais perguntar. Só hoje tenho curiosidade em saber, mas agora é tarde.
Aproveito e falo pra você, que tá lendo : se tem perguntas, dúvidas, questionamentos, declarações de amor, não importa o quê, a fazer, faça logo, antes que a turma caia fora e você fique aí com essa coisa entalada na goela.
Ô Iêda,
ResponderExcluirQuem é esse tio Vico de quem vc. nunca me falou. Eu também morria de medo daquele escorregador do parque (ficava ali pros lados do Imaco, entre uma pontezinha que foi aterrada e o chico nunes. Acho mesmo q tinha mais de um. Imenso!).
Vamos nos sentar pra conversar meu bem e te conto. Aliás, conto muito mais se você quiser...e mostro...hhheeeeee
ResponderExcluirbjins
AH! Vc é mt divertida,parece q ninguém fica bolado do seu lado. Até pq o jeito "escrachado",descontrai...
ResponderExcluirAgora, as suas histórias me parecem bem familiares, coisas de mineiro mesmo.
bjim
Maga, história de família sempre é a mesma. Só muda a maneira de contar....rs
ResponderExcluirbjos
essa ultima parte do conto deu um no tao grande na garganta.
ResponderExcluirsera que ainda tenho tempo pras milhares de perguntas ?
Ter tempo vc tem. Mas, por dúvida das vias, acelera, pedala, mande imeio, cartão, carta, telefone. Vá à luta!...rs.
ResponderExcluirbjins amigo
Amiga, adorei os causos. Muito bons. Vou te mandar um meu, que saiu no jornal da empresa. Você vai chorar de rir. Beijocas. Kátia
ResponderExcluirBrigadim meu bem. Tô no aguardo.
ResponderExcluirbjos