quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Supitando e abrindo estrada na Índia

Estamos nós voltando de Varanasi e, quando passamos por uma cidadezinha do interior, pela segunda vez, empacamos. 
Da primeira vez em junho, tava tendo um movimento pelo "não aumento do preço de combustível"; estradas fechadas por caminhões e ninguém passava. Demoramos muito mais do que o dobro do tempo em nosso trajeto.
Desta vez, era outro protesto e eu nem quis saber contra o quê. Meio dia, calor danado, duas crianças dentro do carro, depois de dois dias de viagem, enfim, vamos tentar manter a calma. 
Os homens saíram pra ver o que era e ficamos esperando no carro. 
Na estrada, caminhões fechando, muita fumaça por conta de pneus queimando e uma multidão de homens. Só homens.
Perguntei a um mané que passava, se tinha ideia de quando iriam abrir a estrada e ele falou convicto : - Às 7h. E eu : - 7 ??? 
Ele pegou no meu braço pra mostrar as horas e eu puxei dizendo:
- Eu sei o que é 7, só não vou é ficar aqui esse tempo todo.
A essa altura já era quase 1 h da tarde  (paramos ao meio dia).
O motorista ligou o ar condicionado e ficamos tentando relaxar e acho que até cochilei.
Quase 2 da tarde falei pro Anup:
- Tem um líder esse movimento?
- Tem
- E se você fosse lá falar com ele, que estamos exaustos, chegando de uma viagem com 2 crianças doentes, pessoa idosa, quem sabe ele não deixaria a gente passar.
Muito sem convicção, ele foi com o professor da escola e o motorista. Falei que ia também mas ele pediu pra esperar. 
Fiquei olhando de longe, o bolo tava há uns 40 m, e vi que eles não tavam falando com ninguém, só chegando junto.
Num rompante de nerva, talvez pelo calor e também pela raiva da imensa paciência que o povo indiano tem, quando se trata de receber ordens, marchei rumo ao centro do bolo e perguntei pro Anup:
- Quem é o líder?
- Aquele de verde (eles sempre usam verde...rs)
Tava no meio da multidão.
Não disse nada, só fui andando. E, como já presenciei aqui, qualquer atitude de alguém tipo "vim pra mandar prender e mandar soltar" faz o povo abrir caminho, e o caminho foi abrindo quiném Moisés no Mar Vermelho.
O moço tava de costas. Bati no ombro dele e disse:
- Posso falar com o senhor um instante?
- Sim
- Estamos vindo de Varanasi,  de um hospital, indo para Bodhgaia, com duas crianças doentes no carro, mãe e  avó das crianças, sem comida, sem água e gostaria que o senhor nos deixasse passar. Se o senhor quiser, pode vir até o carro e ver as crianças. Eu posso até ficar, não tem problema, mas as crianças não podem.
E ele me seguiu, quer dizer, seguiu por uns metros e mandou um outro mané, que falava inglês, ir comigo e a multidão foi abrindo caminho de novo pro Moisés. Abri a porta do carro e mostrei pra ele o povo. Ele olhou, olhou, falou um monte em hindi  e bateu com o bambu, que ele tava na mão, no povo, pra dar passagem de volta e voltou pra onde tava. Ah! Antes disso, mandou o Anup e o motorista entrarem no carro.
Dentro do carro escureceu, de tanta gente que tinha do lado de fora olhando pra nós. Pensei até em fazer uma foto, mas não tava com astral. Saco cheio !
Depois disso vieram mais uns dois, falaram, falaram e voltaram.
Perguntei o que rolava e o Anup disse que achava que ele não achou as crianças doentes. 
Ai eu fiquei puta ! Nessa hora, chegou um terceiro ou quarto "lider"e, antes que ele abrisse a boca, eu peguei o prontuário que o Dr. Sabodh havia anotado tudo sobre a Puja, e, mostrando pro Zé, falei:
 - Você sabe o que é isso aqui? Isso é um Hospital. 
Mostrei a foto. 
- Sabe o que é um Hospital? 
- Sei.
- É de onde estamos vindo. Se estas crianças não estão doentes, então eu não sei o que é estar doente neste país!
E fechei o vidro na cara dele.
Como num passe de mágica, ele gritou outro monte em hindi, os motoristas começaram a correr cada um pro seu carro e a arrancar e o Anup gritou:
- Deu certo, eles vão abrir a estrada.
E abriram mesmo, em cinco minutos já estávamos circulando livres e felizes num estrada sem ninguém, porque estávamos à uma distância de, pelo menos, 2  horas do último carro.
Só ouvi a última fala do mané quando passamos.
Ele perguntou pro Anup:
- De onde é essa mulher?
- Do Brasil!
- De oooonnnnde?
- Do Brasiiiiiiiiiiiiiilllllll!

E quem quiser que conte outra.

Estas são as únicas fotos que tenho deste momento. Fiz assim que paramos





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Estamos programando de iniciar os trabalhos no Ambulatório este mês ainda. Precisamos muito  da sua ajuda financeira.
Muito obrigada

6 comentários:


  1. Amiga!!!
    Amei!!!!
    Só sendo do Brasil mesmo pra' ter ataques assim huhuhuhu. Ainda bem q ouviram! Já pensou estar num país muçulmano? Ser mulher e reclamar???

    Tentei colocar um comnetário lá na página, mas... nã consigo, tem q se assinar e não sei mais que... TÔ fora, então... tenho q mandar mail mesmo e os demais não podem ler o q eu comentei huhhuu

    Beijins

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  2. Quérida é so vc clicar em "anonimo" que não precisa "fazer ficha" nenhuma...rs...bjos bjos bjos..c viu? Fogo morro acima, água morro abaixo e mulher quando quer passar, ninguem segura...rssssssssssss

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  3. Meu bem, super compreensível a reação da familia. Confesso que até eu que cresci numa cidade grande, agora que tô no mato, fico assustada em SP, juro ! Quiném caipira ! Deu uma corrigida rápida. Tô ainda sem meu óculos pra compu aí tá dificil ficar muito tempo aqui. Tô sempre ligada em você. beijos mar

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  4. Vc tá poderosa hein? O " povo lá de cima " tem conspirado a seu favor, merecidamente.Não se esqueça de agradecer-lhes pelas constantes ajudinhas. " Eles" sabem que vc é um bom caminho.felicidades, Patyy.

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  5. É o que mais faço Pat...agradecer...pedir, só tenho pedido grana pros amigos, pra continuar a trabalhar...rrrsssss...bjos bjos e brigadim meu bem

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  6. Eu sei Mar quérida...juntas e misturadas...bjos bjos

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